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  • muito Estado na sociedade

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  • há 100 anos nasceu JOSÉ DIAS DE MELO escritor da baleação

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    Os Colóquios da Lusofonia na saga dos navegadores só arribaram ao arquipélago dos Açores em 2005 para debaterem a identidade açoriana, sua escrita, lendas e tradições. Em 2008 tiveram a presença do escritor da baleação, o picaroto Dias de Melo (falecido pouco depois)

    13.7. DIAS DE MELO, CRÓNICA 56, 24 SETEMBRO 2008

    “A ESPERANÇA NUM MUNDO MELHOR JÁ NÃO SERÁ PARA MIM, TALVEZ NÃO SERÁ PARA NENHUM DE NÓS E EU REVOLTO-ME COM AQUILO QUE VEJO À VOLTA DE MIM” DIAS DE MELO

    pintura de Tomáz Borba Vieira (1974)

    Hoje fiquei mais pobre e de novo órfão. Até maio deste ano pouco ou nada sabia sobre Dias de Melo[1] que esteve presente como Escritor convidado no 3º Encontro Açoriano da Lusofonia juntamente com o amigo Daniel de Sá. Eram eles os dois representantes da literatura açoriana que quis dar a conhecer a todos os que nem sequer sabiam da existência da mesma.

    Dias de Melo um operário, um agricultor, um pescador, um escultor que trabalha, ceifa, pesca e esculpe cada palavra, como se fosse um baleeiro do Pico, referência constante como o é Mestre José Faidoca, personagem presente nas histórias que também presenciou como homem do mar, pescador, marinheiro, mestre de lancha. Escreve como se da janela de casa, no Alto da Rocha na Calheta de Nesquim, vigiasse os botes e as lanchas da Calheta, baleando contra os Vilas e os Ribeiras. Andei quatro meses na descoberta da sinceridade da sua obra (que não estudei na totalidade apenas os títulos reeditados). Foi uma paixão literária, pois a escrita flui e embrenha-se como o nevoeiro em que os baleeiros se debatiam na luta inglória e injusta para ganharem a vida. Se tivesse que resumir o autor a palavra seria INJUSTIÇA. É da sua denúncia que trata ao abordar temas como a emigração, a vida no Pico natal, as realidades sociais e económicas, a repressão no Estado Novo, e para além dos dramas humanos na linguagem simples dos homens do povo, lá vem a injustiça.

    Não querendo ordenar classificatoriamente os escritores como se de autores de música popular se tratasse, o certo é que Dias de Melo ocupa lugar cimeiro e sinto-me extremamente honrado por ter trocado algumas palavras com ele, durante o colóquio e no jantar do primeiro dia de trabalhos. Não o conhecia, mas conhecendo as obras e a vida de luta fica-se com a sensação de o termos conhecido sempre, de pertencermos à mesma família, uma espécie de alter ego daquilo que gostaríamos de ter sido. Autor e compositor de música popular, Dias de Melo ficará inexoravelmente conhecido como o escritor da baleação e da condição humana. Coube-lhe a sorte de ter recebido algumas merecidas homenagens públicas nos seus últimos meses de vida quando viu a 2 de maio 2008 (véspera do Encontro Açoriano) reeditar algumas das suas melhores obras. Cumpre-nos a nós não deixar que a sua memória se esvaneça e porfiar para que os seus livros sejam lidos por todas as novas gerações.

    Herman Melville na sua epopeia da Moby Dick na qual retrata alguns açorianos, não conseguiu resumir a essência dos baleeiros como Dias de Melo pois este era um espetador atento da luta quotidiana e resolveu dá-la a contar ao mundo. Disso vos trago testemunho com a saudade que a sua morte nos deixa a partir de hoje.

    [1] Do autor: Toadas do Mar e da Terra (1950), “Crónicas do Alto da Rocha do canto da Baía, Das Velas de Lona às Asas de Alumínio” Lisboa, Salamandra. (1991), Aquém e Além-Canal. Lisboa, Salamandra. (1993), A Viagem do Medo Maior. Lisboa, Salamandra. (1994), Memória das gentes 6 vols. (Livro I, três volumes). Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1990), Na Memória das Gentes (Livros II e III, três volumes). Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1992), Cidade cinzenta, Mar Rubro (1958), Pedras Negras (1964 Lisboa, Portugália (3.ª ed., Salamandra, 2003; trad. inglesa, 1988; trad. japonesa, 2005). 4ª ed. VerAçor 2008) , Mar pela Proa (1976 Lisboa, Prelo Editora (2.ª ed., Vega, 1986). (1979), Vinde e Vede. Lisboa, Editorial Ilhas. (1983), Vida Vivida em Terras de Baleeiros. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1983, 1985), O Menino Deixou de Ser Menino. Lisboa, Salamandra. (1992), Pena Dela Saudades de Mim. Lisboa, Salamandra. (1996), Inverno sem primavera. Lisboa, Salamandra (2.ª ed., 1997).1999, Milhas Contadas. Lisboa, Salamandra. (2004), Poeira do Caminho. Porto, Campo das Letras. “Tempos últimos” , “O muro amarelo”, O Autógrafo. Lisboa, Salamandra. (2002), Poeira do Caminho (2005)

     

    DIAS DE MELO MAIO 2008 NO 9 COLÓQUIO DA LUSOFONIA

    Por isso escrevi

    Que Dias de Melo era um operário, agricultor, pescador, escultor que trabalhava, ceifava, pescava e esculpia a palavra como um baleeiro, pescador, marinheiro, mestre de lancha da Ilha do Pico. Escreveu como se da janela da sua “Cabana do Pai Tomás” no Alto da Rocha na Calheta de Nesquim, vigiasse os botes e as lanchas da Calheta, baleando contra os Vilas e os Ribeiras

     

    Sinto o sortilégio. O mágico cume tem um íman que atrai a visão e nos desconcentra, sempre insistindo para o contemplarmos nas suas mil e uma facetas alteradas a cada segundo.

     

    Satisfiz a curiosidade de visitar a casa de Dias de Melo. Nas viagens anteriores ainda não conhecia o autor. Ali, espartanamente vivera, numa casa pequena e humilde, ora telhada de novo mas com o desconforto da minúscula casa de banho exterior no piso térreo. Em cima, o autor dormia, comia e escrevia. Do pátio exterior avistava-se a imensa mancha de Mar Oceano ponteada pelo pequeno farol da Calheta de Nesquim que serviria de inspiração a tantos dos seus livros.

    Há cinco anos que não visitava a ilha mágica, o Pico magnético que me atrai e seduz.

    Um dos primeiros locais que quis revisitar foi a casa de José Dias de Melo no Alto da Rocha do Canto da Baía. Aí perdi as palavras, as silvas retomaram posse de terrenos em tempos bem tratados e cuidados, a portinhola de madeira, na entrada, estralhaçada com as ripas no chão. As pedras soltas do caminho de acesso à casa, o abandono total à espera de uma decadência que a casa não merecia por mais pobre humilde que sejam as suas origens e as do seu habitante mais celebrado e ora esquecido.

    Foi há apenas cinco dias que as palavras se me acabaram. Foram-se. Esgotadas. Caladas.

    Silentes como o breu da noite. Arrebatadas por alguma força alienígena que não entendo.

    Sempre disse que um povo que não respeita a sua história e os seus vultos acabará, mais cedo ou mais tarde, como povo e dele restará um punhado de notas para a História.

    Tentei saber o porquê do abandono, falaram-me de disputas entre herdeiros e editores.

    Não quis saber então, e muito menos quero agora. Há desculpas que a gente não engole. Até podem ser reais ou legais ou mesmo morais, mas nem por isso se tornam mais aceitáveis, palatáveis.

    Um dos mais ricos patrimónios, ainda mal explorado, dos Açores é a sua riqueza literária. Há anos que venho pugnando e propondo a autarquias e entidades várias, a criação de roteiros culturais locais, para se celebrar a memória de autores e de suas obras, os seus passos terrenos, os locais onde nasceram e viveram, onde escreveram, onde sofreram e sonharam. Os passos que davam nas suas caminhadas diárias, as paisagens que os inspirava, os sons e os cheiros que rodeavam o seu meio-ambiente.

     

    Fiquei imensamente triste, pensei que ia encontrar a casa aberta ao público, como espaço museológico, com um guia habilitado, a falar-nos das suas lutas, da sua escrita e vim a encontrar estas imagens que me compungem. Estas palavras que me abandonaram servem apenas para lançar um apelo pungente aos herdeiros do escritor para que honrem a sua memória e não deixem morrer a casa que bem serviria para contar as suas histórias de baleeiros.

     

    Há bens imateriais que se deviam sobrepor a quaisquer vantagens materiais desta propriedade a caminho da ruína. Sei que a memória do homem e da sua obra podem ser dignificados e acredito que o serão, para preservar este cantinho de um autor que soube sempre honrar o Pico natal. É este Pico que amo e quero ver enaltecido, em vez de entregue às silvas e ervas daninhas que nunca quebraram nem amedrontaram o escritor dos baleeiros.

     

    A contrastar a autarquia asfaltara o pequeno caminho de acesso, outrora irregular e em gravilha solta. Este o aspeto degradado a que deixaram chegar a casa a contrastar com aquele que tinha em 2009, um ano após a sua morte.

    2016 2009

    DIAS DE MELO MAIO 2008 NO 9 COLÓQUIO DA LUSOFONIA

    Da última vez que aqui estive na ilha em 2011, em pleno centro de São Miguel Arcanjo, ao andar rumo à casa do escritor Cristóvão de Aguiar deparei com uma camioneta de passageiros, estacionada, aguardando o início de nova semana de trabalho.

    Ali me ocorreu a ideia peregrina de como seria culturalmente interessante a aventura de “pedir emprestada” a carripana, começar a percorrer as aldeias (ditas freguesias nas ilhas) e gravar as histórias que os passageiros fossem contando.

    A viagem não teria destino.

    Duraria tanto quanto as histórias dos seus passageiros.

    Não se cobrariam bilhetes.

    Pararia em todos os locais, para que contassem histórias e lendas do local onde paravam.

    Que livro maravilhoso não daria esse compêndio de histórias apanhadas ao acaso daqueles que tomassem o autocarro dos sonhos.

    Assim me despedi da ilha prometendo voltar com mais tempo.

     

     

    Caderno 3 Dias De Melo C/ Glossário https://www.lusofonias.net/acorianidade/cadernos-acorianos-suplementos.html#

    Suplemento 3 Dias De Melo – https://www.lusofonias.net/acorianidade/cadernos-acorianos-suplementos.html#

     

    Vídeo Homenagem Dias De Melo https://www.lusofonias.net/documentos/video-homenagens-aicl/2671-homenagem-dias-de-melo-2009.html

  •  Amor de Vitorino Nemésio

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  • roma antiga e eua

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    May be an image of 5 people and text that says "Olena Rohoza @OlenaRohoza hoza os Estados Trump disse que Unidos e a Itália são aliados desde a época da Roma Antiga. A reação da Antiga tradutora não tem preço! 1OMENTS AGO HE WHITE HEWHITEHOUSE HOUSE"

     

    e os colóquios da lusofonia são lusitanos do tempo de viriato…

  • O papel das mulheres portuguesas na construção da comunidade luso-canadiana no Quebeque

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    Chrys Chrystello a autora vai estar no 40º colóquio nas Flores de 23 a 27 abril

    O papel das mulheres portuguesas na construção da comunidade luso-canadiana no Quebeque e na integração na sociedade local está em destaque num livro lançado no dia 27 de março nas instalações da Associação Portuguesa do Canadá, em Montreal. A obra, “Mulheres Portuguesas no Quebeque – Caminhos de Liberdade”, coorganizada por Joaquina Pires e Aida Baptista, reúne 40 testemunhos de mulheres imigrantes e lusodescendentes que marcaram a vida comunitária no Quebeque, em diferentes gerações e contextos.
  • homenagem a Manuel Augusto de Amaral

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    Ontem, prestei a minha sincera e humilde homenagem a Manuel Augusto de Amaral, grande homem, professor e poeta da nossa ilha, com a presença de alguns dos seus familiares e de pessoas que me tocam o coração.
    Foi um momento bonito e emotivo, que me permitiu “estar” com este grande senhor, não só através da exposição, como pelas conversas que tive com quem lá esteve. Obrigada a todos pela presença e pelo que me fizeram sentir.
    E obrigada, mais uma vez, à Biblioteca Municipal Tomaz de Borba Vieira, nas pessoas da Teresa Viveiros e na Sra. Vereadora da Câmara Municipal de Lagoa, Albertina Oliveira, pelo desafio proposto, que me levou a um mundo de descobertas bonitas e cheias de emoção. Agradeço, também, a todos os funcionários desta Biblioteca, que estiveram presentes em vários momentos da exposição, desde o seu início, até ao dia de ontem (sem eles, esta também não seria possível).
    Não se esqueçam que a exposição estará patente até 18 de maio, para todos os que a queiram visitar.
    Deixo-vos, aqui, um bonito registo fotográfico do que foram os momentos de ontem, com fotos de Duarte Jorge Sousa.
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    Pedro Paulo Camara, Raquel André Machado and 87 others

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  • COINCIDÊNCIA DA NOVELA DA HELENA CHRYSTELLO

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    A HELENA NA SUA NOVELA PASSA MUITO TEMPO COM A SUA PERSONAGEM PRINCIPAL CLARA VIEL EM COTENTIN, nem de propósito no dia em que o livro dela foi apresentado na Letras Lavadas, o canal 91 NOS dava este filme Meurtre à Cotentin…. Até há pouco nunca na vida ouvira falar de Cotentin e agora é esta coincidência inacreditável…e o filme interessante

     

    Meurtres à…S7 E5 – Meurtres en Cotentin

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    Séries & fictions

    2018

    1 h 32 min

    Français

    A l’aube, dans un étang pris dans les brumes, le corps d’un homme est retrouvé, des branches de genêt disposées autour de lui. François Lehodey, promoteur immobilier sans scrupule, avait de nombreux ennemis. Mais plusieurs témoins disent avoir croisé une jeune femme rousse vêtue de blanc. La capitaine de gendarmerie Hélène Ribero est épaulée dans son enquête Alice Hamel, naguère suspectée d’être la Dame blanche, enfant du pays partie vingt ans plus tôt quand elle s’est retrouvée orpheline après l’incendie de la bergerie de ses parents. Si elle est revenue, est-ce pour chercher
  • Mulher de 52 anos morre após atropelamento e fuga nos Açores

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    Uma mulher de 52 anos morreu hoje em São Miguel, nos Açores, depois de ter sido atropelada por uma viatura cujo condutor fugiu do local, sem prestar o devido auxílio à vítima, disse à Lusa fonte policial.

    Source: Mulher de 52 anos morre após atropelamento e fuga nos Açores