O português, o IILP e o sistema global das línguas – DN

Em 2001, na obra Words of World, Abram de Swaan propõe que o “sistema global das línguas” é parte integrante do “sistema mundial”, e que este, além da linguística, comporta uma dimensão política, uma económica e uma cultural. Propõe ainda que o sistema global das línguas se organiza em constelação, cujo centro é atualmente o inglês, língua hipercentral. Em torno do inglês gravitam 12 línguas supercentrais (alemão, árabe, chinês, espanhol, francês, hindi, japonês, malaio, português, russo e suaíli), de âmbito internacional, e todas, à exceção do suaíli, com mais de cem milhões de falantes cada. Em torno das línguas supercentrais, gravitam cerca de cem línguas centrais, em conjunto faladas por cerca de 95% da população mundial, que têm em comum o serem frequentemente “línguas nacionais” (“national languages”, segundo o autor), oficiais dos países ou regiões onde são faladas, de registo escrito, usadas na comunicação, na política, na administração, na justiça e no ensino. Finalmente, as línguas periféricas ou minoritárias, provavelmente mais de seis mil, constituem cerca de 98% das línguas existentes, mas são, em conjunto, faladas por cerca de 10% da população mundial, línguas de memória, com escassa tradição escrita. Para de Swaan, este sistema assenta no multilinguismo, i.e., grande parte da população mundial fala mais do que uma língua, pelo menos duas de “órbitas” diferentes. Os falantes de uma língua periférica usam em geral uma língua central, quando necessitam de comunicar com falantes de outra língua periférica; os falantes de línguas centrais diferentes recorrem a uma língua supercentral como veicular; e, por fim, o inglês é veicular para os falantes de línguas supercentrais diferentes. A veicularidade constitui-se, portanto, como importante mais-valia para as línguas.

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