Mês: Dezembro 2011

  • ALEXANDRE BANHOS “Os povos sem memória acabam sendo vegetais sem futuro”

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    “Os povos sem memória acabam sendo vegetais sem futuro”

     

    Intervenção de Alexandre Banhos na celebração em Montalegre dos aniversários do Gallaeciorum Regnum e de Afonso Henriques primeiro rei de Portugal

     

    Segunda, 19 Dezembro 2011 00:00
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    PGL – Os 1.600 anos do reino da Gallaecia e os 900 do nascimento de D. Afonso Henriques foram tema dedebate no Ecomuseu de Barroso – Espaço Padre Fontes que decorreu o passado 26 de novembro. Orlando Alves, vice presidente da Câmara Municipal de Montalegre, impulsor do ato, no que colaborava aFundaçom Meendinho, presidiu a cerimônia, acompanhado por Barroso da Fonte e Alexandre Banhos, oradores da noite.
    Orlando Alves, também vereador de Cultura, formalizou a abertura da palestra justificando o ato por não terem os portugueses “a verdadeira noção da importância [de] Portugal” e porque só o conhecimento das fraquezas do passado possibilita “transformá-las em forças” de futuro.
    1600 aniversário do nascimento do Gallaeciorum Regnum
    Alexandre Banhos falou do 1600 aniversário do nascimento do Gallaeciorum Regnum em Braga, “capital histórica da Gallaecia”, no ano de 411, ponderando os factos de ser o primeiro reino que se constituiu como tal dentro das fronteiras do Império Romano, de acunhar moeda e de chamar-se com o nome do povo que morava no território (Reino dos galaicos).
    Enquanto nos países da Europa se celebram solenemente os aniversários de acontecimentos de menor relevância relativa, na Galiza e Portugal não foi difundido como é devido um acontecimento que marcou o nascimento como pleno sujeito histórico da nacionalidade comum. O Banhos lembrou que “os povos sem memória acabam sendo vegetais sem futuro, e para os que o seu passado lá fica esvaído nas trevas”. E encorajou aos assistentes a “[combater] o mal da desmemória no nosso povo com a única cura de rememorar, um bocado de abelência social e esclarecimento”.
    O estabelecimento do reino suevo foi recebida pelos galaicos como uma bênção ”por os libertarem da escravidão das dívidas e do fisco imperial”. Na Galiza, os germanos “misturaram-se de seguida com o povo que os acolheu, adotaram a religião da maioria e deixaram a deles, integraram os galaico-romanos na suas empresas e governação, impulsionaram novos modos de governança.”
    Os concílios, a organização do território no Parrochiale Suevum ou Divisio Teodomiri, o latim proto-galaico que viria dar na língua portuguesa, o arco de ferradura e igrejas como as de Bande e Viseu, a estabilidade dos limites fronteiriços, a rica toponímia, a antroponímia até há bem pouco ainda dominante e algumas palavras emblemáticas do nosso léxico foram alguns dos contributos do Reino dos Galaicos à nossa história e à civilização europeia que repassou o palestrador galego.
    Após quase 200 anos de vida independente, o reino dos suevos seguiu condicionando a história da nação, pois “na Ibéria visigótica a Gallaecia foi sempre um reino distinto e inconfundível com a Espanha, que permaneceu e continuou distinto na sua governação”, como mostram os concílios e sua condição de principado autônomo dentro do reino visigodo. Essa primitiva articulação da nação, cuja antiga condição talvez obrigara aos romanos a reconhecerem uma província chamada Gallaecia séculos depois de sua incorporação ao Império, fez possível que a Galiza se safara da invasão e a dominação muçulmana: ”Salvou-se com um penhor, uma coima que não teve longa duração. As dioceses da Galiza, com a própria Braga, são as únicas dioceses peninsulares que tiveram continuidade no tempo e nunca ficaram vagas”. E conclui: “Frente ao muçulmano, é a Galiza, o poder que o vai enfrentar. Só a Galiza aparece nos textos muçulmanos e dos demais reinos cristãos da Europa, francos, lombardos, anglo-saxões, normandos… E essa Galiza era já verdadeiro Portugal.”
    9º centenário do nascimento de Afonso Henriques
    Barroso da Fonte, autor do livro Afonso Henriques 900 anos, a obra de mais pormenor nas circunstâncias do nascimento do reino de Portugal, que remonta ao nascimento no Porto no ano de 868 do condado Portucalense, falou do 9º centenário do nascimento do primeiro rei de Portugal em 1109, em Guimarães. O historiador transmontano assinalou os fatores e interesses que se desenvolveram nas elites no sul da Galiza, que era quem impulsionava a reconquista e os avanços para o sul, contrapostos com o norte.
    Com o Rei Garcia desaparece o condado Portucalense ao deslocar a cabeça primaz do reino delegada em Lugo à restaurada Braga, que passa a ser o centro e cabeça do reino como em direito histórico correspondia. Isso foi contestado pela nova e ambiciosa sede compostelana, que pronto moverá todo para submeter a Braga a sua dependência. Deposto o rei galego, em Braga não gostam da política imperial e desconsiderada da recém chegada Compostela e começa a dar-se uma conjunção de interesses entre o bispo de Braga, verdadeiro fator do processo que virá, e as classes dominantes locais.
    A divisão do reino da Galiza por Afonso VI entre Raimundo de Borgonha, esposo de sua primogênita Urraca, e Henrique de Borgonha, que desposou a Teresa, filha ilegítima, e com que se restaura o condado de Portucale; o controle por Gelmirez e os Traba do filho daqueles, Afonso Reimundes, proclamado rei em Compostela com oito anos; o Pio latrocínio das relíquias dos santos de Braga pelo bispo compostelano; a discreta consolidação da governação de Henrique; o nascimento de seu filho Afonso Henriquez; a residência em Guimarães, e a oposição, morto o pai, do menino Afonso, sob o auspício de Paio Mendes, o bispo de Braga, à política de sua mãe, aliada dos Trava; o exílio em Tui acompanhando ao bispo bracarense, que o armou cavaleiro; a coroação em Leão de Afonso Reimundes; a decisiva batalha de São Mamede, que consagra a autoridade de Afonso Henriques no território portucalense, são os momentos fundamentais cujo estudo apresenta o historiador português, e que concluem com as negociações do Bispo Paio junto da Santa Sé para alcançar a plena autonomia da Igreja de Braga e obter o reconhecimento do condado de Portucale como um reino.
    Troca de ideias
    Após das intervenções houve um longo e muito participativo debate em volta destas importantes referências históricas da Galiza e Portugal. Nele, Alexandre Banhos exprimiu a alegria que como galego sente por existir Portugal, e afirmou “que não acreditava em que se se mantiver o velho território unificado naquela altura, vier a existir algures a maravilha que foi, e é, Portugal, (ou Galiza) arredada de Castela”.
    O sucesso de Afonso Henríquez e da Gallaecia bracarense, verdadeiro cerne da velha nação, que deu lugar a Portugal, graças ao maravilhoso milagre da sua separação e nascimento como Estado diferenciado, fez que a velha Gallaecia continuasse no mundo, –pois sendo tal já era sempre verdadeiro Portugal-, e que a nossa língua e cultura seja um referente internacional.
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  • POEMAS À MINHA GALIZA LUSÓFONA

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    ao celebrar 40 anos de vida literária criei um capítulo GALIZÓFONA

    501 partir ii (a uma galiza lusófona)

    partir!
    cortar amarras
    como se ficar fosse já um naufrágio
    ficar
    como quem parte nunca
    partir
    como quem fica nas asas do tempo
    partir!
    cortar grilhetas
    como se viver fosse uma morte adiada
    vencer ameias
    cortar amarras
    velas ao vento
    olhar o mundo
    descobrir liberdades
    esta a mensagem
    levar o desespero
    ao limiar
    até erguer a voz
    sem medos
    até rasgar as pedras
    e o ventre úbere
    semear desencanto
    sorrir
    à grande utopia
    nascer
    de novo
    dar o salto
    transpor a fronteira
    entre o ter e o ser
    imaginar
    como só os loucos sabem
    e então chegaste
    com primaveras nos dedos
    e liberdade por nome
    loucas promessas insinuavas
    despontaste
    como quem acorda horizontes perdidos
    demos as mãos
    sabor de início do mundo
    pendão das palavras por dizer
    esta a revolução
    minha bandeira por desfraldar
    s. martinho do porto, setembro, 5, 1976/lomba da maia, açores fev 13, 2011

    525. Galiza como Hiroshima mon amour

    acordaste e ouviste o teu hino
    bandeira desfraldada ao vento
    ao intrépido som
    das armas de breogán
    amor da terra verde,
    da verde terra nossa,
    à nobre lusitânia
    os braços estende amigos,
    desperta do teu sono
    pega nos irmãos
    caminha pelas estradas
    ergue bem alto a tua voz
    diz a quem te ouvir quem és
    orgulhosa, vetusta e altiva
    indomada criatura
    nenhum poder te subjugará
    nenhum exército te conquistará
    nenhuma lei te amiquilará
    és a Galiza mon amour

    528. ah como eu gostava 16/11/2011

    portugal lembra o filho ingrato
    que sai de casa levando as malas
    cresce como um sem-abrigo
    vivendo de expedientes
    sujo, maltrapilho e destituído
    mas orgulhosamente só e independente
    altivo olha a galiza do tempo dos aguadeiros
    da pobreza, fome e sofrimento
    e sente-se superior
    não reconhece pai ou mãe
    nem partilha um cobertor
    comporta-se como assaltante
    aliado ao invasor
    esqueceu a história e perdeu os genes
    ah como eu gostava de ser galego

     

    530. pesadelo zoológico 3 dezembro 2011 à concha rousia

    s castelhano
    onhei estar num circo
    era um leão amestrado
    o domador espanhol
    senti-me galego
    eles não sabem
    que não há leões domados
    vivem anestesiados
    um dia acordam
    sem ronronar em castrapo
    vou esperar pelo chicote
    desobediente
    aguardo que ele erga a cadeira
    estreleje o látego
    e me mande falar
    aí direi ao castelhano
    já chega de circo
    o palhaço és tu.
    acordei e não vi bandeiras de castela

     

    531. lendas da minha galiza 11 dez 2011

    Galiza és tão especial
    quando sorris
    por que não sorris sempre?
    és tão bela
    quando ris com gargalhadas cristalinas
    por que não ris sempre?
    és tão amorosa
    quando falas e cicias
    por que não falas sempre?
    no meu quintal tenho um poço
    sempre cheio de palavras
    onde vou buscar inspiração
    é lá que busco amores
    como se fora o monte das Ánimas
    na era dos Templários
    quando os cervos eram livres e não havia lobos
    foi lá que aprendi a tua história
    depois de Ith filho de Breogán
    ir à Torre de Hércules
    divisar Eirin a Verde
    morto Ith, perdidas as Cassitérides
    aprisionados os Ártabros
    resta visitar Santo Andrés de Teixido
    duas vezes de morto
    que não o visitei uma de vivo
    e esta história queda silente
    nos livros e na memória dos velhos
    por que não a aprendem os nenos?
    agora que o rio Minho passa caladinho
    para não despertar os meninos
    hoje quando fui ao poço
    encontrei-o seco e mirrado
    sem um fio de água sequer
    não havia pardais nas árvores
    nem flores no jardim
    senti o coração trespassado
    as lágrimas secaram-me
    aºao trespassado Castelaer
    caladinho
    fincado no chão
    pios e polinia fadas ou sereias
    atopei umas Meigas
    a dançar com o Dianho
    foi então que o vi, o Chupacabras
    estandarte de Castela
    não mais haveria fadas ou sereias
    cronópios e polinópios
    vou juntar ferraduras, alho e sal
    colares de conchas e tesouras abertas
    esconjuro-vos ó meigas castelhanas
    que me salve o burro farinheiro
    vou ao banho santo em Lanzada (sansenxo)
    hei de te encontrar minha moura encantada
    não tenho medo de travessuras de Trasgos
    nem Marimanta ou Dama de Castro
    sem temor da Santa Companhatravessuras de Trasgos
    a
    a Santa Companha
    nem do Nubeiro vagueando
    entre tempestades e tormentas
    hei de te encontrar minha moura encantada
    e brotará áuga do meu poço
    escreverei os versos e serão mágicos
    erguerei a tua flâmula
    no poste mais alto e cantarei
    Galiza livre sempre

     

    532. genevieve 13 dez 2011

    genevieve era nome de mulher
    um restaurante japonês
    no meio de chinatown
    sorrisos largos e astutos
    mansos como o rio minho
    olhos profundos amendoados
    como o canon do sil
    prometia ribeiras sacras
    seios amplos acolhedores
    como as rias baixas
    genoveva da galiza
    amazonaom saudades de arousamazona
    s
    amazonaaa em sidney
    um pai na argentina
    uma mãe em paris
    com saudades de arousa
    promovia sushi com saké
    loucas bebedeiras em galego

     

    533. concha é nome de guerra 13 dezembro 2011

    para ti não há música nem dança
    apenas as artes marciais
    guerrilheira de montes e vales
    urdidora de emboscadas
    sob a copa das amplas árvores
    brandes teu gládio de palavras suaves
    não usas as falas do inimigo
    vingas a dor de seres galega
    a montanha que herdaste sozinha
    prenhada de mar na ilha dos nossos
    o povo desaparecido da Rousia aldeia
    esse recanto insuspeito ao virar da raia
    onde fui a férias em 2005 sem te saber
    eu que nasci galego do sul
    sendo galego de Celanova
    apartado de meus irmãos e irmãs
    séculos de história ao desbarato
    distavam mares que nunca navegámos
    montes que nunca escalámos
    estrelas que jamais enxergámos
    até um dia em que surgiste
    vestias azul e branco orlada a ouro
    estandarte do nosso reino
    ciciavas liberdades por atingir
    sonhos por realizar
    brandias a tua utopia
    numa mesma lusofonia

     

    536. elegia à AGLP 16 dez 2011
    viver numa ilha é prisão
    sair dela é impossível
    nem com a velocidade da chita
    nem com a força do elefante
    nem com o mergulho do cachalote
    de nada servem passaportes
    nem vistos consulares
    só água nos rodeia
    preciso saber nadar
    viver na Galiza é prisão
    sair dela é possível
    mas não elimina os carcereiros
    não abate as grades do cárcere
    não liberta do cativeiro
    mas nas árvores de NottinGaliza
    há sempre uma Concha dos Bosques
    ou um Ângelo Merlim
    um Joám Pequeno Evans Pim
    um frei Tuck Montero Santalha
    e seu bando de lusofalantes
    manejando o arco
    invencível besta da lusofonia
  • Onésimo Almeida na antologia bilingue

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    interessante texto sobre Onésimo de Almeida e a antologia bilingue de autores açorianos contemporâneos na sua apresentação na universidade do minho (Braga) dia 6 de dezembro

    http://www.lusofonias.eu/cat_view/91-iniciativas-e-apoios/58-apoios/115-antologias.html?view=docman

    Almedina-Braga, 6 de Dezembro de 2011
    Apresentação do livro Antologia Bilingue de Autores Açorianos Contemporâneos
    Onésimo e a questão da Literatura Açoriana
    Em vez de oferecer uma visão geral sobre esta Antologia Bilingue de Autores Açorianos Contemporâneos, optei por destacar um autor que nela figura: o Professor Onésimo Teotónio de Almeida. Confesso, desde já, o meu gosto pessoal pela prosa de Onésimo, pela sua limpidez, pelo seu humor (vd. “Que nome é esse, ó Nézimo?”, integralmente nesta antologia). Porém, a minha escolha, hoje, recai sobre um trecho não ficcional que extraí de A questão da literatura açoriana e que também consta da presente antologia:
    Embora haja quem suponha estéril o debate sobre a existência ou não de uma literatura açoriana, pessoalmente vejo nele uma riquíssima mina de elementos – dados, ideias perspetivas, conceitos, especulações, interpretações, explicações, análises – que refletem mundividências, posições teóricas sobre estética, pontos de vista sobre uma realidade humana num espaço geográfico específico (os Açores) de muitos dos melhores nomes das letras dos Açores. […] os textos de intervenção n[esse] debate […] representam a consciencialização teórica, uma explicitação de pontos de vista, intenções, demarcação e distanciamento de posições da parte exatamente de quem se tem preocupado por conjugar os Açores como tema, ou utilizá-los como espaço ou pano de fundo dentro do qual se move a realidade por eles criada ou recriada nos seus textos.
    Com certeza não será este o local, nem esta a hora, de debater a existência ou não da Literatura Açoriana. Questão apriorística, paradoxal, porquanto a sua formulação já expressa a identidade que está a questionar. Da mesma forma, esta antologia também não pretende dar nenhuma resposta a esta questão. Por outro lado, de maneira bem eloquente, a seleção de textos antologiados apresentam-nos as tais conjugações (a que Onésimo se referia) dos Açores como tema, as tais utilizações dos Açores como espaço ou pano de fundo, enfim, a tal realidade de formatação açoriana. Pode, então, o leitor conhecer, ainda que de forma fragmentária, os temas, os motivos, as histórias, as particularidades da língua e os demais recursos retórico-literários que fornecem os argumentos àqueles que defendem a existência de uma Literatura Açoriana. Claro que não se dispensa a leitura integral das obras — De resto, uma antologia é sempre um convite à procura da obra integral – e só assim se poderá formular uma opinião informada. Pela minha parte, reconheço obras que falam da experiência humana. Sem dúvida, obras que resultam de vivências próprias e estilos pessoais. Mas obras que espelham o mundo, os homens e as mulheres que nele vivem. Utilizando palavras de Claudio Guillén obras “entre o Uno e o Diverso”.
    A presente antologia acentua a universalidade das obras antologiadas. Promove-as e facilita que elas cumpram um propósito supranacional, de certa forma, enunciado por Goethe quando anunciava a chegada de uma Weltliteratur: cada literatura local tem um papel a desempenhar na grande sinfonia da Literatura Mundial. E, não abandonando a metáfora, esta antologia desempenha este papel a dois instrumentos: a Língua Portuguesa e a Língua Inglesa.
    Diz Onésimo no fim do mesmo artigo que “quem lucrará com isso [o reconhecimento da Literatura Açoriana] será a Literatura Portuguesa. Ficará menos monocórdica. E monótona.”. Depois desta antologia bilingue, independentemente de reconhecermos ou não a existência de uma Literatura Açoriana, quem lucra é a Literatura do Mundo: fica ainda mais polifónica e acessível a um maior número de leitores.
    João Peixe
    Doutorando da Fundação para a Ciência e Tecnologia
    Centro de Estudos Humanísticos
    Instituto de Letras e Ciências Humanas
    Universidade do Minho
  • O valor económico da língua portuguesa pode ser potenciado

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    O valor económico da língua portuguesa pode ser potenciado

     

    A Língua Portuguesa é um património muito acima da sua actual valorização (José Paulo Esperança). É fundamental que Portugal aposte, economicamente, nos países lusófonos (Sousa de Macedo).

    09-12-2011

    «O Valor Económico da Língua Portuguesa» foi o tema de uma conferência organizada pelo Observatório da Língua Portuguesa e que teve como conferencistas o professor universitário José Paulo Esperança e o ex-secretário de Estado das Comunidades Luís Sousa de Macedo. E se para o docente a Língua Portuguesa é um património muito acima da sua actual valorização, para Sousa de Macedo é fundamental que Portugal aposte, economicamente, nos países lusófonos. “Uma língua é tanto mais valiosa quanto mais parceiros de utilização tiver, porque quanto mais pessoas a conhecerem, maior será esse valor”, lembrou o professor José Paulo Esperança, na abertura da conferência, realizada no passado dia 29 de Novembro, na Fundação Cidade de Lisboa.
    Falada actualmente por mais de 240 milhões de pessoas em todo o mundo – 3,7 por cento da população mundial – a língua portuguesa representa, em termos económicos 4 por cento do valor mundial, sublinhou o professor José Paulo Esperança.
    O docente universitário – que integrou a equipa que realizou o estudo «O Valor Económico da Língua Portuguesa», encomendado pelo Instituto Camões (IC) e desenvolvido por 10 investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) – defendeu que “a proximidade linguística é um fator importante” nas relações económicas de Portugal, já que “países com uma língua comum têm maior facilidade em fazer negócios”.
    Apesar de apenas 6 por cento das exportações nacionais se destinarem a países de expressão portuguesa, o saldo comercial é favorável, já que Portugal importa desses mesmos países, apenas 3 por cento do total do volume de importações, referiu José Paulo Esperança.
    O professor afirmou ainda haver um aumento do interesse na língua falada por oito países – Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor Leste – dando como exemplo a sua presença ma internet. Segundo o Barômetro Calvet das línguas no mundo, é de 34,4509 o índice de penetração da língua portuguesa na Internet (dados de Novembro de 2009). O português é já o oitavo idioma em número de artigos divulgados na Wikipédia e ocupa o 15º lugar no índice «traduções de língua de origem». “Num período de dez anos, o português foi a língua que mais cresceu em termos de acesso na internet”, afirmou o docente.
    José Paulo Esperança revelou ainda que a sua procura como língua estrangeira está a crescer exponencialmente em países de língua espanhola “como a Argentina e o Uruguai” onde, acrescentou “já é um idioma mais procurado do que o inglês”.
    Mesmo assim, o investigador defende que é importante a definição de estratégias para a sua dinamização. “O Português é um património superior à sua atual valorização”, defendeu, acrescentando que este valor abaixo das potencialidades da língua ocorre “muito por uma inércia e indefinição tanto a nível de entidades públicas como privadas”.
    “A língua promove relações e o seu valor para as empresas e para os países pode ser potenciado, já que o estudo («O Valor Económico da Língua Portuguesa») revelou que as indústrias e os serviços em que ela é um elemento chave, representam 17 por cento do Produto Interno Bruto de Portugal”, alertou.
    Já Luis Sousa de Macedo recordou que a língua portuguesa é o veículo de comunicação de milhões de lusófonos na diáspora, com destaque para os 4,5 milhões de portugueses e luso-descendentes. Nesse sentido, foi ainda mais longe ao afirmar que “já que língua e cultura são factores de aproximação”, falar português “é tão importante” que as empresas portuguesas elegeram como mercados fundamentais “a África lusófona e o Brasil”.
    “Neste momento de crise económica, é crucial apostar nos países onde ao longo de séculos criamos uma ligação de proximidade, com destaque para o Brasil e Angola”, defendeu o ex-secretário de Estado das Comunidades e actual administrador da Fundação PT.
    Inserida no 1º Ciclo de Conferências do Observatório da Língua Portuguesa – que teve como temáticas anteriores «Que Política para a Língua Portuguesa?» e «A Internacionalização da Língua Portuguesa» – a palestra reuniu vários estudiosos da língua portuguesa. As três conferências tiveram por objetivo ser um espaço de reflexão e debate de ideias sobre questões relevantes da língua de Camões e ainda motivar a sociedade civil para a importância da II Conferência Internacional sobre Língua Portuguesa no Sistema Mundial que será realizada em Portugal no próximo ano.
    17 por cento do PIB de Portugal

    O estudo «O Valor Económico da Língua Portuguesa», focado na realidade portuguesa, avaliou o impacto da proximidade linguística em quatro dimensões: comércio externo, investimento directo estrangeiro em Portugal, fluxos de turismo e fluxos migratórios. Os dados iniciais permitiram perceber que as indústrias e os serviços em que a língua portuguesa é um elemento chave, representam 17 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal.
    Encomendado pelo Instituto Camões (IC) em Setembro de 2007, e desenvolvido por uma equipa de investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), o estudo confirmou o elevado peso da proximidade linguística nas relações de Portugal com o exterior. “O papel da língua é um facilitador significativo nas dimensões de intercâmbio analisadas”, lê-se nas conclusões do estudo que apontam a área das migrações e a do Investimento Directo de Portugal no Estrangeiro (IDPE) como aquelas onde neste momento, a língua portuguesa tem mais peso.
    Nesta área, revelou que Brasil e Angola representaram “19 por cento do total da saída de investimento directo a partir de Portugal, no período de 1996-2007”. No mesmo período, embora menos significativa, “também à entrada se verifica um peso superior ao «natural» do investimento directo oriundo principalmente do Brasil e de Angola, representando 13% do total”, refere o documento.
    Idioma oficial em oito países, o português é uma das seis línguas mais faladas no mundo.
    Ana Grácio Pinto