Há uns 28 anos eu estava a morar num quarto alugado na Amadora, em Portugal, quando o dono do apartamento o vendeu de repente e me telefonou a dizer que a família dos novos donos entraria no dia seguinte e que no fim do mês – que estava próximo – eu teria de sair. Fiquei sem lugar para morar, mas uns moços timorenses meus amigos disponibilizaram-se imediatamente para me dar abrigo na sua casa, e foi assim que fui morar em Laveiras com o grupo de ex-seminaristas. Acabei por ficar dois anos com eles, por estreitar os laços com Timor e os timorenses, e por aprender muito sobre a vida, sobre a amizade e sobre a solidariedade. Um deles era o Crisódio, um jovem intelectual de espírito acutilante com quem ficava frequentemente a conversar até às tantas da madrugada e que, já em Timor-Leste, viria também a ser padrinho do meu filho Ulisses. O meu amigo Crisódio morreu hoje. Já não poderemos fazer o tal almoço que tínhamos combinado. Ele já não poderá escrever mais livros. Timor ficou mais pobre, e os seus muitos amigos ficam agarrados só às boas recordações e às saudades. À Flora, ao Marcos e ao Salvador, e a toda a restante família enlutada, as nossas sentidas condolências.