OSVALDO CABRAL UM PROBLEMA GRAVE FORA DA AGENDA

É impressionante o silêncio total que se verificou na campanha eleitoral sobre um problema que afecta gravemente o país e que vai influenciar, no futuro, o que seremos como sociedade.
O inverno demográfico está aí para quase todas as regiões do país e também para a nossa, que não tinha este problema tão acentuado há umas décadas atrás.
O demógrafo Paulo Machado, na excelente entrevista que concedeu esta semana ao “Diário dos Açores”, explicou minuciosamente o quão grave é o caminho que estamos a trilhar, caso não o enfrentemos com urgência.
A taxa de fecundidade nos Açores já foi a mais alta do país (43% em 2011, 38% para Portugal), mas no espaço de uma década demos um trambolhão para os 34,5% em 2020, enquanto Portugal nos ultrapassou com 37,2%.
A consequência disto foi a rápida queda da idade média ao nascimento do primeiro filho nos Açores, que numa década subiu quase três anos, mais do que a média em Portugal.
A idade média da mãe açoriana ao nascimento do primeiro filho era de 26,9 anos em 2011, passando em 2020 para 29,4 anos (de 29,2 para 30,7 em Portugal).
Daí o alerta do Dr. Paulo Machado, para o facto de, no futuro, a manter-se este cenário, vamos ter na nossa região uma população mais envelhecida (na base e no topo da sua estrutura), com reflexos na população activa.
É muito provável que já estejamos a sentir isto na pele, pois a população ativa dos Açores atingiu um ponto alto em 2019, com uma média trimestral de mais de 122 mil pessoas, mas depois caiu para uma média de 119 mil em 2020.
A agravar tudo isso, temos problemas, novamente, com o saldo migratório – coisa que não conhecíamos há poucos anos -, e também com o saldo natural, que se tem vindo a acentuar nos últimos anos.
Em 2020 nasceram nos Açores 2.102 pessoas, mas morreram 2.439, num agravamento de saldo cada vez mais sentido nas ilhas mais pequenas.
Não é por acaso que se fala, já há algum tempo, do perigo de desertificação de várias ilhas, com um sangramento populacional que já não terá retorno.
Como diz, muito bem, o Presidente da Associação Portuguesa de Demografia, vamos assistir na nossa região, daqui para a frente, a uma recessão demográfica, que se vai agravar se não houver mudanças sociais profundas.
Como ele diz, pequenos paliativos não resolvem nada, e as ajudas financeiras propostas no parlamento açoriano para quem tiver bebés, não passam mesmo de paliativos.
Podem ajudar, mas não resolvem, pelo que há que olhar para outras medidas mais profundas, como o mercado de trabalho e da habitação, adoptando-se medidas de conciliação de família e trabalho.
De facto, a precariedade é a pior inimiga da natalidade, como também alertam os especialistas.
É pena que estejamos todos assoberbados com outros assuntos, nomeadamente a pandemia, tirando-nos o foco de um problema gravíssimo que vamos esbarrar nesta e nas próximas gerações.
O Conselho Económico e Social dos Açores, graças ao Dr. Gualter Furtado, já colocou este assunto na sua agenda e quer debatê-lo nos próximos tempos.
É preciso criar um forte movimento junto das instituições regionais, no sentido de mobilizar os decisores para o problema e criar fórmulas que ajudem a uma robusta política de natalidade, sem os habituais paliativos.
É decisivo e urgente!
Vamos votar
O desencanto com a política e com os políticos é crescente, como todos sabemos, mas está nas nossas mãos escolher os melhores, que possam defender e implementar as melhores políticas para o colectivo.
Hoje temos mais esta oportunidade, graças à democracia e à liberdade de cada um, coisa que vai piorando em tantas paragens e para tantos povos no globo.
Termos a possibilidade de eleger os nossos representantes para o parlamento nacional é uma dádiva que nos deu o 25 de Abril, quebrando um tratamento de séculos em que a nossa voz não era ouvida no Reino ou no Império dos senhores de outrora.
Não podemos desperdiçar mais esta oportunidade de nos fazermos ouvir e decidir.
Por isso, vamos todos votar.
(Osvaldo Cabral – Diário dos Açores de 30/01/2022)
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