mia couto e o “may be man”

Assim é a “Máfia Política”…….
O “May be man” – Por Mia Couto <Existe o “Yes man”. Todos sabem quem é e o mal que causa. Mas existe o May be man. E poucos sabem quem é. Menos ainda sabem o impacto desta espécie na vida nacional. Apresento aqui essa criatura que todos, no final, reconhecerão como familiar.
O May be man vive do “talvez”. Em português, dever-se-ia chamar de “talvezeiro”. Devia tomar decisões. Não toma. Sim­plesmente, toma indecisões. A decisão é um risco. E obriga a agir. Um “talvez” não tem implicação nenhuma, é um híbrido entre o nada e o vazio.
A diferença entre o Yes man e o May be man não está apenas no “yes”. É que o “may be” é, ao mesmo tempo, um “may be not”. Enquanto o Yes man aposta na bajulação de um chefe, o May be man não aposta em nada nem em ninguém. Enquanto o primeiro suja a língua numa bota, o outro engraxa tudo que seja bota superior.
Sem chegar a ser chave para nada, o May be man ocupa lugares chave no Estado. Foi-lhe dito para ser do partido. Ele aceitou por conveniên­cia. Mas o May be man não é exactamente do partido no Poder. O seu partido é o Poder. Assim, ele veste e despe cores políticas conforme as marés. Porque o que ele é não vem da alma. Vem da aparência. A mesma mão que hoje levanta uma bandeira, levantará outra amanhã. E venderá as duas bandeiras, depois de amanhã. Afinal, a sua ideolo­gia tem um só nome: o negócio. Como não tem muito para negociar, como já se vendeu terra e ar, ele vende-se a si mesmo. E vende-se em parcelas. Cada parcela chama-se “comissão”. Há quem lhe chame de “luvas”. Os mais pequenos chamam-lhe de “gasosa”. Vivemos uma na­ção muito gaseificada.
Governar não é, como muitos pensam, tomar conta dos interesses de uma nação. Governar é, para o May be Man, uma oportunidade de negócios. De “business”, como convém hoje, dizer. Curiosamente, o “talvezeiro” é um veemente crítico da corrupção. Mas apenas, quando beneficia outros. A que lhe cai no colo é legítima, patriótica e enqua­dra-se no combate contra a pobreza.
Afinal, o May be man é mais cauteloso que o andar do camaleão: aguarda pela opi­nião do chefe, mais ainda pela opinião do chefe do chefe. Sem luz verde vinda dos céus, não há luz nem verde para ninguém.
O May be man entendeu mal a máxima cristã de “amar o próximo”. Porque ele ama o seguinte. Isto é, ama o governo e o governante que vêm a seguir. Na senda de comércio de oportunidades, ele já vendeu a mesma oportunidade ao sul-africano. Depois, vendeu-a ao portu­guês, ao indiano. E está agora a vender ao chinês, que ele imagina ser o “próximo”. É por isso que, para a lógica do “talvezeiro” é trágico que surjam decisões. Porque elas matam o terreno do eterno adiamento onde prospera o nosso indecidido personagem.
O May be man descobriu uma área mais rentável que a especulação financeira: a área do não deixar fazer. Ou numa parábola mais recen­te: o não deixar. Há investimento à vista? Ele complica até deixar de haver. Há projecto no fundo do túnel? Ele escurece o final do túnel. Um pedido de uso de terra, ele argumenta que se perdeu a papelada. Numa palavra, o May be man actua como polícia de trânsito corrup­to: em nome da lei, assalta o cidadão.
Eis a sua filosofia: a melhor maneira de fazer política é estar fora da política. Melhor ainda: é ser político sem política nenhuma. Nessa fluidez se afirma a sua competência: ele sai dos princípios, esquece o que disse ontem, rasga o juramento do passado. E a lei e o plano servem, quando confirmam os seus interesses. E os do chefe. E, à cau­tela, os do chefe do chefe.
O May be man aprendeu a prudência de não dizer nada, não pensar nada e, sobretudo, não contrariar os poderosos. Agradar ao dirigen­te: esse é o principal currículo. Afinal, o May be man não tem ideia sobre nada: ele pensa com a cabeça do chefe, fala por via do discurso do chefe. E assim o nosso amigo se acha apto para tudo. Podem no­meá-lo para qualquer área: agricultura, pescas, exército, saúde. Ele está à vontade em tudo, com esse conforto que apenas a ignorância absoluta pode conferir.
Apresentei, sem necessidade o May be man. Porque todos já sabíamos quem era. O nosso Estado está cheio deles, do topo à base. Podíamos falar de uma elevada densidade humana. Na realidade, porém, essa densidade não existe. Porque dentro do May be man não há ninguém. O que significa que estamos pagando salários a fantasmas. Uma for­tuna bem real paga mensalmente a fantasmas. Nenhum país, mesmo rico, deitaria assim tanto dinheiro para o vazio.
O May be Man é utilíssimo no país do talvez e na economia do faz-de-conta. Para um país a sério não serve.

 

 

 

judeus portugueses na América-Portuguesa

From: mlmedeiros[ saudades-sefarad] partilhou :


Judeus Portugueses na América-Portuguesa

http://vozdnacao.blogspot.com/2010/11/judeus-portugueses-e-america-portuguesa.html
América Portuguesa

Em sua diáspora pelo mundo, os conversos portugueses, encontraram um porto seguro nas colônias ultramarinas Portuguesas, em especialmente no Brasil: A América Lusitana.

Entre os séculos XVI à XVIII, a grande maioria dos conversos que saíram de Portugal escolheram o Brasil como destino.

Isso se deveu não só as facilidades, já que as colônias nada mais eram que os quintais da metrópole, mas também a possibilidade de crescimento econômico e ascensão social.

Todavia, dois grupos distintos de Cristão-novos podiam ser observados entre os que decidiram cruzar o Atlântico:

  • Os que optaram pelo exílio por motivos religiosos.
  • Os que optaram pelo exílio, e assim, fugir da marginalização social imposta pela genere et moribus, que os impediam de ocupar um lugar digno na sociedade lusitana.
Deveras complexo separar um grupo do outro, pois mesmo os que buscavam lugares onde as leis de segregação eram frouxas, também almejavam uma posição digna na sociedade.
Interrogatórios do Sto. Ofício

As notícias de prosperidade dos conversos portugueses no Brasil, não tardaram a chegar em Portugal, que logo cuidou de despachar visitadores do Sto. Oficio as capitanias mais prosperas do Brasil.

A primeira Visitação do Sto. Ofício ao Brasil aconteceu entre de 1591 – 1595. Em 1624, nada menos que 245 Conversos já haviam sido processados.

Engenho Camaragib

Entre os anos de 1649 – 1748, entre os processados, encontramos 18 brasileiros de origem conversa executados no Largo do Róssio em Lisboa.

O Judaísmo, na maior parte do tempo, esteve presente na vida dos conversos portugueses de forma oculta no Brasil.

Em 1580 já se tinham notícias de várias Esnogas que funcionavam em Engenhos pertencentes a Conversos Portugueses.

Entre as primeiras Esnogas Secretas do Brasil, encontramos a do Engenho Camaragibe, Engenho Muribeca, ambos em Pernambuco, e a do Engenho Matoim na Bahia.

Um momento impa para os judeus conversos no Brasil, ocorreu durante a ocupação do Nordeste Setentrional pela Companhia das Índias Ocidentais.

Invasão Holandesa do Nordeste do Brasil
Com a liberdade religiosa posta como alicerce básico da nova possessão Holandesa nas América, a vida judaica prosperou.O continuo fluxo de Judeus da Nação Portuguesa de Amsterdam para o Brasil, somado aos Judeus conversos Luso-brasileiros que assumiram publicamente a sua fé, logo exigiu a edificação de uma vida comunitária organizada.

Assim duas qehilôth foram levantadas:
  • A Qahal Sur Israel, (primeira Esnoga das Américas), liderada pelo erudito Hakham Isaac Aboab da Fonseca,
  • A Maguen Abraham, liderada pelo Gramático e Hakham Rafael Moses de Aguilar.
Ambas foram unificadas na segunda metade de 600.
Com a expulsão dos Holandeses no Brasil, em 1654, a vida judaica ruiu. Porém, quatro foram os destinos tomados pelos Judeus Portugueses:
  • Os que voltaram a Europa;
  • Os que foram em direção a outras possessões holandesas na América do Sul, como Suriname e Curaçao;
  • Os que foram para Colônia holandesa na América do Norte, onde hoje se situa Nova Iorque nos EUA.
  • Os que voltaram à condição de criptojudeus e se refugiaram nos sertões do Brasil.

in diálogos lusófonos

poema de Gabriela Carrascalão

Este poema faz parte do curriculo do 12 ano da Escolas Portuguesas de TL. Foram escolhidos tres poemas sobre Timor : este, um de Rui Cinatty e um do Padre Barros Duarte. …

Poema :
Titulo : Menino Abandonado
autora; MGabriela Carrascalao

01-12-2006

Menino…. Abandonado,
rejeitado!
chorando!…
nas ruas de Dili!…
Secas! Poeirentas!
Menino magoado!
Perdido…
Angustiado!
Geme!
Garoto inocente!
triste, mal amado!
Menino esfomeado!
inocência violada !
criança usada!
rosto massacrado,
lágrimas !
de sangue jorrando!
nas ruas de Dili!…
Secas! Poeirentas!
Criança chorando!
Meu Menino,
garoto magoado!
Triste !…
abandonado!…

MGabriela Carrascalão
1-12-2006

MGabriela

Quando os Bobos Uivam LIVRO DE ONÉSIMO T ALMEIDA

Fogo, espionagem e outros mistérios q.b. são alguns dos ingredientes do novo livro do grande contador de estórias que é Onésimo T. Almeida. E também há presidentes e ex-presidentes da República, poetas, escritores e pensadores, tudo entretecido em conversas com textos clássicos e reflexões oportunas.
Quando os Bobos Uivam compõe-se de quatro estórias mirabolantes de realismo magicamente real a demonstrar que a arte, muitas vezes, não vai além da imagem pálida que a vida é capaz de inventar.

“ Quando os Bobos Uivam”, Onésimo Teotónio Almeida, Ed. Clube do Autor, 2013.

morreu o padre Lancelote Rodrigues

 

Última notícia:

Morreu Lancelote Rodrigues, o padre em Macau que era conhecido como o padre dos refugiados, começou o seu trabalho comunitário em prol de gente que chegava a Macau à procura de um porto de abrigo em 1950.

Leia mais em:
http://noticias.sapo.tl/portugues/lusa/artigo/16285235.html

Última notícia:Morreu Lancelote Rodrigues, o padre dos refugiados em Macau que era conhecido como o padre dos refugiados, começou o seu trabalho comunitário em prol de gente que chegava a Macau à procura de um porto de abrigo em 1950.Leia mais em:http://noticias.sapo.tl/portugues/lusa/artigo/16285235.html

 

Faleceu Padre Lancelote Rodrigues em Macau,

Manifesta a Korsang di Melaka a perda física do padre Lancelote, transcrevendo a publicação a 08 julho 2008, Macau, China (Lusa) – A entrada de Malaca para a lista de tesouros da Humanidade da UNESCO é uma “honra para todos os malaqueiros”, disse à agência Lusa em Macau o padre Lancelote Rodrigues, natural de Malaca.

Também o presidente do instituto Internacional de Macau, Jorge Rangel, manifestou a dor profunda com a noticia. “Quem o conheceu de perto sabe que a vida em Macau nunca mais será a mesma para com quem ele convivia e partilhava a alegria de viver e a vontade de servir e abraçar causas nobres”.

O padre Lancelote Rodrigues, natural de Malaca e a residir em Macau desde 1935, onde chegou com 12 anos, morreu hoje 17 de Junho no Hospital Kiang Wu, noticiou a Rádio Macau.
Filho de pai português, Lancelote Rodrigues nasceu a 21 de dezembro de 1923, morreu aos 89 anos e deixa um trabalho em prol dos refugiados – chegou a ser representante em Macau do Alto Comissariado dos Refugiados – que lhe valeu ser nomeado por Hong Kong para o prémio Nansen 2012 e uma condecoração da rainha de Inglaterra.
Depois de concluir os estudos em filosofia e teologia, Lancelote Rodrigues decidiu, aos 22 anos, ser padre, e acabou ordenado em 1949.
Conhecido como o padre dos refugiados, começou o seu trabalho comunitário em prol de gente que chegava a Macau à procura de um porto de abrigo em 1950, quando o então bispo de Macau o mandou acudir à vaga de portugueses que chegava de Xangai.
Numa entrevista à agência Lusa em junho de 2012, Lancelote Rodrigues recordou que chegaram a existir três centros de refugiados com pessoas de várias condições como no caso dos portugueses de Xangai o que, para alguns, era uma humilhação, problema que se foi esbatendo com convívios entre todos.
Realojados os portugueses de Xangai, em 1977 surge uma nova vaga de refugiados, os vietnamitas, situação que se prolongou até 1991 e que trouxe a Macau cerca de 30.000 pessoas.
Com a transição à porta – realizou-se a 20 de dezembro de 1999 – Lancelote Rodrigues recordou também que foi necessário ir procurando países de acolhimento para as pessoas que passaram por Macau e para as 441 crianças que nasceram no então território administrado por Portugal.
Em declarações à agência Lusa, o cônsul-geral de Portugal em Macau, Vitor Sereno, lamentou a morte de Lancelote Rodrigues e destacou o trabalho do padre ao longo de várias décadas junto da população de Macau, mas sobretudo junto dos refugiados.
“Foi um exemplo no passado e será sempre um exemplo para todos no futuro”, assinalou.
JCS // VM
Lusa/Fim

e agora josé (drummond de andrade)

Carlos Drummond de Andrade – E Agora Jose

Drummond na voz de Drummond

poema “José” de Carlos Drummond de Andrade foi publicado originalmente em 1942, na coletâneaPoesias. Ilustra o sentimento de solidão e abandono do indivíduo na cidade grande, a sua falta de esperança e a sensação de que está perdido na vida, sem saber que caminho tomar.

José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Análise e interpretação do poema

Na composição, o poeta assume influências modernistas, como verso livre, ausência de um padrão métrico nos versos e uso de linguagem popular e cenários cotidianos.

Primeira estrofe

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Começa por colocar uma questão que se repete ao longo de todo o poema, se tornando uma espécie de refrão e assumindo cada vez mais força: “E agora, José?”. Agora, que os bons momentos terminaram, que “a festa acabou”, “a luz apagou”, “o povo sumiu”, o que resta? O que fazer?

Esta indagação é o mote e o motor do poema, a procura de um caminho, de um sentido possível. José, um nome muito comum na língua portuguesa, pode ser entendido como um sujeito coletivo, metonímia de um povo. Quando o autor repete a questão, e logo depois substitui “José” por “você”, podemos assumir que está se dirigindo ao leitor, como se todos nós fossemos também o interlocutor.

É um homem banal, “que é sem nome”, mas “faz versos”, “ama, protesta”, existe e resiste na sua vida trivial. Ao mencionar que este homem é também um poeta, Drummond abre a possibilidade de identificarmos José com o próprio autor. Coloca também um questionamento muito em voga na época: para que serve a poesia ou a palavra escrita num tempo de guerra, miséria e destruição?

Segunda estrofe

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

Reforça a ideia de vazio, de ausência e carência de tudo: está sem “mulher”, “discurso” e “carinho”. Também refere que já não pode “beber”, “fumar” e “cuspir”, como se seus instintos e comportamentos estivessem sendo vigiados e tolhidos, como se não tivesse liberdade para fazer aquilo que tem vontade.

Repete que “a noite esfriou”, numa nota disfórica, e acrescenta que “o dia não veio”, como também não veio “o bonde”, “o riso” e “a utopia”. Todos os eventuais escapes, todas as possibilidades de contornar o desespero e a realidade não chegaram, nem mesmo o sonho, nem mesmo a esperança de um recomeço. Tudo “acabou”, “fugiu”, “mofou”, como se o tempo deteriorasse todas as coisas boas.

Terceira estrofe

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Lista aquilo que é imaterial, próprio do sujeito (“sua doce palavra”, “seu instante de febre”, “sua gula e jejum”, “sua incoerência”, “seu ódio”) e, em oposição direta, aquilo que é material e palpável (“sua biblioteca”, “sua lavra de ouro”, “seu terno de vidro”). Nada permaneceu, nada restou, sobrou apenas a pergunta incansável: “E agora, José?”.

Quarta estrofe

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

O sujeito lírico não sabe como agir, não encontra solução face ao desencantamento com a vida, como se torna visível nos versos “Com a chave na mão / quer abrir a porta, / não existe porta”. José não tem propósito, saída, lugar no mundo.

Não existe nem mesmo a possibilidade da morte como último recurso – “quer morrer no mar, / mas o mar secou” – ideia que é reforçada mais adiante. José é obrigado a viver.

Com os versos “quer ir para Minas, / Minas não há mais”, o autor cria outro indício da possível identificação entre José e Drummond, pois Minas é a sua cidade natal. Já não é possível voltar ao local de origem, Minas da sua infância já não é igual, não existe mais. Nem o passado é um refúgio.

Quinta estrofe

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Coloca hipóteses, através de formas verbais no pretérito imperfeito do subjuntivo, de possíveis escapatórias ou distrações ( “gritasse”, “gemesse”, “tocasse a valsa vienense”, “morresse”) que nunca se concretizam, são interrompidas, ficam em suspenso, o que é marcado pelo uso das reticências.

Mais uma vez, é destacada a ideia de que nem mesmo a morte é uma resolução plausível, nos versos: “Mas você não morre / Você é duro, José!”. O reconhecimento da própria força, a resiliência e a capacidade de sobreviver parecem fazer parte da natureza deste sujeito, para quem desistir da vida não pode ser opção.

Sexta estrofe

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

É evidente o seu isolamento total (“Sozinho no escuro / Qual bicho-do-mato”), ” sem teogonia” (não há Deus, não existe fé nem auxílio divino), “sem parede nua / para se encostar” (sem o apoio de nada nem de ninguém), “sem cavalo preto / que fuja a galope” (sem nenhum meio de fugir da situação em que se encontra).

Ainda assim, “você marcha, José!”. O poema termina com uma nova questão: “José, para onde?”. O autor explicita a noção de que este indivíduo segue em frente, mesmo sem saber com que objetivo ou em que direção, apenas podendo contar consigo mesmo, com o seu próprio corpo.

O verbo “marchar”, uma das últimas imagens que Drummond imprime no poema, parece ser muito significativo na própria composição, pelo movimento repetitivo, quase automático. José é um homem preso à sua rotina, às suas obrigações, afogado em questões existenciais que o angustiam. Faz parte da máquina, das engrenagens do sistema, tem que continuar suas ações cotidianas, como um soldado nas suas batalhas diárias.

Mesmo assim, e perante uma mundividência pessimista, de vazio existencial, os versos finais do poema podem surgir como um vestígio de luz, uma réstia de esperança ou, pelo menos, de força: José não sabe para onde vai, qual o seu destino ou lugar no mundo, mas “marcha”, segue, sobrevive, resiste.

Leia também a análise do poema No Meio do Caminho de Carlos Drummond de Andrade.

Contexto histórico: Segunda Guerra Mundial e Estado Novo

Para compreender o poema na sua plenitude é essencial termos em vista o contexto histórico no qual Drummond viveu e escreveu. Em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, o Brasil também tinha entrado num regime ditatorial, o Estado Novo de Getúlio Vargas.

O clima era de medo, repressão política, incerteza perante o futuro. O espírito da época transparece, conferindo preocupações políticas ao poema e expressando as inquietações cotidianas do povo brasileiro. Também as condições de trabalho precárias, a modernização das indústrias e a necessidade de migrar para as metrópoles tornavam a vida do brasileiro comum numa luta constante.

Carlos Drummond de Andrade e o Modernismo brasileiro

O Modernismo brasileiro, que surgiu durante a Semana de Arte Moderna de 1922, foi um movimento cultural que pretendia quebrar os padrões e modelos clássicos e eurocêntricos, heranças do colonialismo. Na poesia, queria abolir as normas que restringiam a liberdade criativa do autor: as formas poéticas mais convencionais, o uso de rimas, o sistema métrico dos versos ou os temas considerados, até então, líricos.

A proposta era abandonar o pedantismo e os artifícios poéticos da época, adotando uma linguagem mais corrente e abordando temas da realidade brasileira, como modo de valorizar a cultura e a identidade nacional.

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902. Autor de obras literárias de vários gêneros (conto, crônica, história infantil e poesia), é considerado um dos maiores poetas brasileiros do século XX.

Integrou a segunda geração modernista (1930 – 1945) que abraçou as influências dos poetas anteriores, e se focou largamente nos problemas sociopolíticos do país e do mundo: desigualdades, guerras, ditaduras, surgimento da bomba atômica. A poética do autor também revela um forte questionamento existencial, pensando no propósito da vida humana e no lugar do homem no mundo, como podemos ver no poema em análise.

Em 1942, data de publicação do poema, Drummond estava de acordo com o espírito da época, produzindo uma poesia política que expressava as dificuldades diárias do brasileiro comum e as suas dúvidas e angústias, assim como a solidão do homem do interior perdido na cidade grande.

Drummond morreu no Rio de Janeiro, dia 17 de agosto de 1987, na sequência de um infarto do miocárdio, deixando um vasto legado literário.

UBERABA – A CATEDRAL por Eduarda Fagundes

                                                                                      
 
Nome Atual: Catedral do Sagrado Coração de Jesus
Nome Anterior: Igreja Matriz

Fonte:
Autor Fotógrafo: Marise Romano
Autor Restauração:
Referência: Catedral de Uberaba
Data: 2006


Foto:
Catedral do Sagrado Coração de Jesus – Praça Rui Barbosa (Centro – 2006/2007)

Histórico – Catedral do Sagrado Coração de Jesus

“A primeira Capela construída na região de Uberaba data de 1807, nas Cabeceiras do Córrego do Lajeado, Arraial da Capelinha, nas terras de propriedade de José Francisco de Azevedo. Em 1812, as imagens de Santo Antônio e São Sebastião, os padroeiros, foram entronizadas.

Com a mudança, em 1815, dos moradores do Arraial da Capelinha para o novo Arraial da Farinha Podre, Uberaba atual, o Sargento-Mor, Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira (Major Eustáquio), construiu uma nova Capela, na Praça Frei Eugênio, com a mesma invocação de Santo Antônio e São Sebastião, sendo benzida e liberada para as cerimônias religiosas, em 01 de dezembro de 1818. Em 02 de Março de 1820, com a instalação da Freguesia, esta Capela foi elevada à Categoria de Paróquia, e constituída em primeira Matriz.

A capela foi demolida e uma outra construída no mesmo lugar, pelo Vigário Silva. Foi inaugurada em 20 de janeiro de 1828, e serviu ao culto até 1856. A atual Igreja Matriz teve as obras iniciadas em 1827. Com a morte do Major Eustáquio, em 1832, as obras ficaram paralisadas por vários anos.

Vindo residir em Uberaba, em 1847, Antônio Borges Sampaio encontrou a Matriz nova inacabada, tendo apenas o telhado sobre os esteios e baldrames de aroeira, sem paredes nem assoalhos. Em 1848, o Cap. Joaquim Antônio Rosa retomou a sua construção cujas obras prosseguiram até 1856, sendo já celebrados na mesma, os ofícios religiosos. Esta Igreja passou por várias reformas e melhorias:

  • 1857 – Frei Eugênio construiu a Sacristia e o Adro.
  • 1859 – Joaquim Francisco Ananias construiu as duas torres, o coro, o arco-cruzeiro e o altar-mor.
  • 1868 – As torres foram revestidas de tijolos, argamassa e óleo.
  • 1874 – O relojoeiro Florêncio Forneri assentou o relógio em uma das torres.
  • 1880 – Foram colocados dois sinos, fundidos em Uberaba, por José Carlos Onofre.
  • 1889 – Vigário Carlos José dos Santos ordenou uma pintura externa na Igreja.
  • 1896 – As duas torres foram demolidas e edificada uma única torre, projetada pelo engenheiro Ataliba Vale, com características neogóticas.
  • 1899 – Com a transferência da sede do Bispado de Goiás para Uberaba, a Igreja Matriz alcançou as prerrogativas de Catedral.
  • 1907 – Com a inauguração da Igreja Sagrado Coração de Jesus (hoje Adoração Perpétua), para ser a Catedral, ela voltou a ser Matriz de Santo Antônio e São Sebastião.
  • 1926 – Dom Almeida Lustosa, 2º Bispo de Uberaba, transladou a Igreja Catedral para a Matriz de Santo Antônio e São Sebastião, com seu título de Sagrado Coração de Jesus, passando os Santos da primitiva Capela à Igreja da Adoração Perpétua.
  • 1933 – A matriz passou por sua última reforma total, permanecendo como está até os dias atuais. Foram acrescentados um transepto, capelas laterais e modificações no frontespício. O arquiteto responsável pelas obras foi Emanuel Giani.

Atualmente é cercada por grades de ferro, tendo à frente a Imagem de Cristo e nas laterais as imagens de Santo Antônio e São Sebastião.”
(ARQUIVO PÚBLICO DE UBERABA)

portugueses no holocausto

PORTUGUESES NO HOLOCAUSTO” : “Salvaram-se da Inquisição mas não das câmaras de gás”

por Lusa

Esther Mucznik , investigadora
Esther Mucznik , investigadoraFotografia © Rui Coutinho – Global Imagens

A investigadora Esther Mucznik afirma no livro “Portugueses no Holocausto” que os judeus descendentes de portugueses se “salvaram das fogueiras da Inquisição, mas não das câmaras de gás” nazis.

Mucznik cita o caso “de um dos grandes pintores da escola holandesa”, Baruch Leão Lopes de Laguna, de origem portuguesa, que morreu em 1943, no campo de concentração de Auschwitz – e “com ele desapareceram quatro mil judeus de origem portuguesa na Holanda, que acabaram nas câmaras de gás”, acrescenta a investigadora.

A autora de “Portugueses no Holocausto” lembra ainda que também havia luso-descendentes noutras partes da Europa, como deportados de Salónica, na Grécia, que acabaram mortos.

A investigadora procurou o rasto de portugueses e descendentes de portugueses que morreram devido às políticas de exterminação racial da Alemanha nazi, mas também atos de salvação de vidas, como os do diplomata Aristides de Sousa Mendes, cuja “coragem e sensibilidade à dor que o rodeava foram determinantes no salvamento de milhares de pessoas”.

Sousa Mendes não é o único. No Memorial dos Justos, em Jerusalém, consta também o nome de outro diplomata, Carlos Sampaio Garrido, e a investigadora cita ainda, entre outros, Alfredo Casanova, em Génova, Lencastre de Menezes, em Atenas, José Luís Archer, em Paris, Teixeira Branquinho, em Budapeste, e a infanta Maria Adelaide de Bragança que, em Viena, “não ficou indiferente ao sofrimento e não hesitou em ajudar a resistência”.

Em França, o português José Brito Mendes “arrisca a sua vida, escondendo a pequena Cecile”, cujos pais judeus tinham sido deportados para os campos da morte, como escreve a investigadora.

 

 

da Galiza (Pessoa, Inutilidades) por Isabel Rei

Da Galiza mensagem

Inutilidades

Pessoa no Livro do Desassossego: “Porque é bela a arte? Porque é inútil. Porque é feia a vida? Porque é toda fins e propósitos e intenções.”, era Bernardo Soares quem falava. Imaginemos Bernardo Soares, tristeiro apaixonado, enfastiado do capitalismo embrionário europeu, onde a primeira máquina já programava: fazer para algo.

[É certo que o Livro do Desassossego não foi publicado até ao 1982
mas a sua redação aconteceu nos começos do s. XX,
sendo a morte do autor em 1935]

Também Oscar Wilde no Retrato de Dorian Gray: “A Arte é completamente inútil”. O livro saiu do prelo em 1890, justamente quando a Era das Máquinas começava a invadir Europa. O escândalo foi maiúsculo e o autor redigiu várias cartas públicas na sua defesa.

[Para os meus botões:
O nosso dandy preferido deveu divertir-se como nunca!]

Pela mesma época de industrialização massiva, António Machado (1875-1939), andaluz de ascendência galega, fiava uns versos que diziam:

Sabe esperar, aguarda que la marea fluya
—así en la costa un barco— sin que el partir te inquiete.
Todo el que aguarda sabe que la victoria es suya;
porque la vida es larga y el arte es un juguete.

Y si la vida es corta
y no llega la mar a tu galera,
aguarda sin partir y siempre espera,
que el arte es largo y, además, no importa.

No começo do poder das máquinas “valer para algo” significava que a arte, a poesia, tinha o seu lugar prático numa cadeia de produção. Que a fariam encaixar no seu posto e fichar todos os dias. Que estaria desse modo realizando um labor proveitoso para a abstrata sociedade. Não consigo imaginar as páginas dum livro aprontando como um robô as tripas dum automóvel.

Porém hoje a lógica das máquinas, do poder, nos possui. Tomamos a nossa pílula diária em chips, objeto essência do fazer para algo. Assumimos como natural a utilidade de tudo e quase não entendemos por que é necessária a beleza do inútil, do concibido para nada. A estética do artifício, do ilusionismo, da fantasia, a arte como uma prática em si mesma. Pela contra, aventuramos uns objetivos práticos para as artes

[abrimos galerias visuais, tecemos fio musical, vemos produtos da marca Disney,
contratamos empresas de marketing, organizamos concursos, outorgamos prémios,
ingressamos nas enciclopédias, vendemos discos e livros
e até imagens em duas, três, quatro dimensões]

e disfarçamos de seriedade o brinquedo da invenção artística, o escutar por escutar, o ler por ler, qual o viver por viver. Esquecemos a noção da arte como artifício porque sim, máquina sem objetivo. Esquecemos que Arte é parte de Natura sem mais alvos do que existir a existência, essa colossal, poética e exemplar fantasia.

Eugénio Granell (1912-2001)

Eugénio Granell (1912-2001)

faleceu o maior retratista açoriano

 

Desapareceu fisicamente hoje o maior retratista de sempre dos Açores

FALECEU ARISTIDES ÂMBAR

Faleceu hoje às 9 horas da manhã de insuficiência cardíaca, no hospital de Ponta Delgada, Aristides Âmbar Raposo, um dos maiores artistas plásticos da atualidade. Natural dos Açores, Aristides Âmbar, impôs de forma natural, desde a adolescência, a sua genealidade, reconhecida pelas grandes vultos da pintura no nosso país e para além fronteiras para onde foram muitos dos seus quadros.
O reconhecimento veio também, felizmente ainda em vida, pelo Presidente da República Prof. Cavaco Silva, que há dois anos o agraciou, numa homenagem nacional, com o grau de Comendador da Ordem de Mérito.
Sendo um dos maiores retratistas do nosso tempo, desenhava um retrato como poucos. E, como se sabe, pintores há muitos, retratistas há muito poucos. Desenhou também, com uma sensibilidade quase extra-sensorial, naturezas mortas, reproduzindo sobremaneira a beleza dos verdes das nossas montanhas e vales, como o espelhado das nossas lagoas, jardins, parques e flores.
Aristides Âmbar era natural da freguesia de São José, em Ponta Delgada. Tinha dois filhos, o Tim e a Tina, deixando ainda uma neta, Bárbara, mais conhecida por Baguinha, bem como muitos amigos que o veneravam, pessoal e profissionalmente.
As artes nos Açores ficam mais pobres a partir de hoje com a partida deste enorme vulto do retrato.
O corpo de Aristides Âmbar estará em câmara ardente na ermida do crematório do cemitério de São Joaquim em Ponta Delgada.
À família, nesta hora difícil, endereçamos os nossos sentidos pêsames.

Desapareceu fisicamente hoje o maior retratista de sempre dos Açores FALECEU ARISTIDES ÂMBAR ... Faleceu hoje às 9 horas da manhã de insuficiência cardíaca, no hospital de Ponta Delgada, Aristides Âmbar Raposo, um dos maiores artistas plásticos da atualidade. Natural dos Açores, Aristides Âmbar, impôs de forma natural, desde a adolescência, a sua genealidade, reconhecida pelas grandes vultos da pintura no nosso país e para além fronteiras para onde foram muitos dos seus quadros. O reconhecimento veio também, felizmente ainda em vida, pelo Presidente da República Prof. Cavaco Silva, que há dois anos o agraciou, numa homenagem nacional, com o grau de Comendador da Ordem de Mérito. Sendo um dos maiores retratistas do nosso tempo, desenhava um retrato como poucos. E, como se sabe, pintores há muitos, retratistas há muito poucos. Desenhou também, com uma sensibilidade quase extra-sensorial, naturezas mortas, reproduzindo sobremaneira a beleza dos verdes das nossas montanhas e vales, como o espelhado das nossas lagoas, jardins, parques e flores. Aristides Âmbar era natural da freguesia de São José, em Ponta Delgada. Tinha dois filhos, o Tim e a Tina, deixando ainda uma neta, Bárbara, mais conhecida por Baguinha, bem como muitos amigos que o veneravam, pessoal e profissionalmente. As artes nos Açores ficam mais pobres a partir de hoje com a partida deste enorme vulto do retrato. O corpo de Aristides Âmbar estará em câmara ardente na ermida do crematório do cemitério de São Joaquim em Ponta Delgada. À família, nesta hora difícil, endereçamos os nossos sentidos pêsames.
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