queijaria tradicional fecha no Pico

Queijaria tradicional Alfredo no Pico fechou portas no início deste ano
A Queijaria Alfredo, na ilha do Pico, encerrou a sua actividade no início do ano. Com mais de 50 anos de história, a empresa familiar situada na Criação Velha, era uma das últimas queijarias da ‘ilha montanha’ a dedicar-se ao fabrico de queijo tradicional com leite cru. O seu proprietário, José Pereira, avançou ao Correio dos Açores que a principal razão para o encerramento da queijaria está relacionada com “questões de saúde”. Para além disso, o proprietário desta empresa lamenta igualmente a falta de apoio do Governo Regional tendo em conta as dificuldades relacionadas com o brutal aumento dos custos de produção.
“Foi por motivos de doença e também pela forma como as coisas estão. Não dava para trabalhar e fazer apenas queijo do Pico. Não é viável hoje em dia ter aquela queijaria. (…) O ano passado deram-nos algum apoio devido à pandemia e este ano não foi dado nenhum. Subiram os preços em tudo e, no Pico, nem caminhos temos. Está tudo destruído e não há nada que justifique manter uma queijaria no Pico”, lamenta.
Reforçando que “não é possível manter uma fábrica apenas com um tipo de queijo”, José Pereira queixa-se também das dificuldades com que se deparava, nomeadamente as relacionadas com a falta de algumas condições básicas para laborar.
“Neste momento as queijarias nem têm água na freguesia que se possa tirar para levar para o mato. Nem há um posto em que possamos tirar água para lavar uma máquina. O único que existe está a céu aberto e não se pode tirar água de lá. O outro, é um furo de mar com 100 anos. Neste momento não há capacidade nem força para continuar”, salienta.
José Pereira refere que, ao contrário do que se poderia pensar, o leite não era um problema.
“Estava como sempre ou até com mais”, revela antes de voltar a frisar os problemas mais graves que enfrentava.
“Não tenho caminhos para andar e tenho de ir à Madalena buscar água. Assim não se justifica ter uma queijaria”, afirma.
O proprietário desta queijaria na ilha do Pico admite de seguida que o encerramento da empresa “foi uma decisão muito difícil porque em nasci com isto”.
“Foi sempre uma queijaria familiar. Nasceu de três irmãos, depois cada um fez a sua e eu fiquei com a do meu pai e sempre a trabalhar. Tenho 57 anos e, desde muito pequeno, que vim trabalhar com ele. A queijaria passou para o meu nome, mas mantive-a sempre com o nome do meu pai”, realça.
José Pereira revela que a Alfredo “chegava a produzir 170 queijos por dia” e que este era “um produto com muita saída”. O empresário destaca que, com o encerramento desta fábrica, “a Queijaria Leal é a única no Pico que fica a trabalhar com queijo cru”.
O proprietário afirma também que “todas as queijarias passam por dificuldades. As coisas subiram para preços elevados e o queijo não consegue acompanhar”. José Pereira realça, por outro lado, que o queijo produzido por si “não podia estar muito tempo dentro da fábrica. Tem de ser vendido logo de seguida porque não aplicamos aquela cera por fora”.
A finalizar, José Pereira considera que não existe “muito futuro para estas queijarias no Pico”.
“Não vejo a força que já houve em anos anteriores para que o queijo continue. Todas as fábricas fazem um queijo parecido à base de leite pasteurizado. Não é o tradicional queijo do Pico”, afirma.
Luís Lobão
May be an image of food
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  • Fernanda Serpa

    Recentemente perdeu muito a qualidade
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    • 2 h
  • Tiago Feitor

    Esta história repete-se em todos os Açores
    Negócios locais de famílias, erguidos do zero que ficam para a história de cada ilha.
    Mas, apesar de tudo, são negócios.…

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