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no dia mundial da poesia
523. A PAZ ZEN DO EDUARDO (BETTENCOURT PINTO) 2011 CHRYS
não esqueço as tuas palavras
o tom suave das tuas falas
lavrador de verbos
com medo de ferir as terras
arando sentenças
como se fossem seres vivos
estás de bem contigo e com o mundo
pacifista de vocábulo fácil
nem na imagética és agressivo
entras a medo
como quem pede desculpa
e sais fotografando
sorrateiro para não incomodar o ar
que respiras sem sofreguidão
tens o sofrimento e a dor
em sulcos profundos na alma
reclusos da poesia
que ainda não escreveste
prisioneiros invisíveis
carregas a dor de muitos mundos
oculta em véus diáfanos
falas mansamente para não ofender
lentas palavras na construção do mundo
não acalentas raivas ocultas
dialogas com as tuas fotos
condescendes com os humanos
partilhas a felicidade
de estar e de ser
únicas certezas que transportas
mas também sorris
como a criança que não foste
como o adolescente que não pudeste ser
como o jovem adulto que te obrigaram a viver
convertes mágoas em alegrias
partos difíceis e resignados
alquimias de amarguras
das aves sabes o voo tangencial
das plantas o ciclo vital
das ondas que são o teu leito
avistas as estrelas que te alimentam
a poesia é questão de minorias
só os privilegiados leem
menos ainda a entendem
dizem que escrevê-la é fácil
mas difícil é o que fazes
vives a poesia no teu dia-a-dia
a ti, irmão da palavra
obrigado por acreditares
em ti, como em Gedeão
o sonho comanda a vida
(ah! como eu gostava
de ser poeta
viver outras vidas
utopia).
-- Chrys Chrystello,