MAIS UM PINGO DE ÁCIDO,Luís Filipe Sarmento, «Ácido», 2023

MAIS UM PINGO DE ÁCIDO
Se à polifónica barbárie associar-se uma gravata teremos o resultado quase inaudível de uma onomatopeia como linguagem preferencial da lata vestida de modista e alfaiate. É chique, dizem, quando ousam pronunciar uma palavra. Que canseira. Uma palavra dita e logo a torrente de humores que cheiram a cebola. Vá de banho para cima que a festa exige panache e lingerie. Entre sorrisos maquilhados à base de bedum aromatizado, desfilam ascendências como se produzissem listas telefónicas de uma falsa aristocracia desmesurada no apelido facínora. Chique. Pindericamente chique. Tantos capuchinhos em busca do lobo-mau. E é que não há produto. O que se passeia nos salões são corruptelas de peterpans. Reinos do nunca é o que está a dar na parlapatice infecto-contagiante do tique multiplicado como cardápio de um colectivo acidente cardiovascular a haver. Ah, mas os dentes são metáfora do detergente que lava mais branco as ceroulas de portadoras centenárias. Tripeça e queda. Lá vai o verniz ofuscar a água de cloro nas piscinas. Cuidado. A pele ajardinada de aloé vera poderá infestar-se de borbulhas alergizantes ao bem parecer exigido na passerelle redundante. O que despendem em gasolina poupam em oxigénio. Há cérebros poupadinhos. Até porque a coudelaria mecânica exige muito cabedal. Como todos sabem é na despudorada fauna palaciana que se manifestam os uivos dos jovens assessores e futuros governantes. A nódoa de sangue está na moda. É um tipo de medalha para ventríloquos. E também há muitos sacerdotes, especialistas em afogamentos de carácter na pia de baptismo. Amém. Por favor. Assim seja. E lá estão as jovens debutantes à espera da grande oportunidade para se tornarem acompanhantes de luxo. Um investimento, senhor bispo, em nome da santidade «cifrânica» que o templo bem precisa de ser alimentado, não é? O silêncio nunca foi de ouro, mas o restolho onomatopeico dos cetins falsificados com etiqueta, sim. Há uma paixão solar pelo dourado protector nos encontros festivos dos bodos aos pobrezinhos. É tão chique. Faz parte da clique. Clique de misantropos manchados por sinais de decadência sanitária. Ora, não há nada melhor que talha dourada para disfarçar a podridão corrupta da linhagem. Neste espectáculo não há tristeza. Mas nunca se sabe se entre o fogo de artifício não haja quem falsifique o petardo do divertimento. Foi bomba, gritam. Foi bomba! E o esforço desta contaminação verborreica fez com que a revolução se risse na plateia que tudo transforma. E tudo se desfez no ácido psicadélico. Que horror! Em nome da liberdade, urinemos sobre os despojos do horripilante carnaval que em cima de nós defecou. O rock’n roll continua na ordem do dia. E os abrunhos também!
Luís Filipe Sarmento, «Ácido», 2023
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