gov birmanês expulsa diplomata timorense

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Líder da oposição timorense critica decisão de Myanmar e reafirma defesa de princípios
Díli, 27 ago 2023 (Lusa) – O líder do maior partido da oposição timorense, a Fretilin, criticou hoje a decisão “extrema” da junta militar de Myanmar expulsar o encarregado de negócios de Timor-Leste, vincando que toda a liderança é consistente na defesa dos mesmos princípios.
“A questão da junta militar não participar nas reuniões da ASEAN demonstra que é a junta que está a excluir Myanmar da ASEAN e por isso mesmo a nossa posição é coerente”, disse à Lusa o secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), Mari Alkatiri.
“Queremos ser membro da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) mas não queremos trair os valores e princípios pelo que lutamos, a afirmação de liberdade, paz, democracia e respeito pelo Estado de direito e pelos direitos universalmente reconhecidos”, considerou.
Alkatiri, contactado telefonicamente em Lisboa, onde se encontra em visita, reagia à decisão da junta militar do Myanmar (antiga Birmânia) ordenar a expulsão do encarregado de negócios de Timor-Leste, em protesto com posições recentes das autoridades timorenses sobre aquele país.
“O Ministério dos Negócios Estrangeiros em nome do Governo da República da União de Myanmar pede ao encarregado de negócios da embaixada da República Democrática de Timor-Leste, senhor Avelino Fernandes Ximenes Pereira, para deixar o Myanmar o mais tardar até 01 de setembro”, refere-se numa nota da diplomacia daquele país a que a Lusa teve acesso.
Na nota de duas páginas, a junta militar aponta o que considera ser vários atos cometidos pelas autoridades timorenses, incluindo referências à situação no país pelo Presidente da República timorense, José Ramos-Horta.
Alude ainda a declarações do primeiro-ministro Xanana Gusmão que a 03 de agosto disse que Timor-Leste poderia não aderir à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) se o organismo regional for incapaz de encontrar uma solução para o conflito no Myanmar.
“Enquanto for primeiro-ministro não entra na ASEAN se a ASEAN não convence a junta militar, se não encontrar uma solução. Somos uma democracia . Podemos ter problemas, mas não há golpes de Estado, há respeito pelas eleições presidenciais e parlamentar, mostrando ao mundo que nós temos uma cultura democrática”, disse Xanana Gusmão na altura.
Esses comentários levaram o Governo de Myanmar a convocar o encarregado de negócios, para um voto de protesto a 15 de agosto.
“As declarações imprudentes e irresponsáveis do primeiro-ministro não são apenas prejudiciais par a manutenção das relações bilaterais entre Myanmar e Timor-Leste, mas também negligenciam de forma grosseira os contínuos ataques violentos do grupo terrorista chamado de Governo de Unidade Nacional (NUG)”, refere a nota datada de 25 de agosto.
Mari Alkatiri disse que a posição de Timor-Leste demonstra coerência e respeito pelos “princípios e valores e convenções internacionais que o país ratificou”, considerando a decisão de expulsão uma “posição extrema”.
E considera que a decisão de expulsão “só veio comprovar que o regime não entendeu a posição de Timor-Leste, expressa pelo primeiro-ministro”.
O líder da Fretilin disse que Timor-Leste mantém, há décadas, a vontade de ser membro da ASEAN – organização regional de que Myanmar faz parte e onde Timor-Leste tem estatuto de observador – e que todos devem compreender a posição do país, vincada na sua própria história.
“Nós, os líderes de liberação nacional, viemos de uma luta muito difícil, mas conseguimos rapidamente entender-nos com o Governo indonésio, reconciliamo-nos com a Indonésia, depois deste prolongado conflito de 24 anos demonstrado sentido de Estado”, afirmou.
“Isso foi uma demonstração de coerência e consistência do nosso lado de que questões do passado, ainda que pendentes, não são de conflito e problemas. E acho que toda a ASEAN deve compreender isso”, afirmou.
ASP // SB
Lusa/Fim
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