Arquivo mensal: Maio 2015

chronicaçores: uma circum-navegação, das açorianidades e outras viagens (40 ANOS DE VIDA LITERÁRIA)

CHRONICAÇORES2capacapanova1

à venda na editora Calendário de Letras www.calendario.pt

uma viagem às circum-navegações em prosa e poesia deste poeta australiano, açorianizado ao longo dos últimos dez anos , com incursões por Timor, Macau, Brasil, Bragança, Galiza, Austrália e Açores. Viagem pela literatura, pela história e por tudo o mais que é relevante na vida de cada um, sem esquecer a defesa da AÇORIANIDADE

O ACORDO PODERIA TER DUAS LINHAS…

O ACORDO PODERIA TER DUAS LINHAS…

(Um amigo que muito prezo, escreveu um texto delicioso sobre o Acordo Ortográfico, sob o título em epígrafe, que lhe pedi que me deixasse publicar por aqui. Ele aí fica:)

“Para que fique bem clara a minha posição sobre o Acordo Ortográfico: percebo que este dispositivo interesse aos Ministérios dos Negócios Estrangeiros para dar uma imagem de cooperação entre os países de língua portuguesa. Se tivesse sido eu a escrevê-lo, teria a seguinte formulação:

Artigo único: “Reconheçam-se como válidas, em todos os países da CPLP, as normas ortográficas em vigor nos restantes países.”

Esta formulação permitiria que o uso de qualquer variante ortográfica não pudesse ser penalizado ou considerado ilegítimo em qualquer país de língua oficial portuguesa ou em qualquer contexto de uso da língua.

Esta não foi a opção de quem negociou o Acordo Ortográfico, tendo sido preferida uma versão que tenta unificar a ortografia.

Quem me conhece sabe que não consegue arrancar de mim nenhuma posição inflamada a favor ou contra o Acordo Ortográfico. Sei que a ortografia é uma mera convenção, que nenhuma versão da nossa ortografia foi coerente entre transparência ou etimologia e que esta e outras versões de instrumentos de normalização ortográfica têm problemas técnicos já assinalados por vários. Não me parece que a versão 1990 seja pior ou melhor do que a versão 1945 – basta pensar no uso do hífen. É apenas uma convenção – o facto de “hospital” se escrever com <h> em português e sem <h> em italiano não tem qualquer consequência.

Muito do debate em torno do Acordo Ortográfico rasa o absurdo e descreve as consequências da sua aplicação como algo próximo do Armagedão. Há dados que me fazem manter-me longe deste debate.

Sempre que sai uma notícia num jornal sobre o Acordo Ortográfico, surgem centenas de comentários de leitores que, horrorizados, listam os horrores do Acordo Ortográfico em mensagens pejadas de erros ortográficos.

Ouvia, há tempos, alguém que tinha escrito “nada a opôr [sic]” vociferando que não retirava o acento circunflexo, porque se recusa a escrever com o Acordo Ortográfico, que sempre escreveu assim e não vai mudar!

O mesmo, tal e qual, ouvi de alguém que, num programa de rádio, dizia: “não é por causa dos brasileiros que vou tirar a cedilha de vocês”!

A obsessão com a ortografia e tudo o que se diz sobre o seu impacto no mundo é a consequência de uma escolarização em que as produções escritas são, tradicionalmente, corrigidas em função de desempenhos temáticos e ortográficos. Coesão e coerência, conformidade com sequências textuais ou explicitação de regras de pontuação são dimensões da escrita a que a escola nunca prestou a devida atenção, que justificam muitos problemas de escrita (e leitura) e que explicam que se dê tanta importância à ortografia.

Tratando-se apenas de uma convenção, a ortografia não gera penalizações. Se eu escrever a minha lista de compras para o supermercado com inúmeros erros, ninguém saberá e, mesmo que saiba, nada acontece. Só no sistema educativo é que há penalização do erro e é interessante verificar que a introdução do Acordo Ortográfico no sistema educativo se deu sem problemas.

Se é verdade que a ortografia é uma mera convenção e que quem redigiu o Acordo visou uma unificação da ortografia, também é verdade que qualquer pessoa minimamente informada sobre as variantes do português deveria saber que as diferenças fundamentais entre o português usado em Portugal, no Brasil, Angola, Moçambique não estão na ortografia. Tente-se escrever um texto em conjunto com um colega brasileiro e veja-se como se tropeça em cada linha. Há um evidente desconhecimento da língua portuguesa na génese de algumas decisões políticas, o que é confrangedor.

Passados vinte anos sobre a criação deste Acordo, não são ainda evidentes os passos claros que a CPLP está a dar para uma eficiente política de língua. Para dar apenas um exemplo, ainda não se vislumbra uma política comum sobre o ensino de português no estrangeiro.

Dito tudo isto, alguns amigos que conhecem esta minha posição (ou ausência de posição), perguntam-me se uso ou não o Acordo Ortográfico. Comecei a usar no dia em que li um arrazoado de argumentos nacionalistas e de comentários racistas sobre os restantes países da CPLP a propósito do Acordo Ortográfico. Pensei que não queria ser identificado com aquele tipo de argumentação e nesse mesmo dia passei a utilizar, sem grande dificuldade, a nova convenção ortográfica (nunca senti aquela insegurança de que alguns falam, dizendo “Agora não sei como se escreve”).

Passados alguns meses, participei numa reunião em que, em defesa do Acordo Ortográfico, ouvi um eminente académico tecer comentários absolutamente nacionalistas e a rasar o racismo… Fiquei sem saber o que fazer e, pela primeira vez, me deparei com a hesitação de não saber como escrever.

Cresce em mim a vontade de reagir de forma adolescente e não usar o Acordo quando escrevo àqueles que o defendem ferozmente e usar quando escrevo aos que são violentamente contra. Mas, por vezes, tenho de escrever a ambos e, nessa altura, penso: isto é apenas uma convenção, para quê gastar tempo a pensar no assunto?

Se se tivessem ficado pelas minhas duas linhas, ter-se-ia poupado muito tempo…

João Costa

PS: Ao reler o texto, apercebo-me de que, por vezes, o Acordo Ortográfico não tem mesmo importância nenhuma na forma como se escreve. E garanto que não foi intencional.

novo elenco diretivo na PRO AGLP

No dia 25 de abril em que se inaugurou a casa da língua comum também houve, de tarde, assembleia da Pró-AGLP na que se anovou o Conselho Diretivo. Alguma das pessoas que o integram não pôde estar presente. Na primeira reunião do conselho, talvez haja alguma mudança mais (relativa à pessoa que leve a Secretaria, principalmente). Por enquanto informo nesta lista:

  • Presidente: XOSÉ MORELL.
  • Vice Presidente: MÁRIO HERRERO.
  • Secretária: IRENE VEIGA.
  • Tesoureiro: ÂNGELO BREA.
  • Vogal: PALOMA FERNÁNDEZ DE CORDOBA.
  • Vogal: MARIA DO VIGO.

Indonésia: uma comunidade de Flores Oriental quer aprender a Língua Portuguesa

Indonésia: uma comunidade de Flores Oriental quer aprender a Língua Portuguesa

In Lusofonia e Diversidade, O Mundo de Língua Portuguesa on 23 de Março de 2014 by ronsoar Tagged: , , ,

Da Agência Lusa
24 de fevereiro de 2014

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A administração regional das Flores Oriental, na Indonésia, quer ensinar Língua Portuguesa às crianças, à Confraria Rainha do Rosário e ao grupo Mama Muji, que reza na “Língua de Camões” há vários séculos, no seguimento da evangelização de missionários católicos portugueses na região.

“Nós temos um grande plano. Podemos ter classes de português aqui, mas temos um problema com a falta de professores”, disse à Agência Lusa o regente das Flores Oriental, Joseph Lagadoni Herin, acrescentando que pretende cooperar com a embaixada portuguesa na Indonésia ou com as autoridades de Timor-Leste para encontrar a pessoa certa.

Assim que tiver um professor, o regente das Flores Oriental quer iniciar as aulas de modo consistente e regular. “Não nos é dificil iniciar o português aqui, porque o português tem a mesma estrutura que o indonésio. Logo, nós esperamos que as crianças, a confraria e o Mama Muji possam aprender”, salientou Joseph Lagadoni Herin.

–– Indonésios que rezam em português ––
O Mama Muji (“Louvor de Mãe”), iniciado no século XVIII, é um grupo de 125 mulheres casadas que reza em português obrigatoriamente durante a Semana Santa. Mas todos os sábados cerca de 80 elementos do grupo e outras pessoas que não fazem parte do mesmo deslocam-se à “Gereja Tuan Ma” ou Capela da Senhora Mãe para rezar o rosário na “Língua de Camões”.

O Mama Muji faz parte da Confraria Rainha do Rosário, que, segundo o seu presidente, o rei de Larantuca, D. Martinus Dias Vieira de Godinho, foi formada em 1642 e é provavelmente a mais antiga organização da Indonésia.

Mulheres e crianças de diferentes idades e até alguns homens rezam e cantam em português, por vezes intercalado com indonésio, com o auxílio de livros, onde o português aparece escrito na forma mais conveniente para os indonésios, substituindo, por exemplo, “nosso” por “noso”.

Algumas pessoas vão acendendo velas durante a reza do terço, mas no final todos se deslocam junto aos santos da igreja para oferecer velas e para beijá-los, em uma cultura onde os beijos como saudação apenas estão reservados aos familiares e amigos mais próximos.

Aos sábados de manhã, depois da oração das mulheres, é tempo de os homens também o fazerem, igualmente na Capela da Senhora Mãe, embora o número de participantes seja menor, rondando as duas dezenas.

–– Preces em português aprendidas oralmente ––
O rei de Larantuca, que apenas governa durante a Semana Santa – dado que o papel do reino foi entregue ao governo indonésio –, explica que “o Mama Muji e a Confraria rezam sempre em português por causa dos seus antecessores” e aprenderam a fazê-lo pela via oral e não através de livros.

D. Martinus Dias Vieira de Godinho acredita que será difícil envolver “as senhoras idosas” nas aulas de português, “por causa da mentalidade”, dado que “mudar os hábitos é difícil”, mas mostra-se disponível para tentar e confiante de que “as gerações mais jovens” irão participar nas aulas.

–– Palavras portuguesas no indonésio de Flores ––
Clara Kung tem 50 anos, aprendeu a rezar na Língua Portuguesa através da mãe e da avó, que “rezavam sempre em português”. Daí que hoje em dia todos os sábados se desloque à capela da Senhora Mãe, ao lado da sua casa, para “rezar pelas crianças e pela felicidade na vida”.

Clara Kung mostra-se interessada em participar nas classes de português e frisa que, apesar de no início ter sido “difícil” aprender a rezar na Língua Portuguesa, com o tempo e com a ajuda de um livro, já consegue fazê-lo sem dificuldade.

Ainda que por agora não saiba o significado das palavras em português, Clara Kung consegue identificar o nome da oração e, logo, perceber o que está a pedir a Deus.

Há centenas de palavras em indonésio derivadas do português, como bola, boneka, keju, sekolah,mas nas regiões de Flores Oriental e Sica os vestígios estão ainda mais presentes, não só nas orações, que também acontecem na regência de Sica, mas também nas palavras usadas no quotidiano, como por exemplo os dias da semana.

Os portugueses foram os primeiros europeus a chegar à Indonésia, em 1512, na mira de especiarias e, embora não tenham colonizado o país, procederam a uma forte evangelização católica até 1859, ano em que assinaram um tratado com a Holanda.  :::

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–– Extraído da Agência Lusa ––