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1.2.3. Macau a capitulação portuguesa em 1966 pt2 : A memória do “1,2,3” ao alcance de um clique

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Um dos poucos investigadores chineses que se debruçaram sobre os incidentes de Novembro e Dezembro de 1966 partilha agora as suas conclusões pela Internet. Hanif Li, que em Maio concedeu uma entrev…

Fonte: A memória do “1,2,3” ao alcance de um clique

A memória do “1,2,3” ao alcance de um clique

Um dos poucos investigadores chineses que se debruçaram sobre os incidentes de Novembro e Dezembro de 1966 partilha agora as suas conclusões pela Internet. Hanif Li, que em Maio concedeu uma entrevista a este jornal, deverá lançar brevemente um livro sobre o “1,2,3” através de uma editora de Taiwan.

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Meio século depois dos motins do “1,2,3” em Macau, Hanif Li – um empresário de Hong Kong entrevistado pelo PONTO FINAL em Maio último – criou um portal na Internet com recortes da história oral, considerando “demasiado simplista a visão de que aquele episódio constituiu apenas um prolongamento da Revolução Cultural” chinesa.

O ‘site’ (disponível apenas em chinês em http://www.macao-123.com/) “tenta explorar os incidentes do ‘1,2,3’ [em referência à data de 3 de Dezembro (12/3) de 1966] do ponto de vista da história oral, com pessoas comuns a relatarem as suas próprias estórias da história”, explicou à agência Lusa o autor do projecto, que planeia lançar um livro, em chinês, em Taiwan, em breve.

O portal junta entrevistas que o investigador, natural de Hong Kong, fez no final da década de 1990 para a sua tese de mestrado, sobre esse tema, escolhido pelo ‘bichinho’ que as conversas à mesa de jantar lhe despertaram quando era pequeno, já que os pais cresceram em Macau.

Dezasseis testemunhos, incluindo de dois portugueses, de todo o espectro – “desde professores a operários, polícias, padres ou estudantes, da esquerda à direita, de ‘azuis’ [nacionalistas] a ‘vermelhos’ [comunistas]” – abordam os incidentes de há 50 anos sob diferentes pontos de vista que variam com base nas suas posições e nas suas experiências de vida.

“É a vida real cheia de possibilidades, em vez da narrativa em linha recta da história nacional, o que torna a história mais rica e sumarenta”, sublinha Hanif Li, de 45 anos.

Meio século depois continuam a existir divergências sobre as causas do “1,2,3”, grosso modo interpretado como um eco da Revolução Cultural chinesa, que teve na sua origem um ‘cocktail’ de factores, como o descontentamento com a administração colonial portuguesa.

O conflito começou com o embargo das obras de uma escola ligada ao Partido Comunista Chinês na ilha da Taipa em 15 de Novembro de 1966.

Em 3 de Dezembro, uma manifestação de estudantes e professores junto ao Palácio do Governador foi dispersada pela polícia e em protesto pela acção policial seguiram-se manifestações um pouco por toda a cidade, com tumultos de violência crescente.

Os confrontos entre populares e polícia generalizaram-se, edifícios públicos foram saqueados, estátuas derrubadas e foi decretada a lei marcial e o recolher obrigatório.

Os motins continuaram até ao dia seguinte e resultaram em oito mortos e em mais de uma centena de feridos.

A página do “1,2,3” só foi virada em 29 de Janeiro de 1967, com a assinatura de acordos considerados humilhantes para o governo português de Macau.

Para Hanif Li, “o ‘1,2,3’, só por si, foi um acontecimento que moldou a actual sociedade de Macau em termos do ambiente sociopolítico”, pelo que “é demasiado simplista a visão de que constitui apenas um prolongamento da Revolução Cultural”, uma interpretação que “considera a história em linha recta e pessoas sem rosto, causando mal-entendidos”.

“A Revolução Cultural, o colonialismo e o nacionalismo são tópicos da sociedade de Macau e de Hong Kong que nos permitem compreender o passado e o presente” e “os incidentes do ‘1,2,3’ são uma boa oportunidade para encetar o diálogo entre gerações”, permitindo que “todos se sentem e ouçam antes de escolher lados e de rotular os outros de conservadores, rebeldes, vermelhos ou azuis”.

 

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