Mês: Novembro 2020

SE HÁ DÍVIDA PARA COM OS ÍNDIOS, – E NO MEU ENTENDER HÁ E É PESADA – ELA ESTÁ BEM REPARTIDA

O meu comentário sobre a notícia aqui transcrita:

Os chamados “povos indígenas” não constituiam uma entidade uniforme – eram muito diferentes uns dos outros e guerreavam-se em permanência. Vários deles foram aliás aliados dos portugueses contra os seus inimigos tradicionais. E a aliança era recíproca – ajudavam os portugueses nos combates e recebiam ajuda militar quando precisavam. O quadro está portanto longe de ser unívoco. Isso não invalida, entretanto, que os índios, de uma forma geral, ainda mais do que os negros, tenham sido, de facto, as grandes vítimas do processo civilizacional, sobretudo devido às doenças levadas da Europa que eles contraíam e para as quais não tinham resistência. Há quem defenda que eles foram vítimas de um genocídio; mas os defensores dos direitos indígenas tendem, também, muitas vezes, a exagerar os números. E pelo menos desde o Diretório dos Índios, do marquês de Pombal, no século XVIII, a política oficial do Estado português foi de acolher e não violentar os indígenas. Todos eram necessários e os índios eram particularmente úteis na defesa das fronteiras. Muitas das violências cometidas contra eles – talvez mesmo a maior parte – foram obra dos colonos que já eram praticamente brasileiros e outras já ocorreram DEPOIS DA INDEPENDÊNCIA, designadamente no período da ditadura militar (1964-1985). Basta aliás recordar que quase um século depois do grito do Ipiranga, o Código Civil brasileiro de 1916 ainda definia os índios como “relativamente incapazes” em relação a questões civis. Por tudo isto, se há uma dívida para com os índios – e no meu entender há e é pesada – ela está certamente bem repartida. CF