Views: 4
Na edição deste ano, concorreram 2.619 livros de autores residentes em 28 países.
Source: Português Nuno Júdice e brasileira Micheliny Verunschk vencem prémio de literatura Oceanos
Views: 4
Na edição deste ano, concorreram 2.619 livros de autores residentes em 28 países.
Source: Português Nuno Júdice e brasileira Micheliny Verunschk vencem prémio de literatura Oceanos
Views: 7
Por vezes acontecem ideias a meio da noite ou em sonhos de despertares súbitos. Totalmente exsudado despertei e entendi a máquina que move os humanos. Lembrei-me das civilizações de Grécia a Roma. Entendi pontos obscuros da teoria dos multiversos, ou universos paralelos e o que há de comum em toda a História. Locke é considerado como “o último grande filósofo que procura justificar a escravidão absoluta e perpétua”. Ao mesmo tempo que dizia que todos os homens são iguais, defendia a escravidão a exemplo de Aristóteles, que foi o primeiro a fazer um tratado político defendendo a escravidão. Nesse tempo era comum, Locke era um homem da época – o que não diminuiria a importância das ideias, revolucionárias em relação ao seu tempo.
Há mais de 2500 pessoas todos os meses a arriscar a vida na fuga à guerra, à fome, violações, escravatura, para uma grande parte morrer afogada no Mediterrâneo, ou ficar detida em novos campos de concentração de Ceuta a Itália, Grécia etc., mas a TV não está lá. No Congo, ex-Belga, de mil e uma guerras e de um genocídio (poucos falam, seriam 10 milhões? Fora os amputados e outros) há milhares de crianças de 4 anos e mais, escravas, a trabalharem em minas a céu aberto, para produzirem minerais indispensáveis aos telemóveis que todos usamos (ex.º lítio), mas a TV não está lá. Na Palestina a vida miserável nas pequenas faixas de terra que Israel ainda não anexou, não permite que uma criança tenha infância, só existe um caminho o do ódio e da guerra contra os opressores, mas o Facebook não permite mostrar e a TV não está lá. Na Líbia e noutros locais longe do alcance das câmaras de televisão há crianças, mulheres e homens a serem vendidos como escravos (menos de 20€ por cabeça), como acontecia há cinco séculos, sempre aconteceu, e a imagem abaixo ilustra (Líbia) mas também não estava lá a TV durante horas a comentar o preço de venda de seres humanos, com a corte de comentadores especializados. Não sabemos quantos milhares de afegãos ficaram sem poderem escapar aos talibãs em agosto 2021. O mesmo nas imagens dos aborígenes australianos em pleno séc. XX. Nem quantos iemenitas não puderam fugir da guerra que se perpetua no seu país, e na Somália, e em tantos outros locais.
“A escravidão não é coisa do passado e nunca foi tão lucrativa”.
O alerta vem do advogado, autor e ativista Siddharth Kara, um dos principais especialistas em tráfico de pessoas e escravidão, temas que leciona na Universidade de Harvard. “Nenhum país é imune e somos todos cúmplices. A escravidão permeia a economia global mais do que em qualquer momento do passado”, diz. A estimativa é que a escravidão gere lucros de 150 biliões de dólares por ano. Há 21 milhões de escravos no mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Nos últimos 17 anos, Kara entrevistou mais de 5 mil pessoas que estão ou estiveram nestas condições em mais de 50 países.
Mas afinal de que escravidão falamos? Há uma forma generalizada e comum: “Nunca ninguém foi verdadeiramente livre” por mais aparência que existisse, como as gerações entre 1960 e 2000, em que mais liberdadezinhas houve no mundo ocidental. Sempre houve normas e convenções, embora a humanidade tenha estado dependente dos desígnios da minoria mandante que dita os moldes da escravidão em cada era, desde a fixação do horário de trabalho, à remuneração, recompensa por bom comportamento dos súbditos, até à existência ou não de tempos de lazer, se tal não afetar a capacidade produtiva. Ninguém escapa a esta engrenagem, nem mesmo os que, pretensamente, vivem off-the-grid (fora da rede), pois necessitam de bens produzidos pelo sistema e a troca direta “barter”, nem sempre é possível. Os desprovidos são os desempregados, sem-abrigo e os que fugiram ao ciclo produtivo, com liberdade de fazerem o que quiserem desde que seja gratuito, o que os limita a viverem à sombra da bananeira, numa ilha deserta, rica para a alimentação, vestuário e outras necessidades. Só é possível em literatura de ficção. Os senhores do mundo, usam os instrumentos ao seu dispor, desde a escravatura materialista das sociedades contemporâneas à religião, à contrainformação, aos espetáculos circenses que reproduzem a máxima romana de “pão e circo (panem et circenses)” que vai dos mundiais de futebol a outros alegados desportos dominados pela máfia do dinheiro, anestesiando as massas e criando escape a sentimentos reprimidos. Basta averiguar o mito das férias que perpetuam a escravatura consumista. Se estiver numa ocupação produtiva remunerada, provavelmente recebe um montante extra para gastar, caso contrário, nem subsídio de férias. Se (por ex.º) viver na Lomba da Maia, sem dinheiro extra nem carro, vai a pé 4 km até à Praia da Viola e chamará a isso férias, ou aproveitará o tempo para cuidar da casa, pintá-la ou renová-la com o seu trabalho gratuito e chama a isso de férias. Se vai para fora (cá dentro ou lá fora) de férias e já entrou num esquema de crédito ao consumo, nunca mais se libertará do ciclo vicioso de trabalhar para pagar ao banco o que pediu emprestado e os juros exorbitantes da invenção a que chamam dinheiro. Endividou-se para estudar, então trabalhe, para reembolsar a banca, que sobrevive explorando-o a si e aos demais. Se pensa que não é um escravo, pense na vida dos seus antepassados e (na grande maioria dos casos) verá como é apto o título desta crónica. E se pensa que os donos disto tudo são livres, desengane-se, sem nós, escravos perpétuos, eles nada são e têm de se certificar constantemente de que há muitos escravos para manterem o sistema a funcionar. Por mais oleado que o esquema esteja, precisam de inventar continuamente novas normas e retribuições, fake news, para que a roda dentada da engrenagem continue a funcionar e dar lucros, cada vez maiores. Até eles são escravos da escravatura que impõem aos outros. Seria uma vida mais livre e menos escrava antes de se ter inventado o dinheiro? Não há relatos fidedignos. E os poetas, sonhadores, escritores, enganam-se pensando que são livres, apenas na realidade virtual atingem esse modicum enganoso de liberdade. PENSE BEM NISTO ANTES DE COLOCAR O SEU VOTO NA URNA E DECIDIR QUEM O VAI GOVERNARAborígenes australianos em cativeiro séc. XIX-XX.
Views: 6
https://acores.rtp.pt/programa/cultura-acores-t5/
https://www.rtp.pt/play/p13316/e813857/cultura-acores-t5
Views: 10
Gosto imenso da ilha de Santa Maria que fui conhecer em 2006 depois de me radicar em São Miguel (2005) e antes de descobrir as restantes. Tem gente capaz, bons escritores, e uma história riquíssima, além de caraterísticas únicas da Vila do Porto. O autor Pedro Almeida Maia esteve lá a lançar o seu livro IlhAmérica que narra uma epopeia de fuga da ilha, em tempos idos, e encontrou o cinema, reconstruído há dois anos, vazio, a aguardar equipamentos e reinauguração. Não encontrou o porto espacial da Malbusca que devia ter entrado em funcionamento em 2021, nem o recife artificial por afundamento do antigo navio da Marinha Portuguesa, NRP Schultz Xavier, nem a velha Torre de Controlo do aeroporto restaurada a rigor, nem reabilitadas as casas prefabricadas (do bairro do aeroporto) dos norte-americanos, nem um museu da segunda grande guerra, nem as estradas recuperadas e asfaltadas como todos clamam há anos. Entrementes continua a não se aproveitar o potencial do enorme aeroporto que a tantos tem servido de salvação, agora que o Concorde não existe e a navegação transatlântica ali não reabastece exceto em emergências. Encontrou as belezas naturais, que essas o homem ainda não destruiu, e os sedimentos fossilizados que pontilham a ilha, nem todos de fácil acesso e daí ainda se manterem preservados. Vem isto a propósito de nestes anos todos que levo dos Açores, pensar que a ilha mais parece um novo Triângulo das Bermudas, onde as inovações (salvo o novo largo em frente à Câmara Municipal) tendem a desaparecer antes de se concretizarem, ou raramente se concretizam, seja por má vontade política, incompetência governamental, inoperância e burocracia ou outra razão que a todos escapa. Existe gente ativa com blogues e publicações a alertar para isto mas as queixas mergulham nas profundezas abissais sem rasto. Recordo as minhas impressões da ilha em 2006 esperando que estas não caiam na fossa das Bermudas…
A primeira coisa que nos chamou a atenção foi a falta de gente na ilha. Em especial à noite, vista do Hotel, Vila do Porto só mostrava os postes de iluminação pública acesos, as casas estavam (na maioria) às escuras. Para perceberem porque é nos sentimos numa ilha temos de perceber a dimensão e a sua pequena população… A capital, Vila do Porto é a mais antiga das vilas açorianas, onde se podem ainda observar vestígios de velhas casas, do Capitão Donatário com janelas do séc. XV. Santa Maria foi a primeira a ser descoberta. Alegadamente foi Diogo Silves em 1427.
É a única com grandes proporções de terra de origem sedimentar, onde se podem encontrar fósseis marinhos. As casas estão espalhadas e as chaminés lembram o Algarve. As terras são muito férteis e a paisagem rural é de grande beleza. Foi a primeira a ser povoada, vê desembarcar das caravelas em 1439, o punhado de pioneiros que se fixaram na Praia dos Lobos, na ribeira do Capitão. João Soares de Albergaria, sobrinho do primeiro Capitão Donatário e seu herdeiro, deu novo impulso ao povoamento trazendo famílias, sobretudo algarvias. Até final do séc. XV, Santa Maria regista grande desenvolvimento, e o primeiro foral de vila nos Açores foi concedido à localidade desde então denominada Vila do Porto. A prosperidade da ilha assentou, até final do séc. XVIII, no pastel, considerado o melhor do Arquipélago e em abundância, e na urzela, exportados para as tinturarias da Flandres, além da cultura do trigo, que tinha procura no Continente e abastecia as praças-fortes portuguesas do norte de África. Dedica-se à agricultura, vinhedos, trigo, milho, batata, inhame, pomares, à pecuária e laticínios, Santa Maria atravessou, sem sobressaltos, os sécs. XVIII e XIX, se excetuarmos a presença de um contingente de jovens entre as tropas que participam no desembarque do Mindelo em plenas guerras liberais. O séc. XX traz dinâmica e progresso, com a construção do Aeroporto em 1944, de grande valor estratégico durante a Segunda Guerra e ponto de escala obrigatório nas travessias atlânticas, até finais da década de 60. Quando estive pela primeira vez em Santa Maria, viajei de volta à minha adolescência tendo fascinado prédios e instalações antigas, em especial as instalações do enorme aeroporto, da Vila do Porto. Tudo me encanta e remete ao passado azafamado da Segunda Guerra, quase coetâneo do meu nascimento. Até pensei em tentar fazer um projeto de recuperação das instalações. Nessa data – e já lá vão uns anos – ainda não era a Câmara Municipal responsável por muitos desses equipamentos urbanos. Imaginem só, se fosse possível das instalações desativadas construir um verdadeiro museu vivo em homenagem ao esforço da Segunda Guerra, seria possível reproduzir artesanalmente dentro daquele espaço incrível a vida no tempo da guerra. Haveria lugar para o artesanato que os visitantes poderiam levar de lembrança, criando oportunidades e revitalizando a Vila do Porto. Até agora deixaram acabar quase tudo o que era importante preservar. Assim se reporia a verdade sobre um povo maravilhoso que merecia maior respeito pela história e património, uma pena… falta converter tudo num Museu vivo e recolher exemplares de relíquias da guerra.
Views: 2
Hoje, acordei particularmente tarde mas bem-disposto. Ao abrir a caixa de Pandora do mundo da ciência descobri o título que me fascinou: E SE NADA FOSSE REAL (nova hipótese argumenta que o universo simula a sua própria existência). Trata-se de artigo do Quantum Gravity Research Institute que visa unificar as mecânicas quânticas com uma perspetiva não-materialista. Seremos reais? E se tudo que cremos ser real, as pessoas, e os eventos da nossa vida não existissem, mas fossem uma simulação complexa? Já, em tempos, o filósofo Nick Bostrum se interrogava “Estamos a viver numa simulação de computador?” Tratar-se-ia de simulações deveras complexas criadas por seres muito evoluídos. Contudo, a nova teoria exclui os seres evoluídos e indaga “Será uma autossimulação que é gerada pelo próprio pensamento?” Não disponho de conhecimentos suficientes, e de física quântica nada sei, para tentar seguir a argumentação dos autores desses artigos. Penso ou sinto, que seria mais agradável se nada fosse real, e fosse simulado ou imaginado. Seria benéfico, se pudéssemos apagar da memória coletiva, a chamada história da humanidade, a maioria dos acontecimentos de que há memória: confrontos violentos, guerras, destruição arbitrária e aleatória, a própria maldade humana inerente a todos os seres que simulam tal realidade? Seria possível ao pensamento evoluir para uma realidade menos destrutiva, menos desigual, menos escravocrata? A simulação que temos vivido nestes milhões de anos de existência simulada de humanoides narra uma história de uma minoria a dominar a maioria dos seres sencientes, meros escravos cuja única razão de ser é a permitir a existência dessa minoria dominadora. Até agora o grande ponto fraco da IA (inteligência artificial) tem sido o de ser concebida e criada por humanoides, pelo que resta saber se um dia se independentiza e consegue conceber-se sem as falhas humanas que lhe deram origem. Será então capaz de criar uma autossimulação da realidade totalmente distinta da atual e pode então decidir que o melhor destino dos “homo sapiens sapiens” é o de serem escravos dessa mesma inteligência artificial, bem menos imperfeita do que aquilo que vemos na atual ordem mundial. Ou alternativamente, pode decidir que não precisa dos humanos para nada. E é por isto que, às vezes, apetece pensar que nada do que experienciamos é real.
Views: 4
Somos todos culpadosA FIFA continua o contorcionismo para levar o Mundial de 2034 para a Arábia Saudita. E isso é tão mau como acharmos que é a única que está mal na relação com quem desrespeita direitos humanos.
Cristiano Ronaldo, o ministro do desporto, Gianni Infantino, presidente da FIFA, e Mohammed bin Salman, o príncipe herdeiro saudita, ideólogo maior do sportswashing com que pretende abrir caminho à diversificação da economia do país Palavras: 1317. Tempo de leitura: 7 minutos (áudio no meu Telegram). No Verão passado, fui convidado pelo Carlos Vaz Marques para apresentar, na Feira do Livro, a edição portuguesa de Jogos de Poder, uma obra de Jules Boykoff que a Zigurate lançou por cá e que percorre as relações quase sempre perigosas estabelecidas ao longo dos tempos entre o olimpismo e a exploração do homem pelo homem. Ainda tentei desmarcar-me, pois não percebo nada de Jogos Olímpicos, mas em boa hora lá fui, porque isso foi um pretexto para reencontrar o meu bom amigo Luís Lopes, ex-companheiro de redação no Público e a maior enciclopédia viva do desporto em Portugal, que dividiu comigo o palco. E para ler o livro – que vale bem a pena, quanto mais não seja porque nos explica que há sempre camadas em tudo o que é a tentação maniqueísta de dividir o Mundo entre bons e maus. Nestas coisas, como é bem exemplo neste momento a polémica em torno da atribuição do Mundial de 2034 ao regime autocrático e desrespeitador de tudo o que são os mais básicos direitos humanos da Arábia Saudita, é sempre bom relativizar. Mas relativizar não significa compactuar. Nem com um Mundial como forma de lavagem de imagem pelo desporto nem com a hipocrisia dos que acusam a FIFA mas depois vão todos contentes atrás do dinheiro que vem dos mesmos sítios com máscaras legitimadoras. O Último Passe é a minha crónica diária, acessível a todos e entregue por Mail a qualquer subscritor. Para a ler antes da hora de almoço, aceder a outros conteúdos, receber os textos em audio, participar em tertúlias com a comunidade e apoiar o meu trabalho, avalie a hipótese de se tornar subscritor Premium. A questão do Mundial de 2034 voltou à ordem do dia por causa de um relatório comprado, perdão, encomendado, perdão, pedido pela organização saudita ao escritório de Riad da firma londrina AS&H Clifford Chance, onde eram avaliadas as condições para que o regime de Riade recebesse um Mundial de futebol. A Amnistia Internacional e a Human Rights Watch já tinham denunciado “graves deficiências” no dito relatório. “Se não se fizerem reformas amplas, serão detidos todos os que tiverem atitudes críticas, discriminar-se-ão mulheres e pessoas LGBTI e explorar-se-ão trabalhadores numa escala massiva”, disse então Steve Cockburn, subdiretor da Amnistia Internacional. Esta semana viu a luz do dia um estudo da Play The Game, uma Organização Não Governamental dinamarquesa criada com a ideia de “fortalecer a base ética e promover a democracia, a transparência e a liberdade de expressão no desporto”, no qual se identifica a vastidão da operação de lavagem conduzida por Mohammed bin Salman – e vale muito a pena ouvirem o episódio de Heroes & Humans of Football que lhe é consagrado – da qual fazem parte “pelo menos 910 contratos com profissionais ou entidades desportivas”. A visão do poderoso MbS na tentativa de diversificação da economia saudita, para a tornar menos dependente do petróleo, passa muito pelo desporto e pela capacidade de atração que ele potencia, mas será um erro olhar para Zurique e para a FIFA e apontar-lhes o dedo de uma forma exclusiva. Porque a verdade é bem mais dolorosa: nestas coisa não há inocentes. Somos todos culpados. Incluindo a FIFA, mas não excluindo quase tudo o que é responsável da nossa tão querida Europa Ocidental dos valores. Ofereça uma subscrição no Natal Se comecei por vos falar do livro de Boykoff foi precisamente para reforçar a hipocrisia que está sempre associada a estas coisas e que isso não acontece só no futebol e por causa da sua transformação em indústria dos milhões. O olimpismo, afinal de contas, é o quê? O que era a obsessão do barão Pierre de Coubertin pelo amadorismo, ainda hoje apontada por muitos como a defesa da pureza do desporto, senão a exclusão classista dos desfavorecidos, que ele defendia de uma forma descarada? O desporto, na visão de Coubertin, era para aristocratas, para os que não precisavam de trabalhar para comer. Aos atletas que, não possuindo outras fontes de rendimento, se faziam pagar para o praticar era vedada a participação nos Jogos. O que era o impedimento da participação de mulheres nas primeiras edições dos Jogos da era moderna, onde elas apareciam só para enfeitar as cerimónias de entrega de medalhas, senão a mesma discriminação que lhes vedava o direito de voto e que por essa altura era combatida pelas sufragistas? Era ou não verdade que tanto Coubertin como Juan Antonio Samaranch, presidente do COI até 2001 – e depois presidente honorário vitalício – eram simpatizantes da ideologia nazi? Os Jogos Olímpicos foram ou não, tal como os Mundiais de futebol, exemplos de lavagem e promoção de regimes desrespeitadores dos mais básicos direitos humanos ao longo das eras? Tivemos o Mundial de futebol de Mussolini em 1934 e os Jogos Olímpicos de Hitler em 1936… Era o espírito da época? Mas o que dizer da atribuição dos Jogos de 1968 e do Mundial de 1970 ao México do PRI e da corrupção? Da cedência aos blocos dominantes e abertura aos boicotes nos Jogos de 1980 em Moscovo e 1984 em Los Angeles, tornando o desporto uma arma de peso na Guerra Fria? Da atribuição do Mundial de 1978 à Argentina do general Videla e do de 1982 à Espanha que, à data da votação, ainda vivia debaixo do jugo do general Franco? Da entrega, aparentemente por ingenuidade de Blatter, do Mundial de 2018 à Rússia de Putin? Ou, depois, por clara e já provada interferência do presidente francês Nicolas Sarkozy na inversão de tendência de voto europeu, do Mundial de 2022 ao Qatar do emir Al Thani? Instale a App. É gratuita e em 2025 vai dar jeito:
|
É o dinheiro a falar, sim. Muitas vezes se ouve esta justificação, num misto de resignação com esperteza saloia. Há quem diga que que esta cedência a quem pode pagar permite que os desportistas sejam cada vez mais bem recompensados, como há quem prefira ver o outro lado da coisa e reconheça que, sim, houve uma exploração indecente de mão de obra imigrante na construção dos estádios onde se jogou o Mundial do Qatar, levando a inúmeras mortes, mas que as coisas teriam sido muito piores se não tivesse havido Mundial e supervisão da FIFA. E por um lado, sim, talvez isso seja verdade. Há uma parte de nós que quer achar que só porque aparece sempre a afagar um gato, Blofeld, o mau do 007, se calhar até tinha um fundo bom e que tudo o que precisaria era de um impulso – o impulso que nós vamos dando a autocratas ao permitir-lhes organizar estas grandes competições. Hoje, porém, estou convencido de que essa não é a motivação maior. Blatter pode ter sido ingénuo na sua relação com Putin até ao dia em que, tendo a Rússia alargado a intervenção original na Crimeia ao resto da Ucrânia, nem os assessores do déspota russo lhe atenderam o telefone ou responderam aos e-mails, assim lhe frustrando o sonho de receber um Nobel da Paz por acabar com a guerra. Mas há cada vez menos espaço para essas ingenuidades. Se Sarkozy pressionou Michel Platini a mudar os votos da UEFA a troco de uma injeção de capital qatari em setores fragilizados da economia francesa, se o governo britânico de Boris Johnson pressionou a Premier League a aprovar a compra do Newcastle United pelo fundo soberano do reino saudita para não perder outros negócios, por exemplo do setor dos automóveis de luxo, se os sauditas estão a comprar tudo o que é desporto, do golfe ao ténis, agora com ameaça de entrada no rugby, a conclusão a tirar não é a de que a FIFA está a ceder. A FIFA sempre cedeu, como o COI sempre cedeu. E, o que é mais grave, os nossos governos também sempre cederam. Nós é que tardamos em reconhecer que somos todos culpados e que é preciso fazer um risco no chão, porque há coisas que deviam ser inegociáveis. E a dignidade humana é a maior de todas elas.
Dois meses grátis na subscrição anual
|
Views: 3
Já em 2003, recém-chegado da Austrália, imaginei Portugal com roteiros culturais dedicados aos seus autores, como então escrevi em “A língua portuguesa e a UE alargada”, 2003-06-02 Revista ELO |
Quem se lembrou de incluir roteiros turísticos literários a locais celebrizados pelos monstros sagrados da literatura dos sécs XIX e XX? Alguns constam dos vulgares roteiros paisagísticos, mas falta organizar a leitura desses autores, e a divulgação nesses locais [como em abril 2003 com o prémio Camilo Castelo Branco a Mega Ferreira]. Disponibilizavam-se traduções ou reedições (económicas, sem luxos) para os milhares de turistas que quererão vir a Portugal. Lucrava o país, editores, operadores turísticos e a língua. Podíamos começar com Saramago e um roteiro às terras de origem acompanhado de leitura de obras suas, disponibilizadas em línguas dos países da UE, passando por locais evocados em “A Cidade e as Serras” e paisagens dos Açores de Nemésio, à Brasileira de Pessoa ou a Monsanto de Fernando Namora. Convidavam-se professores jubilados que amam a Língua Portuguesa para falarem das mil e uma nuances de cada um, pedia-se aos autores vivos que disponibilizassem um dia do calendário para falar ou ler a sua obra num cenário apropriado. Estou certo de que a organização de tais eventos custaria menos do que muitas funções oficiais já agendadas.
Posteriormente, com a morte em 2008 de Dias de Melo e de Daniel de Sá em 2013 propugno a criação de casas-museu como forma de homenagear aqueles autores e a sua obra, uma na Calheta de Nesquim e outra na Maia micaelense. Agora que o Cristóvão de Aguiar abandonou as vestes terrenas, e depois de falar com os filhos reitero a necessidade de uma Casa-Museu na localidade de S. Miguel Arcanjo, São Roque do Pico para onde ele se mudou na década de 1990 e ali fez a sua segunda casa. Os filhos estão dispostos a repor toda a sua biblioteca e manter a casa tal como estava quando ele a habitava a fim de que possa ser convertida num local dedicado ao autor e às suas obras. (mas face ao desinteresse do governo regional e autarquias, a casa foi vendida.) Se a região autónoma dos Açores tivesse uma verdadeira Secretaria da Cultura esta deveria inscrever já no orçamento regional montantes destinados a adquirir as casas daqueles autores e convertê-las em Casa-Museu. Uma região que não honra a memória dos seus maiores nas letras e artes não pode arrogar-se o direito de falar na sua história e muitos menos dizer que tem cultura. É essa visão que sempre faltou a esta autonomia envergonhada em que vivemos. Propositadamente deixei de fora todos os outros autores que merecem idêntico tratamento e concentro-me nestes três pois com eles lidei e deram contributo de relevo aos nossos Colóquios da Lusofonia. Se o governo não quiser, que seja a autarquia de São Roque do Pico a tomar a dianteira e a iniciativa e a ficar na vanguarda desta merecida homenagem ao prolífico autor Cristóvão de Aguiar. Fico à espera.
Views: 3
Há muito que me debato com esta dúvida. Se em 1947 as potências mundiais tivessem considerado a rica composição genética portuguesa como predominantemente judaica, que o é, juntamente com miríade de outras miscigenações, e tivesse decidido dividir os Açores em Estado de Israel e Região Autónoma dos Açores, pode ser que as coisas até tivessem ocorrido sem problemas de maior nos primeiros anos. Embora os açorianos (exceto em S Miguel) se tivessem fortemente rebelado contra o domínio castelhano 1580-1642 não haveria grande oposição inicial. Só quando os colonatos judeus começassem a ocupar todas as ilhas e os descendentes de açorianos se tivessem de refugiar no Corvo uma ilha de 17 km2 (com um quarto de milhão de habitantes seria quase tão densamente habitado como Macau) é que a “intifada” açoriana teria maior expressão, mas seria como David e Golias, uma fisga contra canhões e submarinos. E compreende-se que do Corvo podiam disparar “rockets” e mísseis contra as restantes 8 ilhas pondo em perigo a nação israelita dessas ilhas e sua homogeneidade, apesar de todos os habitantes do Corvo trabalharem em fábricas e serviços israelitas doutras ilhas, onde não poderiam viver, tendo que retornar diariamente ao Corvo para dormir.
Salam Kawakibi
Pois bem a história real é parecida mas acontece no Médio Oriente berço das religiões e local eternamente em conflito. São já 73 anos de guerra, fruto da divisão da Palestina a 14 de maio 1948, no termo do mandato britânico. Em 1914 o território fazia parte do Império otomano. Em 1939 a Grã-Bretanha era o poder colonial e Turquia e Irão eram independentes. Em 29 de novembro de 1947, por 33 votos a favor, 10 contra e 13 abstenções, a ONU divide a Palestina do mandato britânico em dois Estados: um judaico e um árabe. A Resolução 181 previa uma união económica e colocava Jerusalém sob estatuto internacional. Os dois Estados seriam territórios descontínuos ligados por corredores estreitos. Ao Estado judaico foi atribuída uma larga faixa costeira ao longo do Mediterrâneo, a Galileia oriental, e praticamente todo o deserto do Negueve, com uma saída para o mar Vermelho. Ao Estado árabe foi oferecida a Galileia ocidental, e acesso ao Mediterrâneo, a partir de Acre, a Cisjordânia (exceto Jerusalém) e a Faixa de Gaza. Jaffa, cidade portuária de maioria árabe, permaneceria um enclave árabe. Os sionistas apoiaram este projeto de divisão que garantia soberania e imigração sem entraves. Os árabes rejeitaram-no unanimemente e pegaram logo em armas. O plano jamais chegou a ser aplicado.
Em 1967 a vitória na Guerra dos Seis Dias dá a Israel importantes posições estratégicas. Começa uma acelerada colonização da Cisjordânia e é anexado o setor oriental de Jerusalém. A cidade é unilateralmente proclamada “capital una e indivisível” do Estado judaico.
Em 1985 após a Guerra de Yom Kippur (1973) a única alteração, imposta pelos EUA, foi a evacuação da cidade de Kuneitra nos Montes Golã.
Em 1981, este planalto, conquistado à Síria em 1967, é anexado por Israel, e um tratado de paz devolve ao Egito a península do Sinai.
Em 1982, Israel invade o Líbano e cerca Beirute, mas, em 1985, depois de expulsar 8000 guerrilheiros da OLP, reposiciona-se numa “zona de segurança” no sul do país – a retirada total só se dará em 2000.
Os Acordos de Oslo assinados em 1992 por Israel e pela OLP de Arafat levam a uma complexa fragmentação territorial. A Autoridade Palestiniana passa a controlar 70% da Faixa de Gaza. Na Cisjordânia são instituídas três zonas: A (controlo palestiniano); B (controlo misto) e C (controlo exclusivo de Israel), incluindo as instalações militares e 150 colonatos judaicos. Este mapa de Oslo ficou mais retalhado em 2000, quando, depois da Segunda Intifada, Israel reocupou militarmente a Cisjordânia e iniciou a construção de um “muro de separação” – que tem transformado povoações palestinianas em guetos. 2017: As iniciativas legislativas do Governo de direita, dominado pela ala nacionalista do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu criaram mais retalhos no mapa, abrindo caminho para a anexação de territórios ocupados. Em setembro 2017, o Parlamento aprovou uma lei que permite a criação de universidades na Cisjordânia ocupada. Há iniciativas para os tribunais israelitas terem jurisdição na Área C, que compreende 60% da Cisjordânia. Os colonatos não cessam de aumentar. Muros, vedações eletrificadas e outros obstáculos são utilizados para controlar o movimento dos palestinianos. A construção do muro dentro da Cisjordânia continua, apesar de o tribunal internacional de Justiça ter considerado que não devia existir. NB: Nova guerra começou em 2023 com a invasão da Faixa de Gaza. Esta guerra Israel-Hamas, conflito Israel-Gaza ou israelo-palestino de 2023, começou em 7 de outubro após um ataque terrorista de vários grupos militantes palestinos contra cidades israelitas, passagens de fronteira, instalações militares adjacentes e colonatos civis nas proximidades da Faixa de Gaza. Descrito como uma Terceira Intifada por alguns observadores as hostilidades foram iniciadas por um bombardeio de mísseis contra Israel e incursões em território israelita, com vários ataques contra os militares israelitas e comunidades civis. O ataque foi liderado por grupos militantes palestinos (Hamas, a Jihad Islâmica e a Frente Popular para a Libertação da Palestina), com o apoio do Irão. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, apoiou verbalmente o levante, afirmando que os palestinos tinham o direito de se defenderem contra a ocupação. O Coordenador Especial das Nações Unidas para o Processo de Paz no Oriente Médio, a União Europeia e muitos países membros expressaram condenação dos ataques e disseram que Israel tinha o direito à autodefesa. Pelo menos 2 200 mísseis foram disparados da Faixa de Gaza enquanto militantes do Hamas violavam a barreira Israel-Gaza, matando 200 israelitas e levando o governo de Israel a declarar estado de emergência. Vários países do mundo ocidental condenaram o Hamas pela violência e chamaram as táticas de “terrorismo” enquanto países do mundo muçulmano culparam a ocupação dos territórios palestinos e a negação da autodeterminação palestina como a causa da escalada da violência. A Amnistia Internacional condenou o Hamas e Israel pela conduta da guerra. O conflito produziu uma grave crise humanitária no território de Gaza com mais de 40 mil mortos e mais de 90 mil feridos palestinos (agosto de 2024), incluindo milhares de mulheres e crianças, destruição maciça de infraestrutura e habitações, quase dois milhões de pessoas desalojadas de suas casas, desabastecimento generalizado de energia, combustível e medicamentos, destruição de hospitais e serviços sanitários, 95% da população perdeu o acesso à água de boa qualidade e a fome atingiu virtualmente 100% da população. Segundo oficiais das Nações Unidas, “a crise humanitária em Gaza é mais do que catastrófica, e piora a cada dia. Nos três meses desde o início do conflito, Gaza tornou-se um lugar de morte e desespero”. No lado israelita mais de 1,5 mil pessoas morreram e 500 mil foram desalojadas
Views: 2
https://www.academia.edu/37650142/Entrevista_sobre_a_ci%C3%AAncia_em_Portugal_na_Expans%C3%A3o?email_work_card=view-paper