Views: 5

Views: 5
Views: 12
A América (leia-se Estados Unidos) nunca me desiludiram, foram sempre capazes de grandes feitos e simultaneamente foram autores das maiores burricadas da história, umas por ingenuidade, outras por estupidez, outras por excesso de confiança.
Eleger o 45º Presidente que todos diziam estar empatado com a candidata democrata e vice-presidente será mais um marco nessa já longa história. Para mim, e os que acreditam na democracia é um dia negro a toldar de nuvens de borrasca os dias que aí virão. Sei que não serão muitos para mim, mas serão os finais e, decerto, bem tristes, como aliás aqueles que precederam o meu nascimento no pós-guerra.
Aos amigos residentes e nativos dos EUA que se mantiveram confiantes e esperançados, até ao último dia, sempre tive o cuidado de alertar para o poder das massas ignorantes e manipuláveis como aquelas que viriam a votar no regresso de Trump.
Não sei se as eleições foram livres (algumas eleições o serão nestes dias de IA e de votos eletrónicos?), nem sei qual o investimento russo de Putin neste regresso, mas não custa adivinhar o futuro da guerra na Ucrânia. Se não entrarmos numa 3ª guerra mundial (que muitos alegam já ter começado) enquanto a China continua a bater, um após outros todos os recordes de tecnologia até ser, de facto, a primeira potência mundial, o certo é que teremos dias difíceis para a Europa, pela qual Trump (ele mesmo europeu de origem) não nutre grandes amores.
Um velho continente dilacerado por demografia decadente suprida com a crescente islamização das suas sociedades que se viram obrigadas a aceitar mão-de-obra imigrante e refugiada, sem encontrar solução para os seus inúmeros problemas, comum aumento de países membros, cada vez mais desavindos e díspares.
E nós, nestas nove ilhotas à deriva no mar Atlântico, com mais açorianos a oeste do que no velho continente, vamos continuar sendo a velha base de apoio nas instalações da ilha Terceira, a ver os aviões a passar rumo a guerras que esperamos não cheguem até nós e nos EUA os novos imigrantes vão continuar a ser acusados de comerem cães e gatos e ameaçados de devolução para os seus países de origem por roubarem empregos que nenhum americano aceitaria, e a nova maioria moralista e religiosa vai continuar a retirar direitos às mulheres, proibir o aborto e sem dúvida tornar a América grande, de novo (mas só no papel e na retórica vazia e demente do seu presidente).
Views: 7
Views: 2
Luís Filipe Borges and 11 others
Views: 5
a ilha é uma prisão
como o casamento
sem pena perpétua
há aviões e divórcios
sem saídas precárias nem caixão
a ilha é uma prisão
como um desterro
voluntário e escolhido
com bilhete de regresso
tanta saudade e uma benção
a ilha é uma prisão
em caso de tufão
maremoto ou vulcão
tremor de terra furacão
a ilha é uma prisão
exilados há 20 anos
escolhemos o destino
construímos nova paixão
a morte prematura levou
no tabagismo assassino
a ilha é uma prisão
nela criamos um destino
realizamos sonhos e utopias
era amor e genuíno
a ilha é uma prisão
hoje mutuamente nos enganamos
quando se diz que tu querias
que ficasse aqui e agora
prosseguisse rumos mundanos
na mesma rotina sem alegrias
a ilha é uma prisão
se me chamas eu vou
sem ti a ilha é só calabouço
mera paragem de ocasião
onde não vivo e me destroço
a ilha é uma prisão
juramos ficar juntos
no bem, no mal, na doença
em todos outros assuntos
como era nossa crença
a ilha é uma prisão
nunca estivemos tanto tempo sós
liberta das vestes humanas
sei que velas por mim
ainda ouço a tua voz
sei que falas e me chamas
a ilha é uma prisão
em volta um mundo fútil e falso
com mulheres de mamas de silicone
a explodirem como baterias do tesla
mera tecnologia do percalço
vinda na vaga dum ciclone
com tatuagens e demais adereços
inúteis como as ereções de viagra
quando o Alzheimer chegar
com as palavras aos tropeços
não quero por aqui andar
amanhã a América vai votar
persiste a democracia
ou o fascismo irá retornar
este mundo já nada tem
para me seduzir
Nini
para onde foste
também quero ir
Views: 8
esta e anteriores crónicas podem ser lidas em https://www.lusofonias.net/mais/as-ana-chronicas-acorianas.html
Views: 4
A mystery from millions of years ago.
Source: We Finally Know Where Most Meteorites on Earth Actually Came From
Views: 9
dia de finados a seguir a todos os santos
e tu que nunca te finaste nem foste santa
faltaste à entrega de lollies das crianças
dos enxames da tua escola que aqui tocavam
sabedores da tua imensa generosidade
da tua dádiva diária e no pão por deus
ontem a campainha não tocou
não se ouviram as vozes juvenis
nem o latir das cadelas assarapantadas
nem o teu andar hesitante e lento
no curto roteiro da cozinha à porta
carregando um saco de guloseimas e sorrisos
todos os outros correm uma vez ao ano
aos cemitérios com promessas, velas e flores
lembrando nesse dia quem esqueceram durante o ano
eu fiquei mudo e quedo aqui em casa
no meu castelo como diria o daniel de Sá
olhei da minha torre de menagem
evoquei memórias tuas a chegar da escola
a partir para reuniões ou lanche com colegas
não fui ao ossário visitar as tuas cinzas
não estive no cemitério a derramar uma lágrima
não te levei flores perecíveis como a vida
evoco-te em pensamento a toda a hora, todos os dias
sem esperar pelo feriado ou dia de finados
para mim nunca te finarás e aqui fico
eternamente à espera do teu regresso
ou da minha partida para o nosso reencontro
depois desta separação dolorosa insuportável
que nenhum tempo mitigará
amo-te hoje mais do que nunca
sem imaginar que te amava tanto
queimo os minutos de cada dia
como outrora queimava cigarros
evolo-me no seu fumo
enquanto busco o teu sorriso
já não ouço os tambores de guerra
silenciaram as sirenes aéreas
os alarmes calaram-se
as bombas não caem
os soldados não disparam
o choro das crianças ficou suspenso
os mortos não estrebucham
os feridos não gemem
nesta guerra não há bons nem maus
nem o czar nem os falcões eua
neste mar de gente
morta e inocente
feneceu a humanidade
(inédito chrys c)
já não quero salvar o mundo
nem salvar o planeta
nem salvar-me a mim
não quero salvar nada
não quero guerra nem paz
nem capitalismo nem comunismo
nem nenhum outro ismo
nem quero acabar com a fome
ou a sede ou a pobreza
quero voltar à pureza original
da infância e da ingenuidade
em vez de estar aqui velho
à espera que nos matem a todos
imarcescível quis ser
escrevi livros, plantei árvores e tive filhos
lavrei no granito natal
os meus petróglifos de nazca
em timor dissipei-me na areia branca
em bali fui hippie em kuta beach
em macau fiz tai chi no lou lim iok
na austrália nadei em rottnest island
em bragança renasci transmontano
e no basalto açoriano gravei
imperecíveis poemas
este o improvável epitáfio
ser velho é isto
olhar para a parede que já foi branca
contar os traços quase a atingir 26645
já pouco espaço resta para mais traços
cada um deles um dia
uma alegria mil tristezas
sonhos que se esfumaram
sonhos nunca sonhados
que se concretizaram
sonhos recorrentes
nunca atingidos
subidas aos sete céus
descidas a mil infernos
a certeza inabalável
de ter feito a diferença
no carneirismo cinzento
a ovelha negra
no meio do rebanho
sem medo
dos cães pastores
de seus dentes ameaçadores
sem temor da chibata do pastor
e para epitáfio
um “smile” gigantesco
de desdém, de zombaria
em tempo de caos
arrume a confusão
na harmonia da poesia
as tuas mãos são poemas
que dedilhas no teclado
pianíssimos versos que invejo
umas vezes a solo
outras com solfejo
seja com violino ou violoncelo
a métrica rigorosa
desenha o bailado dos teus dedos
as teclas calcorreiam desertos
montanhas, mares e vulcões
impérvios a ciclones ou furacões
compões obras maiores que a ilha
mais altas que a montanha do pico
mais fundas que a fossa das marianas
poemas que dançam na partitura
vibrações únicas numa só leitura
o sentir e a alma açorianas
o pior de tudo são os silêncios sem fim
entrecortados pelo toque dos sinos,
o pior de tudo é não ouvir a tua voz
ao telefone com colegas e amigas
ou a ralhar com as cadelas ou comigo
o pior de tudo é ninguém bater, o telefone não tocar
e os silêncios dantescos como as sombras
como os murmúrios que ainda ouço, das tuas dores
o pior de tudo é a irreversibilidade
as fotos que passam não voltam
29 anos de memórias, partilhas, cumplicidades,
e a certeza inabalável de que nada nos separaria
e nada nos separará, ou afastará
nem a morte traiçoeira que chegou sem ser convidada
o pior de tudo são os silêncios sem fim
entrecortados pelo toque dos sinos,
o pior de tudo é não ter quem leia os meus escritos
não os corriges nem criticas
o amanhã não vai mudar nada
e a solidão será companheira indesejada e fria
havia tantos planos e projetos
a tua vontade inabalável para os concluir
mesmo quando já te faltavam as forças
o pior de tudo são os silêncios sem fim
entrecortados pelo toque dos sinos,
como os murmúrios que ainda ouço, com as dores
e as fotos que passam na moldura não voltam mais
nem as poderemos recriar ou reviver
e onde quer que vá estive lá contigo
o pior de tudo são os silêncios sem fim
esta irreversibilidade inaceitada
chorar a saudade do teu riso alegre
ansiar o teu sorriso cúmplice
nestes dias chorosos e tristes
solitários, vazios, silenciosos
o pior de tudo são os silêncios sem fim
esta imensa dor nunca vai passar
a angústia e solidão não vai mudar
preciso tanto de ti ao meu lado
para me ajudares com esta dor
não quero viver sem ti
não posso crer que não vais voltar
o pior de tudo são os silêncios sem fim
e ninguém sente o que estou a passar
só tu entendes esta dor
só tu podes secar estas lágrimas
só tu podes dar-me razão para viver
e eu nunca saberei viver sem ti
todos choram os mortos em gaza
mais um genocídio sionista, dizem
há fome, há dor, há morte
agitam-se bandeiras e manifs
todos solidários e palestinos
os israelitas repetem em gaza
os tormentos nazis que sofreram
até ao extermínio quase total
mas não vencem nem vencerão
e eu que tanta vez fui palestino
não choro nem tenho dó
sofro silente as dores dos reféns
de quem ninguém fala
moeda de troca em campo de morte
na esquina do tempo
restam as nossas sombras
memórias de vidas passadas
na esquina da vida
sobram os nossos silêncios
na esquina da memória
sombras silenciosas
memórias dum amor eterno
na esquina da morte
ficaram imagens e sons
que nenhum tempo apagará
nos meus poemas não cabe
toda a dor da tua ausência
abarcam um universo de momentos
dias, meses e anos felizes
nos meus poemas não cabe
toda a dor da tua ausência
carregam a alegria que nos unia
teus sorrisos e risos contagiantes
nos meus poemas não cabe
toda a dor da tua ausência
celebram as lutas e as vitórias
de mil e uma batalhas e conquistas
nos meus poemas não cabe
toda a dor da tua ausência
e são pequenos demais
para os nossos sonhos
nos meus poemas não cabe
toda a dor da tua ausência
profunda como a fossa abissal
que não partilho com ninguém
nos meus poemas não cabe
toda a dor da tua ausência
viajam à velocidade da luz
em milhares de imagens e locais
nos meus poemas não cabe
toda a dor da tua ausência
fomos à descoberta do mundo
e encontramo-nos a nós
nos meus poemas não cabe
toda a dor da tua ausência
nem a alegria dos nossos livros
nem todo o amor que nos consumia
nos meus poemas não cabe
toda a dor da tua ausência
apenas há espaço para te perpetuar
neste tempo que ainda me resta
se eu pudesse ir para os amanhãs
levava comigo todos os ontens…
nunca devemos deixar os ontens no armário
têm a tendência de desaparecer sem rasto
sabe-se lá para onde vão e o que vão dizer
nunca devemos confiar nos ontens
são frágeis como as memórias
ou a neblina ou a gaze ou algodão-doce
pintam-se e abonecam-se de muitas cores
os ontens amarram-nos e impedem a viagem
mas eu só fui feliz ontem
e os amanhãs são apenas
a memória de ontem sem felicidade
houve quem sonhasse com o 25 abril
houve quem vivesse o 25 abril
houve quem ainda esperasse por abril
houve quem se esquecesse já de abril
mas já não haverá quem faça abril
dia de finados a seguir a todos os santos
e tu que nunca te finaste nem foste santa
faltaste à entrega de lollies das crianças
dos enxames da tua escola que aqui tocavam
sabedores da tua imensa generosidade
da tua dádiva diária e no pão por deus
ontem a campainha não tocou
não se ouviram as vozes juvenis
nem o latir das cadelas assarapantadas
nem o teu andar hesitante e lento
no curto roteiro da cozinha à porta
carregando um saco de guloseimas e sorrisos
todos os outros correm uma vez ao ano
aos cemitérios com promessas, velas e flores
lembrando nesse dia quem esqueceram durante o ano
eu fiquei mudo e quedo aqui em casa
no meu castelo como diria o daniel de Sá
olhei da minha torre de menagem
evoquei memórias tuas a chegar da escola
a partir para reuniões ou lanche com colegas
não fui ao ossário visitar as tuas cinzas
não estive no cemitério a derramar uma lágrima
não te levei flores perecíveis como a vida
evoco-te em pensamento a toda a hora, todos os dias
sem esperar pelo feriado ou dia de finados
para mim nunca te finarás e aqui fico
eternamente à espera do teu regresso
ou da minha partida para o nosso reencontro
depois desta separação dolorosa insuportável
que nenhum tempo mitigará
amo-te hoje mais do que nunca
sem imaginar que te amava tanto
queimo os minutos de cada dia
como outrora queimava cigarros
evolo-me no seu fumo
enquanto busco o teu sorriso