RAMOS HORTA O NATAL EM TIMOR

ORIGINAL EM https://www.facebook.com/officialramoshorta/posts/1680892328629311

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41 mins · Dili, Timor-Leste ·
Natal e Ano Novo esplendidos em Timor-Leste

Académicos e jornalistas da catástrofe pensam que sabem tudo sobre Timor-Leste, apesar de frequentemente cometerem erros factuais e análises errados..

Ao terminarmos 2017 e entrarmos no Ano Novo, verifico com enorme satisfação estarmos a assitir a uma transformação social extraordinária em Timor-Leste – transitando de um passado onde a violência irrompia facilmente para uma atitude e disposição não-violentas, mais em geral.

Essa realidade foi verificada nos dois atos eleitorais de 2017, que decorreram num ambiente absolutamente livre de intimidação e violência, bem como desde a formação do atual governo minoritário da coligação FRETILIN/Partido DEMOCRÁTICO.

“Crise! Os Timorenses voltaram ao mesmo! Que desapontamento!”, lamentam os ditos académicos e jornalistas da catástrofe.

Somos uma jovem democracia com demonstradas qualidades e realizações e com limitações e fracassos. Não podemos ser todos perfeitos, sem falhas, como eles o são em Portugal e na Austrália. À excepção do grande António Sampaio da Lusa, jornalistas Portugueses e Australianos nunca encontram nada de bom nesta Terra de Deus.

Este ensaio nada exaustivo visa só partilhar com os amigos do FB algumas observações pessoais e emoções das últimas duas semanas. Irei em breve escrever, de novo, sobre o debate político em curso em Timor-Leste.

Desde que regressei ao país em Dezembro de 1999, após 24 anos de exílio, tenho feito questão de passar todos os Natais e quase todas as comemorações de fim do ano e Ano Novo no meu país.

Não falhei um único Natal em Timor-Leste.

Apraz-me passear pela nossa cidade em expansão crescente, passando pelos bairros pobres como Becora, Kuluhun, Taibessi, Akadiru Hun, Tuana Laran, Surikmas, Manleu, etc. Numa velha carrinha pickup com um motorista (habitualmente sou eu que conduzo) aventuramo-nos ao acaso nos bairros de Díli e damos por nós em áreas onde eu nunca tinha estado.

O motorista confessou a certa altura não ter a certeza de onde estávamos. Disse-lhe para continuar porque a estrada acabaria por conduzir-nos a algum lugar; acabámos por chegar às traseiras de Tasi Tolu.

Dezenas de elaborados presépios e árvores de Natal enormes enfeitam a nossa cidade. Em nenhum outro lugar do mundo as pessoas celebram o Natal com tanta criatividade assim. Timor-Leste é o país mais católico da Ásia com 98% de fiéis praticantes.

E devemos estar em segundo lugar a nível mundial, logo a seguir à Polónia, em percentagem de população católica. O Brazil alberga o maior número de católicos mas na realidade em termos percentuais só metade da sua população de 200 milhões é católica.

O nosso muito respeitado Primeiro-Ministro, Mari Bim Amude Alkatiri é muçulmano praticante. Visitantes da sua casa encontrarão membros da família católicos e muçulmanos, ilustrando bem o grande mosaico étnico e de crenças vivendo sob o mesmo teto.

Durante as minhas incursões pela cidade de Díli nos dias que antecederam o Natal e o Ano Novo vi milhares de pessoas simples fazendo compras em supermercados, em pequenas lojas ou em tendas de rua improvisadas, onde tudo é vendido e comprado a preços de saldo.

Nunca regateio, apesar de saber que os preços duplicam instantaneamente quando apareço para comprar qualquer coisa. A minha irmã Aida, que nunca saiu do país durante os anos longos da ocupação, é quem habitualmente faz as minhas compras.

Esta manhã comprei a um vendedor dois sacos de pequenas tangerinas doces e paguei dois dólares e meio por cada um.

Disseram-me mais tarde que essas tangerinas estão, de facto, à venda por um dólar e meio.

Esperei na fila para pagar em lojas e supermercados de bairros observei discretamente a lista de compras de muitos clientes humildes e como contam silenciosamente o seu dinheiro. Vi em toda a cidade de Díli na semana anterior ao Natal e até 31 de dezembro que muitos milhões de dólares mudaram de mãos durante esse período.

Ao longo do dia de ontem, literalmente dezenas de milhares de carros e de motorizadas circularam nas várias direções entre Maubara a Oeste e Metinaro a Leste de Díli.

Nunca tinha visto um Natal e Ano Novo mais comemorados, alegres e pacíficos desde 1999. As Igrejas estiveram todas a abarrotar, com os fiéis a transbordarem para as ruas. Milhares de pessoas passearam após as missas, cerca das 11 da noite, dirigindo-se para os bem organizados concerto e fogo de artifício, no “Largo Infante Dom Henrique, o Navegador”.

Muitos milhares foram a festas particulares ou em hotéis, restaurantes, comunidades, etc.

inquiri sobre incidentes durante o dia e recebi um relatório provisório positivo do Comandante Nacional da Polícia Júlio Ornay, revelando não terem sido registados graves acidentes de tráfego ou incidentes violentos de relevo.

Conduzi o meu velho Mini-Moke para Maubara e regresso e contei literalmente milhares de veículos de todos os tipos e dezenas de milhar de pessoas, por toda a parte, nos quase 40 quilómetros de distância entre Díli e Maubara, e só vi pessoas muito alegres. Não pude tirar muitas fotografias pois ia a conduzir.

A nossa polícia, apoiada por militares, esteva presente em muitos lugares e geriu com muito profissionalismo todo o dispositivo de segurança.

Por isso, académicos e jornalistas da catástrofe, nós por cá vamos bem segundo a nossa própria maneira de ser e estar nesta nossa democracia imperfeita.

:/


Splendid Christmas/New Year in TIMOR-Leste

Academics and journalists of doom may think they know all about TL even though far too often they get their facts and analysis so wrong.

As we ended 2017 and begin the New Year, I am concluding with enormous satisfaction that there is an extraordinary societal transformation taking place in Timor-Leste, from a past when violence may easily flare up to a much more general non-violent state of mind and attitude.

This was seen during our two elections in 2017 that took place in an atmosphere absolutely free of intimidation and violence as well as so far since the formation of the current minority FRETILIN/Democar Party Government.

“Crisis! The Tiimorese are at it again! How disappointing!” Commiserate the said academics and journalists of doom.
We are a young democracy with demonstrated qualities and achievements and with shortcomings and failures. We cannot all be flawless and perfect like they are in Australia and Portugal.

Excepting the great LUSA’s Antonio Sampaio P, jornalistas Portuguese and Australians very rarely find anything positive in this Land of God.

This essay is only to share with my FB friends some personal observations and emotions of the last two weeks. I will write more soon on the ongoing political debate in TIMOR-Leste.

Since returning home in December 1999 after 24 years in exile, I have made a point in spending every single Christmas and almost every End of Year/New Year celebration in my country. I haven’t missed a single Christmas in TL.

I enjoy touring the ever expanding city cruising through poorer suburbs like Bekora, Kuluhun, Taibessi, Akadiru Hun, Tuanalaran, Surikmas, Manleu, etc etc. On a beaten up pick up truck with a driver (usually I am on the one doing the driving) we ventured randomly into Dili’s “bairros” and ended up in areas I had never before explored.

The driver confessed he wasn’t sure where we were at some point but I told him to keep driving on as the road had to lead us somewhere; and we ended up in the back of Tasi Tolu.

Dozens of extremely well-elaborate nativity scenes (the famous presepios) and giant Christmas trees ornate our City. No where else in the world people celebrate Christmas with such creativity. TL is the most Catholic country in Asia with 98% Church going faithfuls. We must be second only to Poland as percentage of Catholics. Brazil boasts the largest number of Catholics in the world, but actually only half of its population of over 200 Million are Catholics.

Our much respected PM the Hon. Mari Bim Amude Alkatiri is a practicing Muslim. A visitor to his home would meet Catholic family and Muslim family members which illustrates so well the great mosaic of ethnicity and beliefs living under the same roof.

During my City of Dili exploration in the days leading to Christmas and New Year I saw thousands of simple people shopping in supermarkets, in small stores as well as improvised street tents, where anything and everything is sold and bought at bargain prices.

I never bargain even though I know how prices instantly go up twice as much every time I turn up to buy something. My sister Aida who never left the country during the long years of occupation is the one who usually does shopping for me.

This morning I bought two bags of tiny sweet tangerines from some hawkers and paid $2,50 each bag. I was told later that these tangerines are actually being sold for $1,50.

I queued up to pay in neighbourhood supermarkets or stores and quietly observed the shopping list of many humble shoppers and how quietly they count the dollars. My observation throughout DILI in the week leading to Christmas and till 31st December, is that many millions of dollars exchanged hands during this period.

Throughout the day today, literally tens of thousands of cars and motorbikes circulated anywhere between Maubara in the West to Metinaro in the East of Dili.

I had never witnessed a most celebrated, most joyful and peac ful Christmas and New Year since 1999.

I enquired about incidents during the day today and receive a provisional upbeat report back that no major traffic incidents or any other significant violent incidents were recorded.

I drove my old “Moke” to/from Maubara and counted literally thousands of all kinds of motor vehicles and tens of thousands of people everywhere in the almost 40km distance between Dili and Maubara and I saw only very happy people.

So academic and journalists doomsayers we are doing well, our own way in our imperfect democracy.

#joseramoshorta
#timorleste
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