o canhão em Santa Maria

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Ângela Loura «Daqui e Dali – do que é nosso» | «Registos: Memórias da minha Ilha»

Há 3 dias

Santa Maria, 1981.
Algures entre o Polígono de Acústica Submarina e o Forte/Castelo do Cabrestante. O que será feito daquele canhão? O que será feito daquela estrutura?

Em 1999, quando foi gravado o programa “Horizontes de Memória” da RTP em Santa Maria, ainda estavam 2 canhões junto ao Forte/Castelo de São João Baptista, e outros 2 canhões junto ao local do Forte de Nossa Senhora dos Anjos. E desses? O que é feito?
Disse José Hermano Saraiva, segurando numa mão fragmentos de um dos canhões:
«Em breve, dos canhões só há a lembrança de que outrora eles estavam aqui. (…) Eu já mostrei isto faz agora meia dúzia de anos e volto a mostrar. Porque meia dúzia de anos depois ainda é mais urgente, e o estado destas peças ainda é mais lamentável.»
Acrescentou:
«Nós não temos outro passado. Se deixarmos perder este, o que é que nós temos para nos recordar aquilo que já fomos?»

E não diziam só os “de fora”. Ouçamos um “de cá”:
1) «A tua ilha tinha condições para haver guardado todas as memórias construídas desde a primeira casa de pedra que abrigou gente. (…) É certo que eles não saberiam que estaríamos tão interessados nessas relíquias do passado, mas isso não alivia a nossa sensação de perda.»
2) «Todos éramos guardiões dos lugares onde vivíamos, e por isso nesse tempo não era preciso haver zonas classificadas e protegidas oficialmente. Mas agora é. (…)»
3) «(…) E tudo em Santa Maria é demasiado precioso para que alguma coisa se perca.»
(Daniel de Sá, em “Santa Maria, a ilha-mãe”)

Afinal, o que é preciso para que se comece (mesmo) a valorizar e a preservar património em Santa Maria? Desde a fortificação mais antiga, à torre de controlo do aeroporto, não faltam “memórias construídas” que, anos após anos, décadas após décadas, nós, os “guardiões dos lugares”, elegemos como não prioritários na constante construção da nossa memória colectiva. E isto tem um custo. Quantas memórias construídas ao longo de mais de 500 anos deste lugar de memória e de futuro já deixámos ruir? Precisamos de classificar tudo? Precisamos de deixar cair a última pedra? Afinal, de quanto tempo mais é que precisamos para agir?

40 anos depois desta foto, e 20 anos depois do episódio no “Horizontes de Memória”, os trabalhos de investigação sobre a História de Santa Maria e o seu património são consideráveis, e as formas de preservação/salvaguarda de património também evoluíram. Saibamos aproveitar estes valiosos contributos. Mas saibamos também ser guardiões dos nossos lugares.

Não se esqueçam:
«(…) é .»
(Daniel de Sá, em “Santa Maria, a ilha-mãe”)

* Fotografia: ©J.H.C.Loura | ©J.P.Santos | ©ÂdSL

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Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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