1.2.3. Macau  a capitulação de 1966 pt4: O estranho caso do documentário do 1,2,3 que levou três anos a ir para o ar

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Duas décadas depois, o jornalista Ricardo Pinto – também administrador deste jornal – continua sem perceber por que razão o documentário que realizou para a Teledifusão de Macau (TDM) sobre os moti…

Fonte: O estranho caso do documentário que levou três anos a ir para o ar

O estranho caso do documentário que levou três anos a ir para o ar

Duas décadas depois, o jornalista Ricardo Pinto – também administrador deste jornal – continua sem perceber por que razão o documentário que realizou para a Teledifusão de Macau (TDM) sobre os motins “1,2,3”, ocorridos há meio século, demorou três anos a ser emitido.

“Até existia uma promoção que foi mostrada várias vezes aos espectadores, anunciando a exibição para uma sexta-feira de Dezembro de 1996, ou seja, pelos 30 anos do ‘1,2,3’, mas um dia sou chamado à administração da TDM e explicam-me que não ia ser emitido. Obviamente, fiquei absolutamente perplexo”, conta o autor do documentário sobre aquele que foi um dos mais tensos episódios da história de Macau do século XX.

O documentário sobre o “1,2,3” foi exibido apenas três anos mais tarde: “Razões absolutamente absurdas” foram invocadas, como “a redacção estar a cobrir mal acontecimentos de um secretário-adjunto em particular”. Para Ricardo Pinto, “obviamente que isso não era uma justificação que pudesse ser apresentada por alguém que, ainda por cima, era jornalista”.

O caso também foi justificado com problemas técnicos, uma explicação “apresentada publicamente e que era absolutamente falsa”, descreve à agência Lusa.

O documentário seria exibido pela primeira vez em Dezembro de 1999, às portas da transferência da administração de Macau de Portugal para a China. “Se eu não tinha percebido por que não tinha sido exibido antes, talvez menos tenha percebido ainda que tenha sido mostrado, depois, em 1999”, admite.

O eventual “melindre político” relativamente à relação entre Portugal e a China, que poderá ter levado a que o documentário não fosse exibido em 1996, era “obviamente muito maior em vésperas da transição”, observa.

“Estar a recordar, a escassos dias da transferência, um episódio que tinha sido traumático no relacionamento entre portugueses e chineses aqui em Macau era absolutamente descabido”, sublinha.

Ricardo Pinto tem um palpite: “Estou convencido de que isso aconteceu apenas por uma razão: Havia uma série de imagens de arquivo que encontrei na época [que pertenciam a cadeias de televisão dos Estados Unidos, Hong Kong e Japão] que foram compradas pela TDM para este documentário e que foram utilizadas mais tarde noutros”, pelo que a TDM terá tido esse “rebate de consciência” emitindo o documentário sobre o “1,2,3”, para os quais as imagens foram compradas, antes dos demais.

“Estava a sair de casa e, de repente, ouvi a música do genérico inicial a passar na televisão. Voltei atrás quando percebi que o documentário estava a ser exibido. Obviamente constatei que não tinha havido promoção rigorosamente nenhuma, ninguém me tinha dado nenhuma explicação, ninguém me perguntou e ninguém me comunicou que ia ser exibido”, lembra.

O mais surpreendente é que outro documentário sobre o “1,2,3”, da sua colega chinesa Agnes Lam, com “material comum”, foi para o ar no canal chinês da TDM quando era suposto, em 1996.

“Quando o fiz [o documentário], a preocupação era a de reter os testemunhos das pessoas que tinham participado nos eventos. (…) Há um vastíssimo leque de pessoas que presenciaram os acontecimentos, que participaram neles, que tomaram decisões e basicamente todos elas contam a sua parte da história, (…) não há pessoas que tracem teses sobre o que se passou, mas antes relatos muito objetivos dos factos”, realça.

Para o jornalista, “isto não devia ser muito controverso, não devia ser uma coisa que a TDM procurasse esconder”.

Citando o interesse que lhe foi manifestado por investigadores em “conhecer os depoimentos prestados na altura – irrepetíveis porque a esmagadora maioria dos entrevistados infelizmente já faleceu”, Ricardo Pinto considera que o filme deveria ser legendado em inglês pela TDM, para ser eventualmente retransmitido ou projetado em sessões para estudantes, por exemplo.

O documentário voltou a passar na TDM depois do estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM).

Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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