Uma descendente de açorianos na família imperial brasileira

Uma descendente de açorianos na família imperial brasileira

Apesar de pouco visualizados, os Açores contribuíram com gente na colonização de terras conquistada por Portugal, de forma sempre constante, em todas as épocas da sua história. No Brasil, com exceção do sul do país, onde a colonização ilhoa foi marcante, a presença açoriana se apresentou de uma forma diluída, mas frequente na base da formação das famílias brasileiras.

Em leitura recente, no livro de Genealogia das Quatro Ilhas (Pico-Faial-Flores e Corvo – Vol. II) encontrei um fato interessante que veio corroborar esta evidencia. Na família Imperial Brasileira há uma Senhora que tem raízes familiares no Arquipélago açoriano. Chama-se Maritza Ribas Bokel.

D. Maritza Ribas Bokel nasceu no Rio de Janeiro a 29/04/61. É paisagista e casada com D. Alberto Maria José João Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orleans e Bragança e Wittels Bach (Jundiaí do Sul, PR – 23/06/1957) nascido Príncipe do Brasil, e que renunciou aos eventuais direitos ao trono Imperial, assim como a sua descendência.

É filha de.

D. Marisa Bulcão Ribas (RJ, 28/08/1930) e de Jaddo Barbosa Bokel (Campinas SP). É filha de

D. Guilhermina Cavalcanti Bulcão (RJ) casada com José da Rocha Ribas (RJ). Poetisa. Filha de

Joaquim Inácio de Siqueira Bulcão (Cachoeira BA, n. 1852) Médico, vice-almirante, e de D. Maria José Cavalcanti Lins.

É filho de

Joaquim Inácio de Siqueira Bulcão (S. Francisco- BA, n.1830) fidalgo da Casa Imperial e de D. Inácia Calmon Du Pin e Almeida (f em Vila da Cachoeira, BA em 1892). Filho de

José Araújo de Aragão Bulcão (n em 1795, e f em 1865, Salvador, BA), Segundo barão de São Francisco e de D. Ana Rita Cavalcanti e Albuquerque (f em Salvador em 1869). Filho de

Joaquim Inácio Siqueira Bulcão (n. em 1768, S. Francisco, BA, e falecido em Salvador em 1829) Primeiro Barão de São Francisco e de D. Joaquina de Maurícia de São Miguel e Aragão (n. São Francisco, BA em 1773 e f. 1862). Filho de

Baltazar da Costa Bulcão (n. em N. Senhora do Monte do Recôncavo, BA em 1721 e f. após 1763) Capitão-mor e de D. Maria Joana de Jesus e Aragão ). Filho de

José da Costa Bulcão (n. em N. Sra do Monte do Recôncavo, BA e f. em 1776 em Salvador, BA) Senhor de Engenhos e de D. Maria de Souza de Aragão (n. e f. na BA). Filho de

Baltazar da Costa Bulcão (n. em N. Sra do Monte do Recôncavo, BA e falecido a 1718) Senhor de engenhos de Açúcar e Capitão de Ordenanças e de D. Maria de Gões Mendonça (n. BA). Filho de

Gaspar de Faria Bulcão (n. em Castelo Branco, Faial e f. na Fazenda Água Boa, BA, Brasil em 21/03/ 1690) e de Guiomar da Costa (f. na Fazenda Água Boa, BA em 11/01/ 1690). Filho de

Sebastião de Faria Bulcão (Faial) e de Maria de Ávila (Faial). Filho de

Sebastião Dutra de Faria Bulcão (f. a 1650- Faial)) e de Madalena Dutra (f. 1645- Faial)). Filho de

Gaspar de Faria (n. no terceiro quartel do século XVI e falecido com testamento de mão comum de 9/01/1620, Faial) e de Violante de Utra.

Nota: Gaspar de Faria- desconhecemos no Faial a sua ascendência. Supõe-se ser do Continente. Era casado com Violante d’Utra ( Faial).

Violante d`Utra (Faial, m. a 27/08/1645) era filha do fidalgo flamengo Gaspar Gonçalves Bulcão que fez assento no Faial (desconhecendo-se a sua ascendência) e de outa Violante d’ Utra ( Faial)

Violante d’Utra ( Faial) era filha de Antonio Utra Nunes e Francisca Gaspar Machado.

Antonio Utra Nunes era filho de Nuno Fernandes e de Jorgina d’Utra, irmã do primeiro donatário da Ilha do Faial, Jorge d’Utra (Joss Van Hurtere) e filha de Leo Van Hurtere, senhor do senhorio feudal da Aghebrone (Haeghebrouc), flamengos de Bruges.

Maria Eduarda Fagundes

Uberaba, 31/07/2012

Referencia bibliográfica:

Famílias Faialenses (Marcelino Lima)

Genealogia das Quatro Ilhas (Faial-Pico-Flores. Corvo).

Jorge Forjaz e Antonio Ornelas Mendes (2012)

 

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OS PROFESSORES POR JOSÉ LUÍS PEIXOTO (2011)

Os professores, por José Luís Peixoto

Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios, contra o nosso futuro. Resistindo, os professores, pela sua prática, são os guardiões da esperança.
ARTIGO | 15 OUTUBRO, 2011 – 00:17

Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios - José Luís Peixotohttp://www.esquerda.net/artigo/os-professores-por-jos%C3%A9-lu%C3%ADs-peixoto

Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios – José Luís Peixoto

O mundo não nasceu connosco. Essa ligeira ilusão é mais um sinal da imperfeição que nos cobre os sentidos. Chegámos num dia que não recordamos, mas que celebramos anualmente; depois, pouco a pouco, a neblina foi-se desfazendo nos objectos até que, por fim, conseguimos reconhecer-nos ao espelho. Nessa idade, não sabíamos o suficiente para percebermos que não sabíamos nada. Foi então que chegaram os professores. Traziam todo o conhecimento do mundo que nos antecedeu. Lançaram-se na tarefa de nos actualizar com o presente da nossa espécie e da nossa civilização. Essa tarefa, sabemo-lo hoje, é infinita.

O material que é trabalhado pelos professores não pode ser quantificado. Não há números ou casas decimais com suficiente precisão para medi-lo. A falta de quantificação não é culpa dos assuntos inquantificáveis, é culpa do nosso desejo de quantificar tudo. Os professores não vendem o material que trabalham, oferecem-no. Nós, com o tempo, com os anos, com a distância entre nós e nós, somos levados a acreditar que aquilo que os professores nos deram nos pertenceu desde sempre. Mais do que acharmos que esse material é nosso, achamos que nós próprios somos esse material. Por ironia ou capricho, é nesse momento que o trabalho dos professores se efectiva. O trabalho dos professores é a generosidade.

Basta um esforço mínimo da memória, basta um plim pequenino de gratidão para nos apercebermos do quanto devemos aos professores. Devemos-lhes muito daquilo que somos, devemos-lhes muito de tudo. Há algo de definitivo e eterno nessa missão, nesse verbo que é transmitido de geração em geração, ensinado. Com as suas pastas de professores, os seus blazers, os seus Ford Fiesta com cadeirinha para os filhos no banco de trás, os professores de hoje são iguais de ontem. O acto que praticam é igual ao que foi exercido por outros professores, com outros penteados, que existiram há séculos ou há décadas. O conhecimento que enche as páginas dos manuais aumentou e mudou, mas a essência daquilo que os professores fazem mantém-se. Essência, essa palavra que os professores recordam ciclicamente, essa mesma palavra que tendemos a esquecer.

Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios, contra o nosso futuro. Resistindo, os professores, pela sua prática, são os guardiões da esperança. Vemo-los a dar forma e sentido à esperança de crianças e de jovens, aceitamos essa evidência, mas falhamos perceber que são também eles que mantêm viva a esperança de que todos necessitamos para existir, para respirar, para estarmos vivos. Ai da sociedade que perdeu a esperança. Quem não tem esperança não está vivo. Mesmo que ainda respire, já morreu.

Envergonhem-se aqueles que dizem ter perdido a esperança. Envergonhem-se aqueles que dizem que não vale a pena lutar. Quando as dificuldades são maiores é quando o esforço para ultrapassá-las deve ser mais intenso. Sabemos que estamos aqui, o sangue atravessa-nos o corpo. Nascemos num dia em que quase nos pareceu ter nascido o mundo inteiro. Temos a graça de uma voz, podemos usá-la para exprimir todo o entendimento do que significa estar aqui, nesta posição. Em anos de aulas teóricas, aulas práticas, no laboratório, no ginásio, em visitas de estudo, sumários escritos no quadro no início da aula, os professores ensinaram-nos que existe vida para lá das certezas rígidas, opacas, que nos queiram apresentar. Se desligarmos a televisão por um instante, chegaremos facilmente à conclusão que, como nas aulas de matemática ou de filosofia, não há problemas que disponham de uma única solução. Da mesma maneira, não há fatalidades que não possam ser questionadas. É ao fazê-lo que se pensa e se encontra soluções.

Recusar a educação é recusar o desenvolvimento.

Se nos conseguirem convencer a desistir de deixar um mundo melhor do que aquele que encontrámos, o erro não será tanto daqueles que forem capazes de nos roubar uma aspiração tão fundamental, o erro primeiro será nosso por termos deixado que nos roubem a capacidade de sonhar, a ambição, metade da humanidade que recebemos dos nossos pais e dos nossos avós. Mas espero que não, acredito que não, não esquecemos a lição que aprendemos e que continuamos a aprender todos os dias com os professores. Tenho esperança.

Artigo de José Luís Peixoto, publicado na revista Visão de 13 de Outubro de 2011

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Comentários

Por: luisa lemos 20 Julho, 2012 – 20:23

Obrigada mais uma vez José Luís. Cada texto que escreve sobre a minha profissão/ vocação enche-me de prazer e orgulho. Todos os maus tratos passam para segundo plano quando alguém “ergue a voz” para mostrar ao mundo que nos rodeia a forma como nos sentimos e a razão de termos escolhido esta profissão há alguns (muitos)anos. É sempre um prazer ler as suas crónicas. Por favor não deixe de o fazer em nenhuma circunstância.

Por: Maria Olímpia L.B. Alves 29 Outubro, 2011 – 20:06

José Luís Peixoto,

Muito fora do comum este seu artigo!!
Deve ser um homem raro, de uma sensibilidade extrema e muito lúcido.
É gratificante lê-lo.
Agradeço a clareza e a destreza da escrita.

Sempre pensei que não ensinava nada… limitava-me a mostrar caminhos ou modos de ver.

Sendo como é, seguiu os caminhos que escolheu e foi bem sucedido.

Obrigada,

Por: Rita 21 Outubro, 2011 – 17:57

Obrigada José Luís Peixoto!!! Com estas palavras sinto-me reconfortada , consigo esquecer-me dos males que senti nos final dos 40 anos que trabalhei, como docente. Fui PROFESSORA! Infelizmente tive de abandonar e não por culpa dos alunos. Esses, passados tantos anos, continuam a sentir a mesma amizade que partilhámos na sala, reconhecem a importância que para eles tive. Somos colegas/amigos ou simplements amigos. Infelizmente colegas há que não atingem o verdadeiro sentido da sua missão… esses sim conduzem o ensino/ professor ao estado actual.

Por: José Cadeco 19 Outubro, 2011 – 23:02

Obrigado

Por: Paula Oliveira 18 Outubro, 2011 – 23:22

Parabéns pelo seu artigo!
Como dizia o autor,

“Há palavras que nos beijam
(…)
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,”
(…)

Por: marisa luz 16 Outubro, 2011 – 15:56

este artigo…foi musica para os meus ouvidos…bem haja

Por: Isabel Raminhos 16 Outubro, 2011 – 15:44

Obrigada José Luís Peixoto pelas palavras que dedicou aos professores, numa altura em que estes têm sido tratados com tanta injustiça e tanta ingratidão. Também eu sou professora há vinte e oito anos, profissão à qual me dediquei inteiramente, acreditando que podia contribuir para a criação de uma sociedade mais justa e mais fraterna, onde cada cidadão valha como a pessoa que é e não como um simples número numa qualquer contagem estatística. Porém, aquilo a que tenho assistido é a um ataque sem limites à figura do professor, ao seu trabalho e à sua dedicação. Por isso a desilusão é grande. Ainda bem que “mesmo na noite mais triste, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”. Bem haja.

Por: Filomena Amorim 15 Outubro, 2011 – 22:35

Parabéns, José Luís Peixoto, pelo seu artigo. Muito obrigada.
Filomena Amorim

Por: Margarida 15 Outubro, 2011 – 20:20

Parabéns e obrigada ao autor deste artigo, José Luís Peixoto! Agradeço não só porque sou professora neste país, hoje, aqui e desde há trinta e tal anos… mas também porque é verdadeiramente quando estou no desempenho daquilo que entendo que é a minha verdadeira missão, que consigo esquecer-me dos “males” do mundo e do meu, agora, pobre país! E neste texto consigo sentir-me gratificada, tanto quanto quando encontro e revejo antigos alunos, ou melhor dizendo, me encontram, os jovens que me “passaram pelas mãos” e que fazem questão de fazer o favor de me lembrar que um dia fui alguém nas suas vidas!
Bem haja!
Margarida

DIAS DE MELO

  • Nuno Gomes dos Santos
Recordar Dias de Melo em Abril

«Além de tudo, com a idade que tenho, importa que, entretanto, não me bata à porta o momento final». Escreveu isto o Dias de Melo, numa carta que me enviou, no dia 1 de Junho de 2006. Porém, o momento final chegou, dois anos depois de ter começado essa carta, respondendo à minha de pouco tempo antes, e que começava assim: «é sempre um consolo, no isolamento em que vivo, receber notícias de um amigo». Antes, a 26 de Novembro de 2005, escrevia-me: «parece que toda a tristeza do mundo caiu em cima de mim. A minha estrada está quase no seu termo». Nascido no dia 8 de Abril de 1925, na Calheta de Nesquim, ilha do Pico, Açores, Dias de Melo viveu os seus últimos anos numa azáfama de escrita, numa luta pela publicação dos seus livros, cada vez mais difícil dada a política editorial que em Portugal se implantou, de memória curta e de olho no lucro, sem grandes critérios de qualidade (as excepções confirmam a regra), e com pouca gente a dar-lhe o «consolo» que, por muitas razões, merecia mais do que tinha: poucos amigos, alguns familiares dedicados, muitas costas injusta e desumanamente voltadas. Foi, na opinião que sobre ele tinha Natália Correia, «o mais honesto escritor português». Escreveu poesia, foi cronista (no Diário de Lisboa, onde assinou textos numa coluna intitulada «Gente e paisagem» e fez amizade grande com Fernando Assis Pacheco), etnógrafo e, mais que tudo, romancista. Cito, apenas, alguns títulos: «Mar Rubro», «Pedras Negras», «Vinde e Vede», «Cidade Cinzenta», «Na Noite Silenciosa», saudados, em tempos, pela crítica intramuros e de fora parte, sendo traduzido em várias línguas, japonês incluído. Foi professor («recebi ontem a sua carta. Veio acordar em mim tanta lembrança e um pouco de saudade dos meus tempos de professor, embora o fosse sem qualquer vocação, que a minha era o mar», 12 de Janeiro de 2007). O mar. Aos 12 anos escreveu um texto intitulado «Desastre no Canal», que deu origem, mais tarde, ao romance «Mar Pela Proa». O título inicial foi modificado para se não dizer que o escritor ia a reboque de Nemésio e do seu «Mau Tempo no Canal». Desse canal e desse mau tempo sabia o Dias de Melo, baleeiro que foi e que sobre baleeiros escreveu, muito e bem. Homem preocupado e empenhado nas questões sociais («o negócio do livro está mau. Com a crise que aí vai, tomara as pessoas ainda poderem comprar coisa que mastigar», carta de 8 de Janeiro de 2006), Dias de Melo sempre se afirmou contra a ditadura e, até ao fim dos seus dias, pronunciou-se a favor de uma maior igualdade social, mantendo uma actividade política participativa. Tinha, com a sua idade e o seu passado, muitas estórias para contar. E contava-as com prazer e sabedoria. Como esta, por exemplo, sobre Vitorino Nemésio:«Nemésio, pelo menos no liceu, tinha grande embirração com a Matemática. Na Terceira, foi umas quantas vezes a exame e nunca conseguiu passar. Foi então ao Faial e saiu-lhe a sorte grande: teve por professor de Matemática o senhor Florêncio Terra, notável escritor, embora pouco conhecido, e homem bom. No fim do ano, no conselho das notas, ao chegar ao Vitorino Nemésio, diz para os colegas: Este aluno não merece passar. Mas vou dar-lhe o 10. O que ele vai ser é um notável escritor e não serei eu a cortar-lhe as pernash» (carta datada de 21 de Novembro de 2006). De Dias de Melo poder-se-ia escrever muito e muito mais. Creio que, também, perguntando coisas ao Fernando Tordo, um seu grande amigo dos tempos do «exílio» do grande cantautor no Faial, ali a duas braçadas do Pico, ilhas de olhos nos olhos bem captadas pela câmara de José Medeiros no documentário «Toadas do Mar e da Terra – Uma Viagem ao Universo do Escritor Dias de Melo». Por mim, vou relendo a obra do «mais honesto escritor português» e as suas cartas, que começavam, inevitavelmente, assim: «caríssimo Nuno Gomes dos Santos».

 

ps Dias de Melo esteve em 2008 no colóquio da lusofonia da Lagoa quando o começamos a revelar e faleceu passado uns meses em setembro desse ano…leia o caderno de estudos açorianos e o suplemento a ele dedicado https://www.lusofonias.net/acorianidade/cadernos-acorianos-suplementos.html#

 

O galego, a orquídea da língua portuguesa

 

Diego Bernal

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O galego, a orquídea da língua portuguesa

Diego BernalPublicado em Domingo, 10 Junho 2012 17:05
“Eu sou filho dumha Pátria desconhecida”, deste jeito exprime Castelao, no segundo livro de Sempre em Galiza, a orfandade que magoa galegos e galegas quando, no estrangeiro, nos perguntam pola nossa origem.

Pessoa, num formoso verso, grudou pátria e língua poetizando como ninguém o amor que muitos habitantes da Galiza sentimos polo idioma de Camões e Rosália de Castro, “a minha pátria é a língua portuguesa”.
E, com certeza, o poeta luso deu no alvo porque quando mais abalados ficamos os galegos e galegas é ao comprovarmos que os nossos parceiros de idioma ignoram a unidade lingüística galego-portuguesa.
Numha recente entrevista, o comunista Miguel Urbano Rodrigues lembrava como José Velo Mosqueira, celanovês participante da afouta tomada por antifascistas luso-galaicos do navio Santa Maria, ficou comovido no Brasil ao ver todo escrito em língua galega.
Essa maravilhosa sensaçom que tantos de nós temos experimentado ao chegar a Portugal ou ao Brasil logo some ao reparar que o que é evidência para nós nom o é para portugueses e brasileiros.
Mas se galego e português som a mesma língua, por que o povo brasileiro e português nom reconhece as falas galegas como parte do seu idioma?
Para entendermos isto é preciso vasculhar outras realidades lingüísticas.
Numha aula de língua galega que dei na Universidade de São Paulo, mostrando a diversidade linguística peninsular, fiquei espantado ao ver que alguns alunos identificavam a língua basca e catalá com a castelhana.
De outro lado, quem ouvir falar cidadaos de Baiona ou Perpinhá nestes idiomas perceberá como quem nom tiver nengumha noçom de francês os associará com a língua francesa.
No Brasil é comum que falantes de brasileiro identifiquem o galego com espanhol e, ao mesmo tempo, falantes de espanhol o confundam com português.
No entanto, ainda que menos habitual, isto pode acontecer mesmo com outras variedades do nosso idioma.
O professor da Universidade Federal Fluminense, o corunhês Xoán Carlos Lagares, contou-me como uma pesquisadora lisboeta no Brasil, ao requerer o acesso a um arquivo militar, nom foi identificada polo praça como falante de português e o soldado perguntou ao seu superior se umha mulher que devia ser estrangeira porque falava um português “errado” podia consultar o acervo.
A que se devem estas confusons?
As línguas som um conjunto de falas coesionadas por um padrom impulsionado por umha elite. Toda língua padrom é umha construçom artificial que responde aos interesses de umha classe social.
O português padrom, como o espanhol ou o de qualquer língua, é um “invento” construído ao longo da história.
Na escrita, portugueses e brasileiros identificam sem hesitaçom o seu idioma como um só. Porém, na oralidade, ao existirem milhares de falares diferentes, nom sempre um falante identifica todos eles com o seu idioma.
Isto acontece porque os meios de comunicaçom silenciam muitas das variedades e empobrecem a língua portuguesa reduzindo as suas possibilidades de pronúncia.
A múltipla diversidade dá lugar, aliás, à inevitável tensom, maior ou menor, que todas as línguas tenhem entre fala e escrita.
No Brasil as falas cariocas e paulistanas e em Portugal as lisboetas chegam a todos os lares através da televisom, a rádio e a internet.
Porém, quantas vezes umha mineira ouve umha portuguesa de Chaves, umha galega de Burela ou umha indiana de Goa?
Mas as falas galegas, para além de estarem isoladas do resto da lusofonia padecem umha forte pressom do espanhol.
A delicada situaçom que atravessa o português da Galiza deve-se a que desde o século XV sofre um processo de marginalizaçom que derivou no conflito lingüístico atual em que o castelhano está a se impor ao norte do Minho.
O galego, entendido como as falas lusófonas faladas na Galiza, é umha variedade da língua portuguesa que como toda língua num contexto de conflito lingüístico sobrevive sob a coaçom da língua teito. A língua galega é, portanto, de um ponto de vista estritamente lingüístico, umha variedade de português enfraquecida polo espanhol.
É a vontade coletiva demonstrada na história polo povo galego de revitalizar o idioma o que fai que as falas galegas nom sejam umha variedade de “fronteira”, um portunhol ou um castrapo. Eis a recuperaçom de léxico histórico (Deus, povo, século), de sufixos (-vel) ou a luita que desde o primeiro terço do século XX trava o nosso povo pola recuperaçom de usos da língua autóctone em contextos de que tinha sido banida polo espanhol.
A estabilidade das formas lusitana e brasileira do idioma galego contrasta com a descaracterizaçom da variedade galega. Esta deturpaçom também afeta, como é lógico, à prosódia da língua.
O desconhecimento das variedades do português e a situaçom de conflito lingüístico em que se acham as falas galegas é o que explica disparatadas atitudes como quando os portugueses tentam falar castelhano a galego-falantes. Atitudes que, pedagogicamente, devemos tentar corrigir reivindicando o reconhecimento da nossa peculiar forma de falar como parte da língua portuguesa.
Identificar o galego com o português é vital para reverter a perda de falantes. As falas galegas, como as orquídeas, precisam dessa rija árvore -a língua portuguesa- para florescer e continuar a enfeitar a viçosa fraga da diversidade lingüística planetária, para alegrar e enriquecer, com as cores do seu sotaque, a língua de Portugal e do Brasil que, nunca o esqueçamos, foi falada antes na Corunha do que em Lisboa e Brasília.

Pepetela ladrões honestos

“Ainda há ladrões honrados”, por Pepetela

Redação revista África21
05/07/2012 09:14
“É pena que certos banqueiros, especuladores de agências de ratos, e outros ladrões de casaca e lacinho preto, não sejam apanhados da mesma maneira”

Brasília – “É pena que certos banqueiros, especuladores de agências de ratos, e outros ladrões de casaca e lacinho preto, não sejam apanhados da mesma maneira”

Quando uma pessoa ouve ou lê uma boa estória, fica com saudades de um tempo que talvez nunca tenha existido. Por exemplo, o tempo dos ladrões honestos, género Robin dos Bosques ou Ali Babá. Os tais que só roubavam os grandes ladrões. Infelizmente, na realidade, deparamo-nos sobretudo com os grandes ladrões que não são castigados, nem sequer pelos pequenos lhes aliviando um pouco o bolso. É mesmo de acreditar na ausência da justiça.

De repente, no entanto, surge uma notícia e lá voltamos nós a ter esperança, talvez a Humanidade não esteja perdida definitivamente para os liberalismos de nome, os tais que enriquecem os ricos e mais empobrecem os pobres, o tal liberalismo que só autoriza os grandes latrocínios, tão grandes que até mudam de designação e se tornam respeitáveis. O capitalismo que estamos com ele.

Mas vamos lá acender a réstia de esperança. Num desses países avançados do Sul, Austrália ou Nova Zelândia, um larápio roubou a carteira e um telemóvel de um cidadão. Ao analisar os resultados da bem sucedida operação, descobriu no telemóvel furtado fotografias de pornografia infantil. O gatuno entrou numa daquelas situações de encruzilhada, como os grandes caminhantes dos nossos matos. Que faço eu, vou pela direita, pela esquerda, sigo em frente? Porque tinha descoberto um criminoso maior que ele próprio.

Embora fosse reincidente, com vários julgamentos e mesmo prisão por ladroagem, se considerava pessoa de princípios, talvez (não pude confirmar) até de formação religiosa. Em época de crise, mesmo em país rico, há alguns que têm de recorrer a métodos menos corretos para se manterem vivos. Esta seria a sua justificativa para as aventuras mais ou menos perigosas em que incorria. Nada comparáveis a um miserável que abusa de crianças e ainda pode ganhar dinheiro com isso, vendendo vídeos ou fotos a outros tão malucos como ele (os doidos que me desculpem a força de expressão, mas este tipo de gente não é só «perturbada mental», é maluca mesmo, maluca furiosa).

Leia versão integral na edição impressa da revista África21 (N.º 65, JULHO 2012). Para assinar a revista contacte: jbelisario.movimento@gmail.com

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