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UM GOVERNO ENTALADO
Por estes dias José Manuel Bolieiro é Presidente de um governo entalado pela SATA e pela República.
O longo processo de privatização da SATA desembocou naquilo que prevíamos há cerca de um ano: uma enorme trapalhada, gerida de forma incompetente e que está a provocar estragos óbvios na popularidade da coligação.
Seja qual for o desfecho, a avaliação deste processo já não pode ser positiva em qualquer perspectiva.
O processo foi mal conduzido e o desfecho será igualmente mau, porque o governo encurralou-se a si próprio no emaranhado das negociações e num caderno de encargos que nunca devia ter existido tal como está redigido.
Bastava aprender com o processo de reprivatização da TAP, em que não há concurso nenhum, mas negociações directas com as partes interessadas, avaliando quem está em melhores condições para responder aos requisitos impostos pelo governo, que obrigam que o investidor seja uma entidade idónea, com capacidade financeira, detendo a qualidade de operador aéreo certificado e com uma dimensão mínima aferida por indicadores financeiros.
Ao invés, optamos por apostar no escuro, na esperança de que iriam aparecer diversos investidores, estando agora o Governo Regional capturado pelo único consórcio interessado, que até já impõe condições, depois de ter sido afastado pelo governo, novamente repescado após ameaça de queixa judicial, e agora já a negociar com os trabalhadores, sabendo que a “mochila pesada” vai acabar por ser assumida por todos nós contribuintes açorianos.
A responsabilidade deste desfecho já não pode ser assacada aos governos do PS.
Houve tempo mais do que suficiente para traçar estratégias e adaptar estratégias.
Como sempre, predominou o interesse político-partidário de curto prazo sobre o interesse do futuro da Região.
Os próprios partidos, afastados de qualquer opção estratégica das negociações, colaram-se ao poder por interesses próprios e não por interesses estruturantes dos açorianos.
A gestão de José Manuel Bolieiro, Duarte Freitas e Berta Cabral chumba em qualquer avaliação neste processo SATA.
Não há que falar de administradores porque foi o governo que os escolheu, nem de planos falhados porque foi o governo, accionista único, que os validou.
Como um economista já lembrou, esta telenovela de terceira categoria vai custar a cada açoriano cerca de 3 mil euros, correspondendo os 600 milhões de euros a 10% do PIB da região, quando na TAP, os 3,3 mil milhões lá enterrados correspondem a 330 euros por cada cidadão, ou seja pouco mais de 1% do PIB nacional, uma diferença abismal sobre como se governa o bem público.
Não é por acaso que a República sempre fugiu, a sete pés, deste processo da SATA, deixando os companheiros insulares a falar sozinhos.
O que este triste episódio demonstra é que a coligação não aprendeu nada com a falhada privatização da SATA ao tempo do governo de Vasco Cordeiro, naquela outra trapalhada com a “Icelandair”, provocando o desgaste continuado da governação socialista.
No Palácio de Santana respira-se muita confiança porque Francisco César é visto como o seguro de vida da coligação governamental, mas em política, onde tudo é efémero, seria avisado os partidos do poder começarem a reflectir sobre até que ponto é que o povo eleitor está disposto a aguentar tantos erros cometidos em tão pouco tempo.
É que começa a circular a ideia de que o desleixo da governação, em tantos dossiers, parece um padrão, de que é outro exemplo o imobilismo de ano e meio para recuperar o HDES.
Outro caso, também escandaloso, é o dos salários dos trabalhadores da Base das Lajes, em que o Governo de Luís Montenegro entalou José Manuel Bolieiro, poucos dias depois de um Conselho de Ministros com os dois Presidentes insulares.
O Vice-Presidente Artur Lima, um dos governantes mais lúcidos da coligação, porque consegue levar a água para o moinho que lhe convém, tratou de imediato do assunto e não se coibiu de criticar a República e até o Ministro da Defesa, que é seu líder nacional do CDS, enquanto que Bolieiro se remeteu ao silêncio, certamente combalido com a desfeita do seu amigo Montenegro, depois daquele “momento histórico” em que não resultou coisa nenhuma.
Trazer na bagagem apenas a criação de um grupo de trabalho para rever a Lei de Finanças Regionais é uma capitulação, porquanto a República passa, agora, a liderar o processo, quando as dua Regiões Autónomas já tinham uma proposta de revisão, encomendada ao jurista Paz Ferreira, autor da primeira versão da lei.
O que acontece à proposta? Vai para o lixo? Porque não foi transformada em proposta de lei e apresentada ao Governo da República para aprovação?
É demasiada subserviência à República, como agora também acontece com o silêncio à volta da inqualificável ameaça ao subsídio de natal dos trabalhadores das Misericórdias.
Uma subjugação aos centralistas de Lisboa que se estende, igualmente, aos senhores da ANA/Vinci, que mais uma vez vêm de passeio aos Açores anunciar obras que há muito deveriam estar concluídas e que foram prometidas em 2023 noutra deslocação semelhante.
O caso de Ponta Delgada é escandaloso, o terceiro maior aeroporto do país a crescer nos últimos anos, e que mereceu da ANA, apenas, uma remodelação pindérica no terminal.
José Luís Arnaut, “chairman” da ANA, social-democrata e antigo governante dos governos atribulados do PSD, tem o condão, sempre que vem aos Açores, de arrastar atrás de si o Presidente do Governo, Secretários Regionais e toda a triste bajulação que lhe é curvada.
A governação regional rebaixa-se a tudo isso e deixa a população atónita, porque assiste aos elogios inapropriados a obras em aeroportos que não são nossos, quando a própria região tem em mãos processos semelhantes, como a prometida ampliação da pista do Pico, uma maçada desta coligação arrumada na gaveta, e sem que se insurja contra o arrastar da pista do Faial, da responsabilidade do querido amigo Arnaut.
Mas o ridículo maior é o PSD, em comunicado descarado, assumir o elogio do anúncio das obras como se fossem suas, fazendo dos cidadãos uns pobres desqualificados politicamente.
Este governo está a meio do mandato, altura ideal para uma profunda remodelação, que não se fique apenas pelos Directores Regionais.
Há secretários regionais muito desgastados, que já deram o que tinham a dar.
A coligação necessita de um intenso arejamento, com ventilação assistida, para recuperar novo fôlego até à ponta final do mandato.
O descontentamento é generalizado, mesmo nas hostes dos partidos da coligação, que se queixam de falta de diálogo, ignoram pedidos de audiências, recusam sentar-se com os autarcas, não entram nos cafés, nas filarmónicas, nas Casas do Povo, nos clubes e mantêm-se sentados nos confortáveis gabinetes da gigantesca administração preguiçosa.
Vamos entrar na quadra natalícia e a tradicional palavra ‘Esperança’ da época poderá transformar-se num tormento para milhares de famílias que podem nem receber o subsídio de Natal.
Ao que devia chegar a região da “economia pujante”…
Osvaldo Cabral
Novembro 2025
(Açoriano Oriental, Diário Insular, Portuguese Times EUA, LusoPresse Montreal)
Por estes dias José Manuel Bolieiro é Presidente de um governo entalado pela SATA e pela República.
O longo processo de privatização da SATA desembocou naquilo que prevíamos há cerca de um ano: uma enorme trapalhada, gerida de forma incompetente e que está a provocar estragos óbvios na popularidade da coligação.
Seja qual for o desfecho, a avaliação deste processo já não pode ser positiva em qualquer perspectiva.
O processo foi mal conduzido e o desfecho será igualmente mau, porque o governo encurralou-se a si próprio no emaranhado das negociações e num caderno de encargos que nunca devia ter existido tal como está redigido.
Bastava aprender com o processo de reprivatização da TAP, em que não há concurso nenhum, mas negociações directas com as partes interessadas, avaliando quem está em melhores condições para responder aos requisitos impostos pelo governo, que obrigam que o investidor seja uma entidade idónea, com capacidade financeira, detendo a qualidade de operador aéreo certificado e com uma dimensão mínima aferida por indicadores financeiros.
Ao invés, optamos por apostar no escuro, na esperança de que iriam aparecer diversos investidores, estando agora o Governo Regional capturado pelo único consórcio interessado, que até já impõe condições, depois de ter sido afastado pelo governo, novamente repescado após ameaça de queixa judicial, e agora já a negociar com os trabalhadores, sabendo que a “mochila pesada” vai acabar por ser assumida por todos nós contribuintes açorianos.
A responsabilidade deste desfecho já não pode ser assacada aos governos do PS.
Houve tempo mais do que suficiente para traçar estratégias e adaptar estratégias.
Como sempre, predominou o interesse político-partidário de curto prazo sobre o interesse do futuro da Região.
Os próprios partidos, afastados de qualquer opção estratégica das negociações, colaram-se ao poder por interesses próprios e não por interesses estruturantes dos açorianos.
A gestão de José Manuel Bolieiro, Duarte Freitas e Berta Cabral chumba em qualquer avaliação neste processo SATA.
Não há que falar de administradores porque foi o governo que os escolheu, nem de planos falhados porque foi o governo, accionista único, que os validou.
Como um economista já lembrou, esta telenovela de terceira categoria vai custar a cada açoriano cerca de 3 mil euros, correspondendo os 600 milhões de euros a 10% do PIB da região, quando na TAP, os 3,3 mil milhões lá enterrados correspondem a 330 euros por cada cidadão, ou seja pouco mais de 1% do PIB nacional, uma diferença abismal sobre como se governa o bem público.
Não é por acaso que a República sempre fugiu, a sete pés, deste processo da SATA, deixando os companheiros insulares a falar sozinhos.
O que este triste episódio demonstra é que a coligação não aprendeu nada com a falhada privatização da SATA ao tempo do governo de Vasco Cordeiro, naquela outra trapalhada com a “Icelandair”, provocando o desgaste continuado da governação socialista.
No Palácio de Santana respira-se muita confiança porque Francisco César é visto como o seguro de vida da coligação governamental, mas em política, onde tudo é efémero, seria avisado os partidos do poder começarem a reflectir sobre até que ponto é que o povo eleitor está disposto a aguentar tantos erros cometidos em tão pouco tempo.
É que começa a circular a ideia de que o desleixo da governação, em tantos dossiers, parece um padrão, de que é outro exemplo o imobilismo de ano e meio para recuperar o HDES.
Outro caso, também escandaloso, é o dos salários dos trabalhadores da Base das Lajes, em que o Governo de Luís Montenegro entalou José Manuel Bolieiro, poucos dias depois de um Conselho de Ministros com os dois Presidentes insulares.
O Vice-Presidente Artur Lima, um dos governantes mais lúcidos da coligação, porque consegue levar a água para o moinho que lhe convém, tratou de imediato do assunto e não se coibiu de criticar a República e até o Ministro da Defesa, que é seu líder nacional do CDS, enquanto que Bolieiro se remeteu ao silêncio, certamente combalido com a desfeita do seu amigo Montenegro, depois daquele “momento histórico” em que não resultou coisa nenhuma.
Trazer na bagagem apenas a criação de um grupo de trabalho para rever a Lei de Finanças Regionais é uma capitulação, porquanto a República passa, agora, a liderar o processo, quando as dua Regiões Autónomas já tinham uma proposta de revisão, encomendada ao jurista Paz Ferreira, autor da primeira versão da lei.
O que acontece à proposta? Vai para o lixo? Porque não foi transformada em proposta de lei e apresentada ao Governo da República para aprovação?
É demasiada subserviência à República, como agora também acontece com o silêncio à volta da inqualificável ameaça ao subsídio de natal dos trabalhadores das Misericórdias.
Uma subjugação aos centralistas de Lisboa que se estende, igualmente, aos senhores da ANA/Vinci, que mais uma vez vêm de passeio aos Açores anunciar obras que há muito deveriam estar concluídas e que foram prometidas em 2023 noutra deslocação semelhante.
O caso de Ponta Delgada é escandaloso, o terceiro maior aeroporto do país a crescer nos últimos anos, e que mereceu da ANA, apenas, uma remodelação pindérica no terminal.
José Luís Arnaut, “chairman” da ANA, social-democrata e antigo governante dos governos atribulados do PSD, tem o condão, sempre que vem aos Açores, de arrastar atrás de si o Presidente do Governo, Secretários Regionais e toda a triste bajulação que lhe é curvada.
A governação regional rebaixa-se a tudo isso e deixa a população atónita, porque assiste aos elogios inapropriados a obras em aeroportos que não são nossos, quando a própria região tem em mãos processos semelhantes, como a prometida ampliação da pista do Pico, uma maçada desta coligação arrumada na gaveta, e sem que se insurja contra o arrastar da pista do Faial, da responsabilidade do querido amigo Arnaut.
Mas o ridículo maior é o PSD, em comunicado descarado, assumir o elogio do anúncio das obras como se fossem suas, fazendo dos cidadãos uns pobres desqualificados politicamente.
Este governo está a meio do mandato, altura ideal para uma profunda remodelação, que não se fique apenas pelos Directores Regionais.
Há secretários regionais muito desgastados, que já deram o que tinham a dar.
A coligação necessita de um intenso arejamento, com ventilação assistida, para recuperar novo fôlego até à ponta final do mandato.
O descontentamento é generalizado, mesmo nas hostes dos partidos da coligação, que se queixam de falta de diálogo, ignoram pedidos de audiências, recusam sentar-se com os autarcas, não entram nos cafés, nas filarmónicas, nas Casas do Povo, nos clubes e mantêm-se sentados nos confortáveis gabinetes da gigantesca administração preguiçosa.
Vamos entrar na quadra natalícia e a tradicional palavra ‘Esperança’ da época poderá transformar-se num tormento para milhares de famílias que podem nem receber o subsídio de Natal.
Ao que devia chegar a região da “economia pujante”…
Osvaldo Cabral
Novembro 2025
(Açoriano Oriental, Diário Insular, Portuguese Times EUA, LusoPresse Montreal)
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Comments
Pierre Sousa Lima
Parabéns Osvaldo. Mais um excelente artigo que subscrevo na íntegra !
Um abraço
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Luís Silva Melo
E o folhetim do futuro da Sata Internacional (Azores Airlines) continua…
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Rui Sebastião
Mais um grande artigo!!!
Resumindo o Fecho da SATA é Urgente !
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Lucia de Sousa
A SATA não pode fechar sem alternativas
Vivemos numa região sem outros aces so ao exterior …
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Acácio Mateus
E não vai dar em nada! Pena é que os jobs for the boys não venham bater palminhas quando se fala a verdade nua e crua!
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Isilda Medeiros
E continuarapor mais tempo
Realmente há secretários cansados mas eles nem o.bolieiro querem substituir
O tacho é bom. Seraque o corvo esta sem médico pelo fato do antigo ter perdido as eleições eter dito que se demitiria ou o rei do corvo ter dito ficas aqui
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