Ontem fez 131 anos que nasceu Armando Côrtes-Rodrigues e, inspirado no apelo do
Pedro Pascoal de Melo, em homenagem ao poeta que foi do mundo sendo de Vila Franca do Campo, e, também, de certa forma, na sequência do luminoso poema do
João Pedro Porto, deixo eu, também aqui, a minha tímida, porque mínima em face da sua grandeza, homenagem ao povo da Ucrânia.
Quando todas as luzes se apagarem
O teu corpo guardará a chama
Que se derrama dos olhos que brilham.
Quando as almas se resguardarem em caves,
Estreitos e negros labirintos da loucura humana,
E de longe o troar dos obuses fizer tremer os sonhos.
Quando os teus pés sustiverem o chão que se rasga ao peso dos blindados,
E o caminho se fizer de filhos e mães
Estendidos no vazio distante de centenas de quilómetros
Frios e secos como impossíveis Invernos
E a imensidão dos carros se suster, sem marcha, sobre a ansiedade e o choro
E a esperança das crianças se mascarar de lágrimas.
Quando a tua mão estendida oferecer o sol dos girassóis
E o teu grito fizer eco sobre o passado e o futuro
E navegar sem vento sobre os oceanos do Tempo
E todo o mundo se encolher sobre ti.
Quando a tua força for a arma dos gigantes
E a mão que se abate sobre a infâmia dos fracos
E o teu gesto for eterno e puro como as estrelas
E tão vasto como expansão do Universo
E a tua voz abraçar todas as latitudes
E cada hora que passar forem séculos de História.
Quando, vivas ou morras, a Paz fores tu
Então os anjos caíram sobre ti.
Porque não há no mundo arma mais poderosa do que o coração de um Povo,
Nem exemplo mais cristalino do que os que colocam o seu corpo limpo
Na frente do mal, como um muro, para que este não passe,
Os que aguentam no estômago apertado a solidão e a angústia de mil infernos
E, face a face com o terror,
Olham o Diabo nos olhos e pronunciam,
Sem medo – “Vai p’ró caralho!”
Pedro de Mendoza
Vila Franca do Campo, 1 de Março de 2022
When all the lights go out
Your body will keep the flame
That spills from the eyes that shine.
When souls hide in basements,
Narrow and black labyrinths of human folly,
And from afar the roar of shells makes dreams tremble.
When your feet support the ground that tears under the weight of the armored cars,
And the path is made of children and mothers
Stretched out in the distant void of hundreds of kilometers
Cold and dry like impossible winters
And the immensity of cars is sustained, without march, on anxiety and weeping
And the children’s hopes is masked by tears.
When your outstretched hand offers the sun of sunflowers
And your cry echoes over the past and the future
And sails without wind over the oceans of Time
And the whole world will cower over you.
When your strength is the weapon of giants
And the hand that falls on the infamy of the weak
And your gesture is eternal and pure like the stars
And as vast as the expansion of the Universe
And your voice embraces all latitudes
And every hour that passes is centuries of history.
When, live or die, Peace be you
Then the angels will fall upon you.
Because there is no weapon in the world more powerful than the heart of a People,
No more cristal example than those who put their body’s clean
In front of evil, like a wall, so that it shall not pass,
Those who endure in their tight stomach the loneliness and anguish of a thousand hells
And, face to face with terror,
Look the Devil in the eye and pronounce,
Without fear – “Go fuck yourself!”
Pedro de Mendoza
Azores, March 1st, 2022
