HONG KONG CLUB LUSITANO

Club Lusitano. O ponto de encontro português em Hong Kong.
Fundado há 157 anos o Club Lusitano é um dos clubes sociais mais antigos daquele território.
O seu atual presidente, Patrick Rozario, explica a sua importância na manutenção de uma identidade ao mesmo tempo portuguesa e asiática.
Música cantada em português a sair das colunas, pastéis de bacalhau, muitos, servidos com vinhos do Dão ou do Alentejo a acompanhar as conversas, em várias línguas, às mesas ou ao balcão.
Tudo isto acontece no dia a dia de cinco andares de um edifício no centro de Hong Kong, no Club Lusitano, o local de encontro e socialização de descendentes portugueses.
É um dos mais antigos clubes sociais de Hong Kong e tem como objetivo perpetuar a identidade cultural portuguesa.
É isso que nos explica Patrick Rozario, o lusodescendente presidente do Lusitano.
Em conversa com o DN, via Zoom, sublinha a importância do clube fundado a 17 de dezembro de 1866 – dois anos depois da fundação do Diário de Notícias.
A história do clube começou quando os ingleses estabeleceram um porto em Hong Kong – maior e mais profundo do que o existente em Macau – e com os principais negócios daquela região do Oriente a sediarem-se por ali.
Isso levou a que muitas das pessoas de Macau, que falavam várias línguas, desde cantonês, português, ao patoá macaense (crioulo de Macau) inglês e francês, fossem para Hong Kong em busca de mais oportunidades.
“De mercadores, a advogados, de médicos a professores vieram para Hong Kong.
E com eles trouxeram as suas famílias”, explica Patrick Rozado.
Levou então pouco tempo a que se iniciasse a construção de escolas e igrejas católicas e, daí, um pequeno passo até à criação de um clube para a socialização dessa comunidade de portugueses e lusodescendentes.
“Há 150 anos a sociedade era muito segregada: apesar de trabalharem todos no porto, no final do dia cada um ia ter com as suas gentes com as suas nacionalidades.
Na altura não havia muita diversão, mas com a criação do Club Lusitano passou a existir um salão de baile, restaurante e até teatro”, acrescenta.
Com o passar dos anos a população cresceu, isso fez com que os membros do clube fossem “não só pessoas vindas de Macau, mas também vindas de Portugal”.
E apesar de as mulheres não poderem ser membros – tal só aconteceu a partir de 2002 – podiam, bem como os filhos dos sócios, frequentar o clube em diferentes ocasiões, como almoços ou eventos especiais .
“Lembro-me de, em criança, celebrarem casamentos no clube”, recorda Patrick Rozario.
Centro de refugiados
A Segunda Guerra Mundial veio alterar em muito a vida de Hong Kong e o clube tornou-se, também, uma espécie de centro de acolhimento.
“Como Portugal foi um país neutro durante a guerra, os japoneses, quando invadiram Hong Kong, permitiram que o Club Lusitano continuasse a funcionar quase como base de refugiados”, relembra o presidente.
Depois desse período mais conturbado, a vida do clube regressou, aos poucos, à normalidade e desde então a maior alteração foi ter-se tornando um clube luso-asiático.
Aliás, o próprio Patrick Rozario, que tem nacionalidade portuguesa, é luso-asiático de 10.ª geração.
“Atualmente, temos menos membros e não há tantos portugueses em Hong Kong, temos expats portugueses e alguns membros chineses – com nacionalidade portuguesa -, brasileiros, africanos e também judeus, que descendem dos sefarditas.
Mas ainda somos um clube étnico e temos de o manter assim, português.”
No total são hoje 600 membros dos quais 200 vivem fora do território, os chamados “membros absentes” que na maioria vivem nos Estados Unidos e que, de vez em quando, regressam a Hong Kong.
Na longa história do Club Lusitano, e entre vários membros ilustres do clube, Patrick Rozario destaca o papel do comendador Arnaldo de Oliveira Sales (1920-2020) que foi presidente durante 41 anos.
Foi durante os seus sucessivos mandatos que, em março de 1991, o clube recebeu a Ordem do Infante Dom Henrique pelos serviços prestados à cultura portuguesa.
Já o atual presidente está no cargo desde 2015.
Patrick Rozario é filho de pais macaenses.
Da mãe herdou o apelido Lemos e do pai o nome Rozario.
“Apesar de ter, também, nacionalidade inglesa, vejo-me como macaense e português.
Nasci e fui criado em Hong Kong, mas o meu pai enviou-me para o Canadá para estudar.
Depois regressei a Hong Kong para voltar ao Canadá e aos Estados Unidos, e regressei em definitivo nos Anos 1990″.
Rozario tem sido eleito anualmente para o cargo por um comité de nove membros e divide o seu tempo entre a vida do clube e a sua profissão como senior partner de uma empresa de contabilidade.
O ponto de encontro
“Para ser membro do clube é necessário ter nacionalidade portuguesa ou comprovar que se tem linhagem portuguesa e ser proposto por dois membros da direção com direito de voto”, frisa Patrick Rozario.
A atividade do clube é, sobretudo, social e de ponto de encontro em torno da comida. mas não só: há muitos eventos culturais que vão desde a leitura de livros em português, noites de fados ou, como há poucas semanas, a receção (e atuação) de uma tuna da Universidade de Coimbra.
“O nosso propósito continua a de sermos um clube social português e com herança portuguesa, o que conseguimos, sobretudo, através das atividades culturais e da gastronomia.
Contudo, a maior dificuldade é a língua, porque, vivendo num ambiente tão internacional, é difícil comunicar em português”, explica-nos Rozario, na conversa feita em inglês.
A imagem de Portugal na Ásia, especialmente em Hong Kong, é positiva, sublinha.
“É visto como um país mais relaxado, os portugueses são mais amistosos e têm uma imagem muito positiva.
Mesmo comparado com outros europeus”.
A concluir a conversa Patrick Rozario não se imiscui de mandar um recado (ou dica?) a quem está em Portugal:
“Há muita gente que gosta dos produtos portugueses, mas os portugueses não são bons a promover e vender o que é seu.”
Cinco pisos de uma casa portuguesa com vinho e pão sobre a mesa
Portugal é um dos países que mais vive em torno da mesa.
E é isso que também acontece no Club Lusitano de Hong Kong.
Além do social, é sobretudo um local onde comida portuguesa faz a ligação emocional com o território que está a milhares de quilómetros de distância.
E cabe ao português Fábio Pombo, chef executivo do Club, a preservação, e afirmação, dessa identidade à mesa de um dos clubes sociais mais antigo do Oriente.
No cargo há dois anos, Pombo é responsável por toda a comida (e também bebida) que é servida nos diferentes locais onde se pode petiscar e desgustar — o Club Lusitano ocupa cinco andares de um edifício no centro de Hong Kong.
Em conversa telefónica — depois de acertados os fusos horários –, o chef conta que num desses pisos está uma típica pastelaria portuguesa “com montra de bolos, folhados, sanduíches e, claro, café português”.
Noutro piso há um bar, onde passa rádio portuguesa e é abastecido por uma das melhores garrafeiras nacionais lusas fora de Portugal, acrescenta.
“Apesar de ser um bar muito internacional, e ter todo o tipo de cocktails, whiskeys e gins, tem um grande foco na oferta de produtos portugueses”.
Mas não se pense que se bebe, apenas, no… bar.
Por lá é possível comer pratos que dizem muito aos portugueses: sardinhas, arroz de pato, bacalhau com natas, arroz de polvo, de marisco, e pastéis de bacalhau – este é um dos produtos mais pedidos.
“Fazemos milhares de pastéis de bacalhau por mês”, revela o chef.
O Lusitano tem ainda um restaurante de alta cozinha – e que obriga a um dress code específico.
Por lá, há comida de fusão, onde o chef combina o que é tradicional português com comida de origem africana, brasileira e da vizinha Macau.
Há ainda um último andar, no edifício, reservado para conferências e eventos dos associados.
No dia da conversa, o chef português, contou que estava a preparar uma festa de reforma de um associado.
Um evento para 200 pessoas onde seriam distribuídos canapés de sardinha e, claro, muitos pastéis de bacalhau.
A tantos quilómetros de distância de Portugal, é em Macau que Fábio Pombo vai buscar a matéria prima.
“Tenho por cá muitos parceiros que fornecem produtos, como bacalhau, carne de vitela barrosã e sardinhas.
E, por norma, uma vez por ano importamos um contentor inteiro de produtos vindos de Portugal.”
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