A azia da amarração dos cabos

EDITORIAL
A azia da amarração dos cabos
Parece ter provocado alguma azia a decisão de o novo cabo submarino amarrar primeiro na Terceira e só depois seguir para S. Miguel. Sendo uma decisão técnica, foi interpretada em alguns ambientes políticos e empresariais de S. Miguel como uma derrota e os argumentos são sempre os mesmos: a ilha maior, em população e em economia, a ilha que é a locomotiva do desenvolvimento das restantes carruagens que são as outras ilhas, etc. As vozes que assim argumentam não terão percebido que o novo desenho da amarração do cabo é o mais lógico, ou seja, vem direto do continente à Terceira, segue para S. Miguel, por sua vez, segue para a Madeira e dali para Lisboa. Com esta solução, as comunicações dos Açores ficam sempre protegidas em caso de, por exemplo, haver o azar de “quebrar” o cabo entre o continente e a Terceira, porque mantem-se a ligação a S. Miguel, que liga à Madeira e dali para o continente e vice-versa. Caso contrário, se a opção fosse a concentração dos cabos numa só ilha (S. Miguel, por exemplo) e dali seguir para o exterior, em caso de problemas no cabo os Açores corriam o risco de “ficar às escuras”, risco que, pelos vistos, temos corrido até ao presente e que tem valido à Terceira perder oportunidades de desenvolvimento. Ligando notícias relativamente recentes não será só fruto da imaginação perceber que quando os americanos preferiram a Grã-Bretanha em detrimento das Lajes para instalação de um centro de dados e comunicações militares secretas que obviamente depende de infraestruturas de comunicação à prova de bala, tal decisão, quase certo, foi fruto de uma análise não só à capacidade atual dos cabos submarinos como e sobretudo às alternativas em caso de falha. Não quer isto dizer que a Terceira perdeu este investimento que traria à ilha centenas de técnicos e respetivas famílias, com alto poder de compra, que teria fortes implicações na economia local, apenas por esta razão. Obviamente que competir com Inglaterra não é fácil, mas lá que fazia todo o sentido ficar aqui, no seio de uma base militar, a meio caminho entre o continente americano e europeu, claro que fazia todo o sentido. Daí que importe pouco se o cabo amarra primeiro na Terceira ou em S. Miguel. O mais importante é que o seu desenho sirva não só as ilhas mas também sirva uma estratégia à escala global que reponha os Açores no mapa e atraia às ilhas investimento externo mas que reproduza desenvolvimento regional e local. Fiabilidade, velocidade, capacidade nas comunicações são argumentos fortes de atração.
  • in, Diário Insular, 18 de Janeiro / 2023
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  • Vitor Cunha

    A questão dos cabos vai muito para além do local de amarração… São questões técnicas muito importantes que poderão ter um enorme impacto no futuro… Não são questões políticas, são de enorme importância para os Açores, são questões para serem discutidas por técnicos abilitados…
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    • 11 m
    • Fernando Tristão da Cunha

      Vitor Cunha Que venha essa explicação por quem conheça da matéria. Não deve ser de uma complexidade tal que não consiga ser entendida por quem não é da área, pelo menos os fundamentos. A explicação, a existir, só peca por tardia.
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      • 1 m

Publicado por

CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL

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