Portuguesa que conquistou imperador indiano no século XVIII é estrela de livro

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Portuguesa que conquistou imperador indiano no século XVIII é estrela de livro

por Lusa

A história de amor no século XVIII entre a portuguesa Juliana Dias da Costa e o imperador indiano Shah Alam é estrela de um livro editado na Índia, que aborda esta ligação como um exemplo de respeito entre civilizações.

O livro “Juliana Nama” revela a história de amor entre Juliana Dias da Costa e o imperador mogul Shah Alam, relatando ainda como esta mulher de origem portuguesa serviu como “embaixadora” de Portugal, declarou à Lusa o autor do livro.

“Ao lerem este livro, as pessoas ficarão surpreendidas e mesmo chocadas porque Juliana Dias da Costa foi a única personalidade da corte mogul que não só permaneceu cristã, mas também expandiu a sua fé, sendo agraciada com títulos e honrarias pelo imperador mogul e pelo rei português”, afirmou à Lusa Raghuraj Singh Chauhan, antigo diretor do Museu Nacional de Nova Deli e um dos autores do livro.

Para Chauhan, Juliana Dias da Costa tornou-se uma espécie de “embaixadora” portuguesa na corte do império que dominou a maior parte Índia durante vários séculos e manteve contactos com as autoridades de Portugal, assim como de outros países europeus.

“O seu papel é tão grande e vasto que o mundo inteiro deveria conhecer o papel histórico desta maravilhosa senhora na corte mais rica do mundo”, afirmou o investigador, salientando que não só o Governo português reconhecia as suas ações, mas também outras nações e até mesmo o papa.

O livro “Juliana Nama” foi publicado em 2017 na Índia e lançado na embaixada de Portugal em Nova Deli, em outubro do ano passado. A obra foi o resultado de quase quatro décadas de pesquisa do antigo diretor do Museu Nacional de Nova Deli e do arquivista Madhukar Tewari.

O interesse em Juliana Dias da Costa surgiu, de acordo com o historiador, depois de encontrar citações sobre esta mulher de origem portuguesa em livros nos arquivos indianos — nomeadamente nos arquivos históricos de Goa e Nova Deli – e, desde então, não parou de pesquisar a vida da preferida do imperador mogul Shah Alam.

“Recolhi tudo o que foi possível dos Arquivos de Goa, entre outros, documentos em várias línguas europeias, tendo encontrado correspondências ente Juliana e os vice-reis portugueses (na Índia) e também com os padres jesuítas. Ainda encontrei uma carta que escreveu ao rei português, Dom João V, a 12 de julho de 1710”, disse o Chauhan.

Toda a documentação encontrada comprovou a atuação dos governos português, britânico, francês e holandês na Índia, nomeadamente entre os séculos XVII e XVIII.

O império mogul foi um Estado que existiu entre 1526 e 1857 e que chegou quase a dominar todo o subcontinente indiano.

De acordo com Raghuraj Singh Chauhan, os pais de Juliana Dias da Costa, conhecida em Deli como Bibi Julena, moravam em Hugli, perto de Calcutá, numa zona em que havia um povoado de portugueses, que foi autorizado pelo imperador mogul Akbar.

Em 1632, foi-lhes retirada as benesses e cerca de 4.000 portugueses foram aprisionados, tendo sido levados para Agra.

Segundo ainda Chauhan, o pai de Juliana teria sido obrigado a converter-se ao islão (a corte mogul praticava esta religião) e a mãe a servir como empregada doméstica, provavelmente para uma das damas do harém do imperador Shah Jahan.

Bibi Julena teria já nascido em Agra, por volta de 1645. Após a morte dos seus pais, Juliana foi criada pelos jesuítas, nomeadamente o padre António de Magalhães. Juliana Dias da Costa tornou-se viúva ainda muito jovem e foi introduzida na corte pelo padre Magalhães, que lhe proporcionou uma vasta educação, inclusive em línguas e outras disciplinas.

O romance entre a mulher de origem portuguesa e o príncipe mogul foi mantido em segredo, segundo o autor do livro, pois o imperador Aurangzeb, pai de Shah Alam (conhecido também como Muazzam), era bastante “ortodoxo e fanático” do islão.

O príncipe Shah Alam assumiu o trono em 1707 (como Bahadur Shah I) e Juliana recebeu vários bens, como terras, e ainda “recebeu como residência um palácio real, melhor do que os da Europa” naquele período, de acordo com o autor do livro, acrescentando que estas informações são baseadas em “relatos de europeus deste período”.

“O seu papel não é apenas grande e louvável, mas fiel à causa do cristianismo”, declarou, referindo que financiou ou doou muito dinheiro às obras e missões católicas.

A Igreja em Masihgarh, que a mulher de origem portuguesa também frequentava, foi construída em terras doadas por Juliana Dias da Costa, sendo que esta ainda hoje existe.

“Ela ajudou a todos os pobres e órfãos e mesmo sendo muito rica, permaneceu sensível. Juliana também prestou grandes serviços aos portugueses”, acrescentou o antigo diretor do Museu Nacional de Nova Deli.

Bibi Julena foi patrona dos órfãos, mãe da Sociedade de Jesus, benfeitora do Colégio e Missão católicas de Agra e financiou a missão dos jesuítas — enviada pelo papa – no Tibet.

Juliana Dias da Costa viveu mais de 45 anos como companheira e a preferida de Shah Alam, tendo mantido a sua influência na corte mogul até a sua morte, já idosa, em 1734.

CSR // PJA

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