VASCO CORDEIRO E O AVAL

Na vida política já quase nada surpreende e só quem não acompanha com regularidade os debates parlamentares na República ou nas Assembleias Regionais pode achar estranho o tom de voz mais esganiçado ou colérico de senhores e senhoras deputadas, dos senhores e senhoras governantes, os apartes (“bocas” que procuram incutir fatores de distração ou simplesmente irritar quem está no uso da palavra) e pedidos de defesa da honra.
São naturais as discussões mais acesas, a troca de argumentos entre parlamentares das diversas bancadas e até uma ou outra piada mordaz e inteligente (para a história fica a tirada de Mota Amaral, enquanto Presidente da Assembleia da República, que fez escancarar de riso as bancadas da esquerda à direita).
Contudo, não poucas vezes os nossos representantes ultrapassam as mais elementares regras da boa educação e até do bom senso e dizem ou fazem o que não devem (lembram-se dos “corninhos” do senhor ministro Manuel Pinho?), transformando a Assembleia numa espécie de Casa dos Segredos.
Há limites que não devem ser ultrapassados e um desses é o de invocar questões paralelas ao debate e à governação para tentar encobrir o rasto de erros passados. Isto a propósito do incómodo de Vasco Cordeiro com a revelação feita pelo Secretário Regional das Finanças sobre o aval da Ilhas de Valor à Angrasol autorizado pelo próprio Vasco Cordeiro, então Secretário Regional da Economia, e por Sérgio Ávila quando era vice-presidente do governo.
A Angrasol entrou em incumprimento e quem teve de pagar duas prestações, no valor a rondar o meio milhão de euros, foi a Região através da Ilhas de Valor.
O aval da Ilhas de Valor à empresa Angrasol levanta sérias questões, desde logo a legitimidade de um governo ser “fiança” de negócios privados. A troco de quê? E quem assume a responsabilidade dos 500 mil euros pagos pela Região? E porque não foi este caso tornado público na época em que foi assinado o aval? O caso agora revelado permite a dúvida: é situação única ou existirão outros avales privados?
Ficou claro o desconforto de Vasco Cordeiro com esta matéria o que pode ajudar a compreender a reação em jeito de ameaça que não fica bem a ninguém, muito menos a quem durante oito anos foi presidente do governo açoriano.
(Paulo Simões – Açoriano Oriental de 15/05/2022)
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