OS ESPOLIADOS

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Os espoliados
Na ressaca do pacote de medidas de apoio às famílias, anunciado por António Costa, já todos perceberam quem vai pagar por mais esta crise: a classe média e os pensionistas, os espoliados do costume em todas as crises.
Algumas das medidas são positivas, mas todas insuficientes, cheias de alçapões e tardias.
Por exemplo, a classe média é aquela que mais detém habitação própria com recurso ao crédito bancário.
Para as rendas é feita uma intervenção até aos 2%, recompensando os senhorios no IRS e IRC. E para os têm crédito à habitação?
Como pagar rendas bancárias que estão a subir mais do que as taxas das rendas?
No caso dos pensionistas o escândalo ainda é maior, tratando-se de um truque criado por um qualquer técnico da Autoridade Tributária que há-de ser recompensado por isso, como quem vai à caça das infracções tributárias dos contribuintes.
Então atribui-se, agora, uma meia pensão, para, depois, em Janeiro, se mudar o cálculo da lei e os pensionistas passarem a receber menos para o resto da vida?
Nem a ‘troika’ se lembrou de tal número ilusionista, apresentado como se fosse uma medida de apoio aos reformados. Não é.
Trata-se de uma manipulação técnica para espoliar os mais frágeis da sociedade.
No cheque de 125 euros há outra ilusão.
Quem ganha 1.500 euros desconta por mês quase 500 euros para o Estado, mas este devolve-lhe, num só mês, 125 euros! Uma esmola que nem dá para encher duas vezes o depósito da viatura apenas no mês de Outubro.
A mesma espoliação é feita na receita fiscal.
O Estado já arrecadou, nestes meses em que a inflação galopou, mais de 10 mil milhões de euros em receita fiscal extraordinária.
Ou seja, já ia com um excedente orçamental, a que se junta agora mais estes pecúlio inesperado, só porque o governo se atrasou, propositadamente, na implementação das medidas, para encher os cofres.
E o que dá em troca às famílias espoliadas?
Uns míseros 2,4 mil milhões!
Em resumo, os contribuintes e os mais fracos vão continuar a ser os espoliados pelo Estado glutão, enquanto as grandes empresas, especialmente as petrolíferas, a banca e as que comercializam bens alimentares, vão continuar com os seus lucros excessivos, uma benção do governo que está a ser taxada por outros governos mais inteligentes em países com líderes mais competentes.
É bom que o Governo dos Açores vá pondo as barbas de molho e não cometa as mesmas barbaridades.
É verdade que a governação açoriana está muito condicionada, sobretudo ao nível das fiscalidade, até porque já baixou os impostos este ano.
Mas existem outras formas de compensar as famílias açorianas, a começar pela distribuição do excedente da receita fiscal, de que o governo de Bolieiro não se deve aproveitar como fez Costa.
Dizer que o combate à inflação nos Açores começou em Janeiro com a baixa de impostos é uma falácia: Porque, pura e simplesmente, naquela altura não havia inflação!
Vir com estes argumentos enganadores, tipo continuação da “escola sergiana”, só descredibiliza a governação.
Há outras medidas boas, como foram implantadas pela vizinha Região Autónoma da Madeira, antecipando-se à República, que podemos copiar sem mais demora.
É que, aqui nos Açores, também já vamos tarde.
Para fazer sofrer as famílias, já bastou este governo ter legislado os apoios às vítimas das cheias nas Feteiras e Sete Cidades… um ano depois!
Mexam-se, que as férias já lá vão.
(Osvaldo Cabral – Diário dos Açores de 11.09.2022)
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