Uma defesa do Facebook

POSTAL DOMINGO
Uma defesa do Facebook
1.
As redes sociais são uma latrina. Um lugar de ressentidos, de gente que parece ser feita de asco, um esgoto a céu aberto.
Nos últimos anos muitas são as opiniões que diabolizam o Facebook (e todas as outras redes sociais). Um intelectual que se preze tem de malhar forte e feio na opinião sem mediação, na soberania do consumidor, nos perigos de contaminação, na manipulação da informação, na propaganda dos fascistas, nos negócios espúrios.
Muitos têm reduzido o Facebook a isso. Uma dimensão do Mal, um cavaleiro do Apocalipse, uma ignomínia.
Ainda hoje, num jornal desportivo, um jornalista queixou-se do Facebook, chamava-lhe um esgoto – como se o mundo do futebol antes das redes sociais fosse o Jardim do Éden.
2.
Ao longo destes anos também eu fui aqui atacado. Regra geral a generalidade das pessoas tem a tendência de gostar apenas dos textos que vão ao encontro daquilo que já pensam. Existe pouco o esforço de pensar e avaliar argumentos contrários ao que já se tem incorporado. Somos maniqueístas – queremos o branco e o preto, o sim ou o não, a verdade ou a mentira, os bons ou os maus.
Sou atacado e defendido em função do que vou escrevendo. A mesma pessoa que me insulta num dia é capaz de dizer que sou extraordinário noutro dia. Faz parte. Mas eu não me posso queixar, sou nesse aspeto um verdadeiro privilegiado.
3.
É tudo verdade o que se diz, mas também é verdade o contrário.
No Facebook encontrei pessoas extraordinárias. Encontrei ideias magníficas. Li e acompanhei notícias que não estão nos jornais ou não passam nas televisões. Conheci heróis de carne e osso. Comprometi-me por combates justos – pela igualdade, pela cultura, contra o racismo, a favor da democracia, contra a tirania e a violência doméstica.
No Facebook encontrei-me a mim próprio. Nos textos que escrevi e que partilhei pude conhecer amigos para a vida. Gente a quem abraço como se fossem família. Aqui aprendi a pensar sobre o que era banal, aqui tentei oferecer textos que pudessem chegar a todos (doutorados e com o ensino primário).
4.
O Facebook é tudo o que somos fora do Facebook.
É uma latrina, mas é também o céu e o Sol.
É o Mal absoluto, mas também o Bem absoluto.
É perverso, mas também solidário.
O Facebook é o nosso espelho. Se somos sombra, o espelho reflete em dobro o que somos. Se somos luz, refletirá naturalmente a luz em duplicado.
Somos o que regamos.
No Facebook e fora do Facebook.
E estou farto que desvalorizem o que faço aqui.
Por isso, hoje… digo-vos que vale a pena estar aqui. Porque entre a luz e a sombra ganha sempre a luz quando a escolhemos. E entre aquilo que ganhei e o que perdi não tenho a mais pequena dúvida de que estou a ganhar.
Obrigado por isso. Que sejamos o espelho uns dos outros… se viermos para o Bem.
Ah.
E amanhã voltamos a encontrar-nos.
LO
Fotografia Bárbara Monteiro/Gerador
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