remodele-se – osvaldo cabral

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Quando escrevemos aqui, há poucas semanas, que o Governo dos Açores era um governo sem bússola, era baseado nos sinais de desorientação que avaliamos e descrevemos.
A semana que agora terminou só veio confirmar, mais uma vez, que algo vai mal no interior da governação açoriana, com uma série de episódios desastrosos à volta das Agendas Mobilizadoras.
É mais do que evidente que há governantes que parecem gostar que as coisas corram mal a outros colegas do governo.
As guerrinhas internas transpiram mesmo para o tecido empresarial, com intuitos perigosamente bairristas, a que José Manuel Bolieiro terá de pôr cobro ou vai passar a vida a reverter decisões.
O Secretário dos Transportes já tinha sido desautorizado publicamente com a proposta das OSP sobre transporte aéreo, a Secretária da Cultura ficou desacreditada por causa de um boi anão e com as nomeações rocambolescas para a Direcção da Cultura e uma Sub para vigiar o Director, há Secretários Regionais que nem sabemos que existem e, agora, queimam uma das vozes mais sensatas do executivo, ainda por cima com a pesada responsabilidade de pôr ordem nas depauperadas finanças regionais.
A decisão do Presidente do Governo em reverter as Agendas é a mais sensata e acertada, mas não apaga a enorme trapalhada do processo.
Bastos e Silva fica numa situação completamente frágil (quem garante que cada medida que ele anuncie não seja para reverter a seguir?) e o fogo estendeu-se, como era de prever, às Câmaras de Comércio de Ponta Delgada, Angra e Horta.
Tem toda a razão o líder dos empresários micaelenses em propor aos seus associados um corte com as suas congéneres de Angra e Horta, cujas lideranças demonstraram uma falta de solidariedade escandalosa e uma animosidade contra os empresários micaelenses que não é de agora.
Todo este clima de tensão tem resultados desastrosos para a tão desejada e falada coesão regional, que também fica ferida de morte no meio de tanto conflito político.
Em quase 11 meses de desempenho, este governo não soube capitalizar as medidas boas, como a Tarifa Açores, e envolveu-se num conflito permanente consigo próprio e com uma comunicação, a todos os níveis, manifestamente incompetente.
À conta de todo este clima, há sinais de alguma arrogância por parte de alguns novos dirigentes da administração pública, como muito bem denunciou o deputado Nuno Barata.
Também nos têm chegado informações de ameaças e não renovação de contratos de quadros de empresas públicas, porque as pessoas em causa têm ligações familiares com gente conhecida de partidos da oposição.
A política, como qualquer outra actividade, é para gente com mérito e carácter.
O caciquismo deve ser escrutinado e varrido, seja qual for a repartição pública desta região.
Os políticos gostam de dizer que as remodelações não se fazem na comunicação social, mas parece não restar dúvidas a ninguém que este governo precisa de outro fulgor e fortalecimento interno, corrigindo o que há para corrigir.
Numa só palavra: remodele-se.
(Osvaldo Cabral – Diário dos Açores de 24/10/2021)
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