

Os transportes em S. Miguel continuam nos anos 1970. Não falo das cidades onde existem alternativas, mas das pequenas aldeias (chame-lhe Freguesias senhor) que polvilham a ilha, onde quem não disponha de viatura, tem imensa dificuldade para se deslocar devido aos horários infrequentes e pouco convenientes da transportadora (na costa norte, CRP). A isto acresce a vetusta idade dos autocarros, a falta de cumprimento de horários, o excesso de velocidade e de lotação, a que ocasionalmente a GNR (se há queixas) multa fazendo parar a carreira.
O que acontece é um reboliço, os autocarros são menos, andam a desoras, vão apinhados, gente em pé (convido-vos a fazer a viagem Lomba da Maia – Ribeira Grande), e os alunos atrasados. Não sabemos quando é que a Direção Regional de Transportes pensa adotar modelos do séc. XXI para transportar os habitantes que se deslocam às cidades, nem sabemos quando e como fiscaliza o incumprimento das obrigações contratuais.
Não sei se é permitido o transporte de pessoas, em pé, nas estradas regionais, mas creio que é tempo de se fazer uma revolução nos meios existentes que insatisfazem a população. Nem sonho já com o metro de superfície já que a hipótese de comboio, infelizmente, foi abandonada no início do séc. XX. Quando o meu filho estagiava no Nonagon, Lagoa, levantava-se pelas sete horas para apanhar a camioneta da Ribeira Grande, outra para Ponta Delgada e antes das dez chegava. Era a forma de se transportar em coletivos para percorrer 30 km. Libertou-se desse calvário ao adquirir uma viatura,.
E os idosos com consulta no hospital ou afazeres na cidade, sem carta de condução nem viatura? Para esses é sair de matina e chegar à noitinha. Com as pensões miseráveis que auferem não disporão de 60€ para irem e virem de táxi. Mudem os autocarros velhos (deve ter expirado o prazo de validade), sempre a avariarem (alguns arderam), horários alienígenas (ora chegam cedo, ora tarde e quem não está, estivesse), lotados nas horas de ponta (em especial na carreira das 07.30 e 08.00), passageiros em pé aos solavancos, sem segurança em caso de travagem. Senhores responsáveis pela inexistente política de transportes acordem para o séc. XXI, aumentem a frequência das carreiras, fiscalizem os horários e as condições de transporte…. Modifiquem contratos para substituírem os autocarros por mais modernos e mais pequenos para serem rentáveis, saiam dos gabinetes confortáveis e inspecionem anonimamente os percursos, levantem-se e vejam o que é viajar na carreira da Lomba Ribeira Grande, é para isso que vos paga o povo sem ter um serviço de transportes coletivos capaz.
Era uma vez uma terra que se achava muito rica e abastada e os melhores saíam para outros países e não mais voltavam. Os mais pobres retornavam todos os anos em procissões várias na companhia azul de caravelas açorianas, sempre às turras com ventos e marés sem cumprir horários de monção, sujeita a cancelamentos e desvios de rota. A terra rica foi vivendo pacatamente esquecida do mundo, em mares de bruma e nevoeiros, com ventos mata-vacas, uns tremores e vulcões quase silenciosos.
Como terra pobre que queria ser rica, os pobres de outras partes descobriram na Ryanair, o afortunado povo de gente feliz com vacas e vieram visitar e conhecer, para aprenderem os segredos que se escondiam, em que ora uns ora outros dividiam entre si e os seus, o que a terra proporcionava, sempre com novas riquezas a serem anunciadas.
Escondida havia pedofilia, violência doméstica, mau aproveitamento escolar, maus tratos a idosos, processos municipais contra cientistas (aparentemente não eram muito apreciados). Lá surgia de vez em quando um ou outro escândalo, mas como sempre a indignação das gentes nunca durava mais do que três dias, bem contados, que o povo temente a deus, amante da bola e da música não tinha capacidade de se concentrar muito tempo sobre um só tema.
Se as coisas não corriam bem a culpa não era de quem mandava, mas dos subalternos, removidos como quem afasta a mosca irritante, como na Austrália, quando se agitavam as mãos no “Australian salute” e se abanava o chapéu com rolhas de cortiça penduradas para afugentar coleópteros e dípteras. Tenho de admitir imodestamente que gostei da analogia.
As gentes nem notavam a mudança de moscas. Perpetuavam a secular e abúlica apatia, costas vergadas, sem notarem que a terra era comandada à distância, pelos senhores que a tinham arrendado com a condição de não fazerem benfeitorias. Uma vez por outra, visitavam, acenando, distribuindo beijos, abraços e “selfies” na promessa de dias melhores e mais ricos, ouvindo o queixume das gentes ingratas e prometiam satisfazer o descontentamento.
Os chefes eram promovidos para calar os insatisfeitos. Tudo permanecia, ordeira e pacatamente, a uma única voz. Quando chegava o dia de mudar de arrendatários, os que tinham ficado sem estradas, escolas, polidesportivos tinham a sua vez, e os outros esperavam que a roda da fortuna mudasse.
A insolvência da antiga empresa municipal Azores Parque volta na quarta-feira a tribunal, com a repetição do julgamento no Tribunal Judicial de Ponta Delgada, nos Açores, depois de anulada a sentença de primeira instância. O julgamento deste caso volta a ser repetido porque, a 08 de fevereiro, o Tribunal da Relação de Lisboa decidiu “julgar […]
O concurso regional de empreendedorismo decorre em três fases, permitindo que as ideias apresentadas passem às fases posteriores, transpondo os vencedores para iniciativas empresariais, com a entrega de vídeo, 2 minutos, expondo a ideia de negócio, sendo selecionadas as cinco melhores. Segue-se o desenvolvimento, para planos de negócio, submetidos a uma terceira fase, um pitch (sic) até 5 minutos. São selecionados três projetos (€25.000, €20.000 e €15.000) atribuídos na condição de passarem a integrar o capital das empresas a criar.
Proponho que passe à final a família de Rabo de Peixe, detida pelas autoridades por estar na posse, manufatura, distribuição e comercialização de marijuana para tratamento medicinal. A família, recipiente do rendimento de inserção social, vive com dificuldades, um grande agregado numa casa da câmara destinada a famílias pequenas.
Conseguiu colocar em pleno emprego os 10 membros (avós, pais, filhos e netos) servindo-se de terrenos baldios do Estado, abandonados há anos. Dado que eram férteis, boa exposição solar, introduziu cannabis sativa, com cuidados intensivos e boa rega, produzindo 400 pés, dezenas de milhar de euros ao valor de mercado. Apesar da falta de instalações adequadas, a família recuperou um edifício abandonado pela edilidade para o tratamento e empacotamento das plantas, mostrando um grau de empreendedorismo como há muito se não via.
Com os proventos da exploração agrícola, a família ia adquirir habitação mais condigna, deixando de necessitar dos apoios sociais, e contribuir para a integração dos seus membros na sociedade, onde as pessoas são desincentivadas de se tornarem economicamente autónomas ou produtivas, preferindo auferir o rendimento de inserção social em vez de buscarem soluções para as suas carências.
Numa antevisão do fim do monopólio de venda do produto, com a liberalização do consumo para fins medicinais, a família demonstrou uma visão de futuro inigualável. Verifica-se que cumpriram os requisitos do concurso supracitado, motivo que nos leva a sugerir que o primeiro prémio lhes seja atribuído.