UM AÇORIANO Miguel José de Arriaga EM MACAU

História de um açoriano em Macau

Miguel José de Arriaga (22/03/1776- 13/12/1824), faialense, antepassado do primeiro presidente da República Portuguesa (Manuel José d’Arriaga), fidalgo da Casa Real, entre outras importantes posições administrativas da Coroa, foi Desembargador dos Agravos da Casa de Suplicação do Brasil, e Ouvidor Geral de Macau.

Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, em maio de 1800, chegou a Macau a 22 de junho de 1802. Como superintendente de todos os ramos de administração pública, homem de ação e ilustrado promoveu grande desenvolvimento à região. Entre as muitas obras e ações políticas e administrativas, criou um batalhão de infantaria, fundou uma fábrica de pólvora, um colégio para missionários, uma Casa de Seguros. Nesse período de sua “governança” erigiram-se vastos e belos edifícios, deram-se direitos iguais aos súditos da Coroa. A frota mercante daquela colônia foi ampliada e modernizada. O Pombal de Macau incentivou o acesso dos macauenses `a Universidade, em Coimbra, estabeleceu carreiras diretas entre Macau e Brasil, promovendo os primeiros contatos comerciais de chineses com a Colônia portuguesa da América, ensaiando os primeiros passos da cultura do chá no Brasil.

Foi um hábil diplomata mediando e contornando problemas políticos entre a Europa e Macau. Apesar da pirataria no Mar da China ser naquela época tolerada pelos portugueses, que viam assim os mandarins descuidados em relação aos negócios macaístas e portugueses, resolveu com outros três mandarins mais interessados combater a pirataria no mar da China. Para isso esvaziou o cofre do Estado, e tomando empréstimos, sob seu credito, armou seis navios com 120 peças de artilharia, arregimentou 700 homens para a luta. Ele mesmo dirigiu os preparativos e trabalhou como calafate para dar exemplo aos operários.

No mar, os navios portugueses conseguiram a vitória e o chefe dos piratas (oTigre dos Mares) se rendeu ao Ouvidor para espanto dos Mandarins, que passaram a encará-lo como um homem prodigioso. Com o pirata, Miguel teve uma postura corajosa, confiável e afável, aceitando beber o chá da paz e da amizade que aquele lhe ofereceu. Posteriormente esse pirata mostrou qualidades que, percebidas, foram aproveitadas, por intercessão do Ouvidor de Macau, em cargo político-administrativo em Pequim.

Sua natureza de estadista e filantropo tornou-o adorado por todos. Negociava acordos comerciais, dava mercês, patentes militares, chegava a indicar bispos! Despertava inveja, principalmente nos Vice-reis da Índia, passou a angariar inimigos políticos.

Quando a notícia da revolução de 24 de agosto de 1820 (do Porto) chegou a Macau, Miguel d’Arriaga recusou-se a tomar partido. Demitiu-se. Os adversários prenderam-no. Doente, recebeu ordem para retornar à Europa. Mas, na volta conseguiu desembarcar em Cantão, onde ficou entre os chineses, seus amigos. Uma rede de intrigas grassou então junto ao rei. Porém, este recebeu uma carta de Miguel que explicava toda a situação. Colocados os pontos nos ii, e com a chegada de uma fragata com as tropas vitoriosas a Macau, foi chamado pelos chineses e Coroa a reassumir a administração da colônia.

Voltou à sua obra, mas por pouco tempo. A doença que o minava levou-o à sepultura a 13 de dezembro de 1824. Macau cobriu-se de luto. Choraram a perda de um homem que lhes dedicou os dons e bens materiais que possuía. A Coroa portuguesa não o esqueceu, cobriu-o de honrarias e à sua família.

Maria Eduarda Fagundes

Uberaba, 02/04/2014

Fonte dos dados compilados:

Lima, Marcelino (Famílias Faialenses).