A PENÚRIA DO ESTADO

6 m
May be an image of 1 person and text
A PENÚRIA DO ESTADO
O Estado português nunca foi pessoa de bem, especialmente para os Açores, mas nos últimos dias as desgraças da penúria estatal foram de tal ordem que deixam boquiaberto o mais comum dos cidadãos.
Aquele episódio dos marinheiros do “Mondego” é apenas a ponta do iceberg da vergonha de um Estado que não sabe investir naquilo que é da sua responsabilidade, muito menos manter aquilo que está sob a sua alçada.
Nós, nos Açores, devíamos fazer o mesmo que os corajosos marinheiros: fechar as portas dos paupérrimos serviços do Estado na Região e mandar a factura para António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, através do representante dos croquetes instalado no Solar da Madre de Deus.
Comecemos pelos trabalhadores dos impostos, afogados em papelada por falta de pessoal e de equipamentos modernos, instalados em edifícios velhos, húmidos e a chover dentro.
Contra a contínua degradação, que é a imagem do Estado português, os trabalhadores viram-se obrigados a ir para a rua manifestar-se, coisa nunca vista nesta terra.
Passemos, agora, à pobre cadeia de Ponta Delgada, outra vez notícia pelas péssimas condições em que ali vivem os mais de 180 sobrelotados reclusos.
A Ministra da Justiça e o Director-Geral dos Serviços Prisionais deveriam entrar no gabinete de António Costa e obrigá-lo a passar pelo que passam os presos nesta Região: a realização de um Conselho de Ministros num cubículo como a camarata de 45 reclusos ao molhe em Ponta Delgada e um duche no Palácio de S. Bento com água fria, por falta de água quente há mais de quinze dias, como acontece na cadeia de Angra.
A ministra esteve cá em setembro do ano passado e não parece ter levado a carta a Garcia – “ninguém pode ficar satisfeito com o que encontra nesta cadeia”, disse ela -, pois daí para cá fez o milagre de piorar o que viu, sobrelotando o estabelecimento ao recusar pagar à Força Aérea para transferir reclusos.
Veio, agora, também, o seu Director-Geral – que se diz de Reinserção – reconhecer que “é claramente um sítio em que ninguém devia estar preso”, pois trata-se de “uma estrutura do século XIX, que não serve para prisão”.
Muito obrigado por terem descoberto a evidência dois séculos depois!
E é disto que é feita a governação à portuguesa: enquanto se deixa quase duas centenas de pessoas no mais vil dos buracos contra os Direitos Humanos, vai-se demolindo um interminável monte de bagacina, tão misterioso como o cascalho que rola na genialidade dos infindáveis corredores do Poder.
Finalmente, a Polícia de Segurança Pública nesta Região, outra pedinte do Estado, abandonada pelos sucessivos governos centrais, de mão estendida ao poder regional se quiser sobreviver.
Não há pessoal, não há viaturas, não há computadores, não há edifícios e, pior do que tudo, não há um mínimo de dignidade política, em Lisboa, para colmatar toda esta degradação do Estado nesta região.
Andam agora atarefados com protocolos tontos, até ultrapassando a Protecção Civil, quando o Estado precisa é de intervir nos seus serviços degradados, como as instalações da PSP, em Ponta Delgada, a cair de velhas, completamente desadequadas para a função e até esquadras construídas há tantos anos que nunca receberam manutenção.
Nas instalações junto ao Cemitério de S. Joaquim – lugar condizente com o que andam a fazer com o projecto de novo edifício, que jaz numa qualquer gaveta de suas excelências em Lisboa – podem colocar uma lápide funesta de saudade, pois as velhas e arruinadas camaratas, sob tecto ainda em amianto, tudo a cair de podre, estão para durar.
Tal e qual a esquadra da Ribeira Grande, também continuamente prometida, lá vai continuando provisoriamente-definitivo nos Bombeiros da Ribeira Grande.
Os pacientes soldados da paz bem poderiam pegar nas mangueiras e apontar ao Palácio de S. Bento para apagar este “fogo que arde sem se ver”, que é a penúria e a vergonha do nosso Estado português.
Osvaldo Cabral
Março 2023
All reactions:

1

Like

Comment
Share