lembrar Maiakosky, Brecht etc

ABRIr powerpoint MAIAKOVSKI

em 2007 no meu livro ChrónicAçores alertei-vos para este perigo que hoje é mais real do que nunca…daqui a cinco anos será demasiado tarde

LEIAM O QUE ESCREVI HÁ TANTO TEMPO….

CRÓNICA 87. I HAD A DREAM II. O SILÊNCIO DOS BONS. DO DEGELO A MAIAKOVSKI, DE 26 outubro 2010 (TRABALHO DESENVOLVIDO SOBRE A CRÓNICA 37)

87.1. OS FILHOS

” O que mais preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem-caráter, dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons” Martin Luther King

Deputados, administradores de bancos e empresas públicas com reformas chorudas e corrupção. Lucros exorbitantes nos bancos e empresas com administradores ex-ministros, ex-deputados, ex-qualquer coisa recebendo dividendos desmedidos.

“… O que podes fazer pelo teu país?” perguntou J. F. Kennedy.

Os professores escolhidos para bode expiatório com carreiras congeladas. Os alunos, sem estudarem, passam para não estragarem as estatísticas em Bruxelas e para a ministra fazer um brilharete. Pena é que só seja um fogacho de curta duração que os vindouros lamentarão. Querem-se políticos a pensarem no país, a congelarem uns 150 deputados inúteis, a desburocratizarem, a pensarem no progresso da Nação sem betão nem alcatrão. Queremo-los num hospital, repartição, tribunal, transportes públicos coletivos, a tirarem o seu número na fila sem privilégios nem mordomias, sem um médico de família, como milhões de portugueses.

Devaneei que o país tinha deixado de ser Lisboa. Idealizei aldeias, crianças em escolas reativadas, campos cultivados e os mais idosos a usufruírem de boas reformas. Não podia continuar silente. Tinha de erguer o meu grito de revolta porque aquilo que todos ouvimos é apenas o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem-caráter, dos sem-ética. Ando há meses a matutar neste tema.

Nos Açores, no princípio do ano (2006), nada havia de relevo nacional ou mundial a assinalar, a não ser a repetição de tradições. Era o dia dos amigos, seguido uma semana depois pelo das amigas, agora deturpado das origens. Uma mera desculpa para umas jantaradas com sessões de striptease masculino ou feminino, conforme a audiência.

Entretanto, começavam na quarta-feira de cinzas as habituais romagens (como aqui se chama às peregrinações) que durante as semanas seguintes iriam encher as estreitas estradas com o seu colorido e os seus cânticos noutra manifestação de fé ancestral, também esta mesclada de paganismo religioso.

O que se passa, de facto (mas como é invisível não é comentado), é a perda irreparável dos laços tradicionais entre pais e filhos, muitas vezes apenas mantida através da “compra” da sua presença por viagens e estadias.

Tinha observado o fenómeno não só no seio da família alargada, mas em famílias que me rodeavam e em todas se verificava idêntico fenómeno.

Lembrava-me de, durante as mais de duas décadas e meia em que estive expatriado, sempre ter tido o cuidado de voltar de férias a Portugal para ver pais e filhos.

Ainda hoje lamurio que com os gastos dessas viagens não tivesse aproveitado para viajar mais pelo Pacífico, ir à Nova Zelândia, Fiji, Nova Caledónia, Filipinas, Vanuatu e outras ilhas.

Não é que tivesse saudades, pois essas perdera-as pelos 23 ou 24 anos.

Cria piamente que tinha a obrigação de vir a Portugal ver os de cá, já que, os de cá jamais iriam lá…por mais bilhetes de avião que lhes mandasse ou por mais súplicas que fizesse.

Lastimo-me por não ter ido a outras terras, mas vim para estar com a família, alargada a primos e descendentes.

Mantive sempre este vínculo a um passado mítico. Só muito mais tarde viria a desmistificar.

Os filhos gémeos, mais velhos, foram crescendo a milhas. O contacto era mais assíduo enquanto estavam todos longe. A partir do momento em que passei a residir no país, esse convívio foi-se esvanecendo.

Por mais tentativas que fizesse, nunca consegui repô-lo ao nível da distância. Acabei por me acomodar.

Aceitei a opção deles, que nunca a minha.

Tudo mudara ao radicar-me, em 1996, definitivamente neste cantinho à beira-mar prantado. Foi como se uma barreira, até aí inexistente, se erguesse. Como pai, pretensamente almejado, porque longínquo, passei a ser indesejado.

Talvez, penso ingenuamente, por ter deixado de ser o pai “rico” dos presentes…Estando aqui, ao pé, podia querer intrometer-me na vida deles. Nunca o fizera.

Não eram esses os desígnios, nem esboçara tenção de o fazer.

Enquanto o benjamim Johnny Boy crescia (e já ia nos dez anos), a filha estava na Austrália (já há anos sem vir, depois duma série de visitas dos 8 aos 13 anos).

Qual não fora o espanto quando (fevereiro 2006), me comunica que decidira juntar dinheiro para vir ver o pai e demais família …

Assim o fez e muita alegria dera.

Pouco antes (dezembro 2005), voamos pelo Atlântico mar para passar o Natal com a octogenária mãe. Era sempre eu quem fazia os esforços de deslocação, pois reconhecia (se bem que começasse a ter sérias dúvidas) que os filhos tinham esse dever. Até então, esperava que os seus e os dela fizessem o mesmo. Não tivera essa sorte.

O primo de Ponta Delgada tem duas filhas expatriadas, em Lisboa e em Angola. Regularmente vêm visitá-lo (quando não são eles a irem lá). O segredo: apostou nos incentivos económicos à vinda delas. Outro casal tem filhos únicos aqui noutras ilhas. São eles que cá vêm. A alternativa era enviarem bilhetes de avião para os filhos os visitarem.

Discordo.

Já decidi que, a partir de agora, quem vier cá virá à sua custa, sem subsídios. Então não apregoo que faço os colóquios sem subsídios?

Estive [e estava ainda] sempre disposto a fazer tudo o que fosse preciso pelos pais. Sonhara durante anos que isso se repercutiria. Já não tenho ilusões. A relação não era biunívoca, as gerações não eram estanques.

Que se passou, entretanto no país e no mundo?

Erramos na educação dada aos filhos?

Não lhes inculcamos valores pelos quais nos guiamos durante a vida?

Não soubemos transmitir esses laços?

Algo de errado devemos ter feito.

Ou será apenas a sociedade que já nada tem a ver com a nossa.

O casamento deixou de ser uma meta. Os jovens agora amancebam-se para ver se dá.

Para pagarem menos impostos. Se não der ou quando não der, é muito mais fácil e económico, cada um vai à sua vida.

Os filhos não programados vêm quando vêm.

Depois logo se vê. Entretanto, usufruem da vantagem de os pais serem à moda antiga.

Sempre vão colaborando com o que for preciso para terem a alegria de verem o/a/s neto/as… Havia, na sua infância, uma palavra para os definir: palonços….

Os filhos irão aprender à custa própria, como os pais fizeram e antes deles os avós e tantos outros.

Esta apenas é uma reação ao envelhecimento e à evolução tecnológica brutal, que ocorre em volta, para a qual esta minha geração não estava preparada.

Como qualquer revolução, deixa uns mais preparados que outros para arrostar com provações e prosseguir.

Quando os filhos aprenderem as duras realidades do custo de vida é bem provável que telefonem aos pais a solicitar a comiseração.

Mais um pequeno subsídio para enfrentarem as dificuldades.

Estou profundamente cético e negativista, nesta matéria, pois sei que a velhice (com ou sem subsídios) vai encontrar um grande silêncio por parte deles (filhos/as), incapazes de nos verem envelhecer como vira envelhecer e soubera aceitar graciosamente as mudanças que isso implicou nos seus pais.

A missão de pai já não é a mesma. Hoje para além de trabalhar e garantir o sustento da família, deve educar e orientar em vez de conduzir a vida dos filhos.

Por mais ocupado que possa estar, deve dispor de tempo que não tem para conversar e estar junto aos filhos. É um engano pensar que estes irão de alguma forma pensar automaticamente que os amamos pelo simples facto de amar.

É necessário um esforço constante e consciente para partilhar os verdadeiros sentimentos e pensamentos por meio de palavras, de uma maneira aberta e confortável. Principalmente, de atitudes e exemplos.

É preciso estar ciente que com o passar dos anos muitas coisas evoluíram e se transformaram, inclusive no que diz respeito à relação entre pais e filhos.

Não podemos agir como os nossos pais agiam no passado. Estamos em constante evolução e nada melhor que muito bom senso e muito amor para educar os nossos filhos, para manter um bom relacionamento.

Na Austrália havia 97% de coisas positivas, mas queixava-me dos 3% que abominava, pela inumanidade de tratamento dos pais pelos filhos. Ao vir para Portugal pensava encontrar aqui esses 3% que me tinham feito falta.

Enganara-me, ambos os países tinham sociedades similares de desprezo pela terceira idade.

Já sabia como desiludira os meus pais durante décadas.

Queriam de mim uma imagem outra, dum espelho em que eu não estava, e a que não pertencia. Nada disso pedia aos meus filhos.

Iria agora tentar concentrar-me no mais novo. Dar-lhe o mais que pudesse da sua geração, em termos de experiência e de conselhos úteis.

Beneficiara de ter vivido mais tempo com ele do que qualquer um dos outros. Para mim foi ótimo. Seria recíproco?

Quanto ao resto forçosamente iria fazer os mesmos telefonemas que fazia para a minha mãe, sem me lembrar de que raramente recebia um telefonema dos filhos. Se queria saber deles teria de tomar a iniciativa. Curiosamente, a sua mãe começava a estar aflita e a contar a toda a gente que se arrependia de ter obstado a deixar-me seguir a carreira das Letras e Humanidades que ele pretendia.

Sossegara-a, estava perdoada. Não fizera mal. Chegara, na mesma, ao seu destino. Tivera de fazer uns milhões de quilómetros de desvio, mas chegara. Já não recrimino os meus pais por não me terem deixado seguir Direito em Coimbra.

Escrevera direito por linhas tortas. Assim corriam as modas (fevereiro de 2007).

87.3. DO DEGELO A MAIAKOVSKI

Entretanto chegam as notícias do que vai pelo mundo e são cada vez mais animadoras para os pessimistas. No Ártico, o degelo dos glaciares e icebergues prossegue a ritmo galopante. Em menos de um século é provável que aquele continente gelado desapareça da mesma forma que os gelados de verão desaparecem: derretidos. Não é caso para alarme dizem uns, que comentam que mesmo que o planeta parasse instantaneamente as suas emissões de CO2 hoje, já nada conseguia parar o degelo e o aquecimento global desta pequena parcela de universo onde vivemos. Plenamente de acordo. Isto só prova o progresso da humanidade. Imparável como está, só terá retrocesso quando o homem deixar de existir à face da terra. Aliás que é que 250 mil anos de Homo sapiens deixaram de herança? A guerra, a fome, e tantas outras qualidades boas que seria cansativo enumerá-las.

Cumpre recapitular: quem continua errado sou eu e não o mundo. Já na Gronelândia e na Terra de Magalhães o degelo é visível e cada vez mais acentuado. Preocupados como andam todos com os cartunes islâmicos, com as ameaças de terrorismo, com a guerra do Iraque e outras coisas quejandas, só darão conta do aquecimento global quando a água chegar ao pescoço, ou seja, quando a costa portuguesa já permitir tomar banho de mar em Coimbra, Leiria ou Grândola….

Claro que este ponto de vista em nada afeta o meu otimismo. Não espero durar até aquela catástrofe acontecer. O melhor é ensinar o mais jovem filho a nadar. Nesta ilha só os lugares altos, como aquele onde vivemos, ficarão acima do nível das águas do mar…

Há problemas mais prementes: o aumento das taxas moderadoras da saúde é uma autêntica descoberta olímpica. Como toda a gente sabe os pobres não são afetados, apenas os ricos que vão deixar de frequentar clínicas privadas. A partir de agora vão optar por esperar umas tantas horas em espaços insalubres, sem cadeiras nem outras condições, a verem um qualquer funcionário público da saúde, horas a fio, a carimbar guias, enquanto um qualquer médico, esforçado e abnegado, não tem disponibilidade para ver de que se queixam os pacientes que às dezenas tem de atender. Não há nada que uma aspirina e outra qualquer receita antiviral não resolva numa manhã ou tarde bem passada num qualquer centro de saúde português. Ninguém contabilizou a produtividade perdida, as horas de espera inútil em que o país não produz pois tudo anda de espera em espera, do hospital ao centro de saúde…

Na véspera tinha ficado todo o pequeno país imensamente satisfeito com a ida do primeiro-ministro, José Pinto de Sousa, o Sócrates pequeno, à Finlândia para copiar aquele modelo de sucesso nórdico. Não havia muito tempo, outro colega de nome Barroso, el Durão, quis copiar a Irlanda. Estas sim são medidas acertadas. Em vez de nomearem comissões para estudarem o problema e apresentarem sugestões, agora vai-se a um qualquer país que funcione bem.

Depois na fotocopiadora reproduz-se o sistema deles, mesmo que os homens e mulheres não sejam nem altos, nem louros nem tenham olhos azuis, nem bebam cerveja preta. Pode usar-se uma artimanha e colocar implantes oculares, tipo lentes de contacto, com aquela cor. Como já quase todo o mundo pinta o cabelo, bastava generalizar o uso desse tom.

Por que é que isto não foi pensado nem feito antes? Tinham-se poupado milhões de euros em estudos e em comissões que nunca epilogaram nem propuseram nada digno de ser aplicado. Deve ser por isso que o país se atrasou tanto. Mas com tanto betão a mexer-se para os lados do novo aeroporto e com a velocidade supersónica do TGV, ninguém se apercebeu de que os últimos exemplares do comboio Foguete (dos anos 50 e 60) estão a apodrecer em Elvas pois não há dinheiro para os recuperar. Todas as linhas de caminho-de-ferro para o interior vão desaparecendo, seguindo a lógica racional e pragmática de que os velhos não contam nem votam.

Todas as linhas de caminho-de-ferro para o interior vão desaparecendo, seguindo a lógica racional e pragmática de que os velhos não contam nem votam. Ótimo era acabar com todos os serviços no interior para que toda a sua população possa desfrutar do ótimo clima à beira-mar plantado. Mudam-se, de vez, para a costa. Mesmo que desapareça em breve.

Nos últimos anos, a Europa já ensinara que a agricultura portuguesa não dava nada e o melhor era importar tudo de Espanha onde fazem a agricultura a sério. Como extinguem escolas, maternidades e outros serviços no interior, fica mais barato transmutar todos para a cidade. Terão um bom nível económico e uma qualidade de vida superior à que teriam se continuassem a viver em casas de pedra sem condições, para onde a energia elétrica custa milhares a ser transportada, mais as linhas de telefone fixo, mais o saneamento e o abastecimento de água. Tudo isto já existe nas cidades e no litoral. Entende-se a pertinência desta lógica.

Anda o Estado a gastar dinheiro, a construir estradas e autoestradas, pontes, viadutos e túneis para o interior, de custosa manutenção, quando se sabe que lá não vive ninguém (ou quase). Vai-se a qualquer aldeia e são só meia dúzia de velhos. Já começaram a transferir as crianças para as cidades, logo na escola primária. Basta fazer o mesmo aos velhos. Depois de verem o progresso urbano nunca mais querem regressar para o atraso e provincianismo das aldeias.

Há uma óbvia vantagem neste esquema. As aldeias parecem agradar aos turistas que começam a ir mais regularmente conhecê-las, desviando-se da rota universal do Allgarve, essa floresta de betão implantado em tudo o que era praia ou nesga de areia. Assim, o mais lógico trazer os velhos para a cidade, pois, entretanto, morrem. Depois, nas terras deles, poderão plantar-se uns campos de golfe. Como sabem, este desporto é praticado por milhões de aficionados portugueses. Sempre dá mais dinheiro do que plantar batatas, dado haver um excesso de produção da variedade portuguesa da semilha.

A Europa decidira o mesmo quanto à pesca portuguesa, que tão boa fama tivera em tempos saudosos. O melhor era aboli-la para que ficasse mais barato aos espanhóis virem cá pescar, levar e tratar o peixe na terra deles. Depois, voltavam para o colocar no mercado mais barato do que se tivesse sido pescado em Portugal por portugueses, tratado em lotas portuguesas e vendido por varinas portuguesas.

Intrigado, pergunto-me porque é que isto não foi pensado há mais tempo? Teriam evitado todo este atraso, que como devem saber, é causado pelos fundos estruturais que ao longo de décadas se canalizaram para o interior profundo do país. Romanticamente, tentou-se manter uma agricultura de subsistência sem rentabilidade à custa do sacrifício dos pobres agricultores iletrados.

Dada a sua falta de aproveitamento em programas de qualificação profissional e pessoal, como o “Novas Oportunidades” tiveram de fazer inúmeros sacrifícios como levantarem-se pelas 5 da manhã e trabalharem até ao pôr-do-sol, para receberem uns tostões pelos legumes que os hipermercados vendem por euros. Toda a gente já sabia que se esses agricultores vivessem na cidade não precisavam de se esforçar tanto. Não vale a pena cultivar uma couve-galega na varanda ou na “marquise” para fazer um caldo verde. Além do mais era proibido. Jamais teria a aprovação da ASAE, essa polícia todo-poderosa, omnisciente e omnipresente que ora dita o que cada um pode e deve comer. Já lhe chamavam a PIDE do nosso descontentamento.

Se bem que houvesse muita coisa a precisar de ser vigiada e controlada, passou-se dos oito aos oitenta numa manifestação de excesso de zelo tão típica da costa atlântica. Depois, como é sabido em sociedades evoluídas, a matança caseira do porco e doutros animais está condenada por todas as organizações ambientalistas por se tratar duma prática ancestral aberrante. Além disso, fere de morte a suscetibilidade e sensibilidade do animal, pois este deve ser morto nos matadouros devidamente licenciados para o fazerem nos moldes higiénicos e salutares propugnados pela União Europeia.

O campo é bonito é para se passear nas férias e levar lá os putos (como quem os levava dantes ao zoológico) para verem como se vivia antigamente, coisa que eles decerto nem vão acreditar. A única diferença é que este zoo já não teria bípedes em exposição por detrás das grades, mas reproduções e filmes deles no seu habitat natural. Sempre se aproveitava para manter a tradição viva e ensinava-se a história dos antepassados.

Este método de ensino é mais económico. Mais proveitoso que ir a um museu, que, como sabem, fecha nas férias, feriados, dias santos e ao fim de semana. Se os turistas querem ir aos museus portugueses é meramente para cobiçar o que lá existe. Quiçá, para tentar roubar umas peças sagradas para contrabandearem para as terras deles, que nada têm de valor, comparado ao que existe em Portugal…

Era com este tipo de humor sardónico e cáustico que enfrentava diariamente este mundo alienígena. Essa boa disposição fazia aflorar-me uma espécie de sorriso que raramente mostrava, fosse a quem quer que fosse. O fácies era sisudo, como fora a de meu pai, resguardado no silêncio e na aparente antipatia para se proteger dos que o rodeavam.

87.4. UM TEMPO ANTIGO E O POLITICAMENTE CORRETO

Vivo num mundo diferente e não me espanto de blogues que se limitam a recordar:

UM TEMPO EM QUE:

Havia liberdade de andar nas ruas às tantas sem ser assaltado,

Havia segurança de emprego e desenvolvimento económico sem esmolas,

Se podia dar e receber boleia sem ser assaltado,

Os que viviam no ventre materno e os idosos, eram respeitados,

Não se era torturado permanentemente e de todas as formas por publicidade falaciosa,

Se podia confiar nos outros e havia PALAVRA,

Não havia carjacking nas ruas ou bullying nas escolas,

As pessoas preocupavam-se mais com o ser do que com o ter,

As crianças eram respeitadas nas escolas sem lavagens ao cérebro ou violadas na sua natural sensibilidade,

Havia políticos ao serviço da Nação e não ao serviço dos seus bolsos e os dos amigalhaços,

Uma fundação tinha uma intenção altruísta e não servia para camuflar tráfico de influências, diamantes, marfim etc.,

O horário de trabalho não ia além das 48 horas semanais em vez das 65 horas que querem impor,

Eram construídas escolas, liceus, centros de saúde, bairros sociais, hospitais, universidades, etc.,

Os criminosos estavam nas cadeias em vez de ocuparem lugares de poder,

Um aluno que fizesse a 4.ª classe sabia ler, escrever, fazer contas, e apontar onde ficava o Minho, o Algarve ou Timor,

Ninguém concluía o 5º ano do liceu (9º ano de escolaridade), tirava uma licenciatura ou doutoramento por cunha de qualquer espécie, mas antes, tinha que mostrar o seu mérito,

Portugal não tinha que andar a curvar a cerviz, frente a torcionários, por causa do petróleo como esse primeiro-ministro Sócrates (apenas no nome), amante de ditadores (Hugo Chávez, Putin, José Eduardo dos Santos) em troca do petróleo manchado de sangue, que lhe podia proporcionar.

Sem questionar o feminismo ou outros ismos: antissionismo, antialentejanismo, antilourismo (das loiras) todas as piadas são objecionáveis por se basearem em estereótipos da sociedade, sejam eles humanos, animais ou até mesmo políticos, que não são uma nem outra coisa. Assim, depois de todas as pessoas defensoras desses “ismos” terem colocado as suas objeções, porque são a favor do Obama ou do Bush, ou do Sócrates, porque se baseiam em estereótipos de mulher, de louras e louros, de alentejanos, de políticos e políticas (mas destas ainda há poucas), de judeus (e outras religiões como o cristianismo ou islamismo por ex.), de nacionalidades ou continentes de origem como com os africanos, os pobres, os ricos, os estudantes e os professores, os animais (mesmo aqueles que estão nas malas dos carros junto com a esposa ou esposo), verão o que fica: NADA.

Acabava-se o humor.

Ao reproduzir, adiante, Maiakovski e Brecht, pretendo alertar que me sinto muito mais incomodado com a violência, gratuita ou não, com as imagens cheias de “innuendo” (insinuações) da TV, desde os telejornais às séries, pois essas são as armas de estupidificação globalizante que a todos corroem. O humor usa a linguagem dos estereótipos que hão de ser substituídos com o tempo assim como a frase “bota-de-elástico” foi substituída por “cota“. Desde a década de 1980 vi surgir a censura dissimulada em fundamentos razoáveis e aceitáveis, pretendendo sanitizar as mentes. Já o vi na Austrália quando o politicamente correto foi introduzido na linguagem em meados daquela década.

Como tradutor profissional tive de o seguir, mas como ser humano, inteligente (no sentido de pensante) recuso-o tanto hoje como ontem. Com o politicamente correto acaba-se o humor. Esse é o cerne da questão que ninguém quer ver. Deve lutar-se contra a discriminação, em todas as suas formas, contra o assédio sexual, político e outros, lutar contra a proposta nova norma europeia (trabalho até 68 horas semanais), lutar contra o salário mínimo de miséria e de exploração (reminiscente do início da Revolução Industrial), contra as quotas ou falta delas nos elencos femininos do governo, contra a falta de acesso a pessoas com deficiências de qualquer tipo. Lutar contra isso tudo mas deixem o humor de lado, a menos que seja difamatório (mas sem ser pelas normas norte-americanas), grosseiro, imoral, amoral. Quando se definira o politicamente incorreto, foi porque o politicamente correto era a forma mais fascista de sanitizar a língua, o pensamento e a vida em geral, criando uma sociedade assética e inócua. Todos iguais e cinzentos de acordo com a norma. Ninguém precisa de pensar nisto pois o futuro provará a sua veracidade melhor do que o Orwell alguma vez podia prever no 1984 ou outros ensaios semelhantes: a realidade já ultrapassou a ficção há muito. Quem primeiro o antecipou foi Maiakovski – poeta russo “suicidado” após a revolução de Lenine que escreveu ainda no início do século XX:

Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.

Como não sou judeu, não me incomodei.

No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.

Como não sou comunista, não me incomodei.

No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.

Como não sou católico, não me incomodei.

No quarto dia, vieram e me levaram;

já não havia mais ninguém para reclamar…”

Martin Niemöller, 1933, símbolo da resistência aos nazistas.

Parodiando o pastor protestante Martin Niemöller, símbolo da resistência nazi:

“Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima,

Depois incendiaram os ónibus, mas eu não estava neles;

Depois fecharam ruas, onde não moro;

Fecharam então o portão da favela, que não habito;

Em seguida arrastaram até a morte uma criança,

que não era meu filho…”

Cláudio Humberto, 09 fev. 2007


Primeiro levaram os negros

Mas não me importei com isso

Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários

Mas não me importei com isso

Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis

Mas não me importei com isso

Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados

Mas como tenho meu emprego

Também não me importei

Agora estão me levando

Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém

Ninguém se importa comigo.

É PRECISO AGIR

Bertold Brecht (1898-1956)

***

Um passeio com Maiakovski

Na primeira noite

eles se aproximam

e colhem uma flor

de nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite,

já não se escondem:

pisam as flores,

matam nosso cão,

e não dizemos nada.

Até que um dia,

o mais frágil deles,

entra sozinho em nossa casa,

rouba-nos a lua, e,

conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz

da garganta.

E porque não dissemos nada,

já não podemos dizer nada.

Tudo que os outros disseram fizeram-no depois de ler Maiakovski.

Incrível é que após mais de cem anos dessa lição, ainda nos encontremos tão desamparados, inermes e submetidos aos caprichos da ruína moral dos poderes governantes, que vampirizam o erário, aniquilam as instituições, e deixam aos cidadãos os ossos roídos e o direito ao silêncio: porque a palavra, há muito se tornou inútil! Agora, o politicamente correto ameaça o humor.

Não era só aqui que a situação se cifrava preocupante. Havia novos canudos, por encomenda, a passagem de todos os iletrados de qualquer nível do ensino, a massificação da ignorância nacional, o entorpecimento da mente através de uma programação subliminar, previamente preparada em gabinetes de psicologia de guerra. O alvo era a destruição dos pilares tradicionais da sociedade contemporânea portuguesa, incluindo a família, professores, juízes, médicos, militares e outras instituições. Visava um plano sabiamente arquitetado por maçonarias, Clube Bilderberg[1] e outros, usando como cabeça de turco essa divindade humana que acumulava funções com as de primeiro-ministro. Do livro de Daniel Estulin “A Verdadeira História do Clube Bilderberg” cito passagens que ajudam a entender o que aqui tento explicar:

A verdadeira história do Clube Bilderberg é uma narração da subjugação impiedosa da população por parte de seus governantes.

Um Estado Policial Global, que ultrapassa o pior pesadelo de Orwell, com um governo invisível, omnipresente, que manipula os fios desde a sombra, que controla o governo dos EUA, a União Europeia, a Organização Mundial de Saúde, as Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e outras instituições similares.

E, o mais espantoso de tudo, formula os projetos futuros da Nova Ordem Mundial.

A técnica do Clube Bilderberg consiste em submeter a população e levar a sociedade a uma forte situação de insegurança, angústia e terror, de maneira que as pessoas cheguem a sentir-se tão exaltadas que peçam, aos gritos, uma solução, qualquer que seja.

Essa técnica tem sido aplicada aos gangues de rua, às crises financeiras, às drogas e ao atual sistema educacional e prisional.

Com relação ao sistema educacional é necessário dar a conhecer que os estudos realizados pelo Clube Bilderberg demonstram que conseguiram diminuir o coeficiente intelectual médio da população.

Para conseguir isso não só manipulam as escolas e as empresas, mas também se têm apoiado na arma mais letal que possuem: a televisão e seus programas de baixo nível, para afastar a população de situações estimulantes e conseguir assim entorpecê-la.

O objetivo final desse pesadelo – ou dessa “confusão dos diabos”… – é um futuro que transformará a Terra num planeta-prisão por meio de um Mercado Globalizado Único – que tornou o mundo plano -, vigiado por um Exército Mundial Único, regulado economicamente por um Banco Mundial.

Será o mundo habitado por uma população controlada por microchips cujas necessidades vitais terão sido reduzidas ao materialismo e à sobrevivência: trabalhar, comprar, procriar, dormir, tudo conectado a um computador global que supervisionará cada um de nossos movimentos.

Os membros do Bilderberg “possuem” os bancos centrais e, portanto, estão em condições de determinar os tipos de interesses, a disponibilidade de dinheiro, o preço do ouro e quais os países que devem receber quais empréstimos.

Ao movimentar divisas, os membros do Bilderberg ganham milhares de dólares.

A ideia era criar uma sociedade dócil, massificada na sua ignorância através das “Novas Oportunidades” e de outros diplomas a “martelo”, incapaz de pensar, de argumentar, de discursar ou filosofar. Como os professores mais novos já pertenciam a essa “colheita”, em breve, toda a nação portuguesa se regeria por esse protocolo entorpecente. Seria depois muito mais fácil, manipulá-los, enganá-los e explorá-los. Por outro lado, toda a sociedade iria depender economicamente do Estado para desenvolver os seus projetos e as suas atividades.

Cada vez mais, a teia se enrolava em volta do pescoço de Portugal, como uma cascavel, sugando toda a vida e liberdade. Nem Salazar nem Orwell conseguiram conceber um plano tão maquiavélico. Jamais teriam os meios de o implementar. Perguntar-se-á, ninguém dá conta? Alguns darão, mas como não podem escrever livremente, nem os jornais ou telejornais aceitariam um discurso crítico destes, o povo fica sem acesso a essas opiniões divergentes. Incapaz sequer as equacionar.

Dentro de uma ou duas gerações, Portugal terá a população mais dócil e manipulável de toda a Europa Ocidental. Todos diplomados, licenciados, mestrados, com diplomas de literacia, mas poucos saberão ler e escrever e menos ainda terão a capacidade de discernir ou pensar livre e criticamente. A nova ditadura, instaurada agora sub-repticiamente como um vírus informático, esconder-se-á sob o manto diáfano da democracia.

[1] Durante os últimos 50 anos, um grupo seleto de políticos, empresários, banqueiros e poderosos em geral tem-se reunido secretamente para planejar as grandes decisões que movem o mundo e que, depois, simplesmente acontecem.

O livro A Verdadeira História do Clube Bilderberg, de autoria do jornalista e especialista em comunicação Daniel Estulin, que há 13 anos investiga as atividades secretas do Clube Bilderberg e que foi ganhador de três prémios de pesquisa nos EUA e Canadá, aponta quem aciona os controle por detrás da fachada das organizações internacionais conhecidas. O livro foi editado em 28 países em 21 idiomas