GOVERNO DESGOVERNADO

Enquanto escrevo, Frederico Pinheiro, ex-adjunto do ministro das Infra-estruturas, acusou o ministro de querer mentir à Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP. Segundo o seu colaborador próximo, João Galamba queria omitir que o ministério dispunha de notas da reunião preparatória realizada com o grupo parlamentar do PS e a CEO da TAP no dia 17 de Janeiro. Isto não é um “caso” ou “casinho” – é o pântano instalado no interior do Governo.

A cena revelada esta sexta-feira é patética, com o ministro a pedir à polícia para ir buscar o computador que o adjunto tinha levado para casa e que teria as tais notas. O ministro exonerou o adjunto e apresentou queixa-crime (por roubo?). Houve confrontos físicos. Isto não é um Governo, é um saloon de um filme de cowboys.

Enquanto escrevo, estou naturalmente à espera que João Galamba se demita. Alguém vai ter o bom senso de lhe dizer que este é o único caminho depois da cena de doidos que ocorreu no seu ministério. É preciso lembrar que um adjunto não é contratado segundo concurso público – é alguém da máxima confiança do ministro.

Também alguém tem de explicar a António Costa que se impõe um recuo em toda a linha e que o carro desgovernado tem de ir à revisão, daquelas profundas e dispendiosas. Não basta a nova estratégia de ataque ao Presidente da República por este falar muitas vezes da possibilidade de dissolução, como fizeram Augusto Santos Silva (sem citar o Presidente) na sessão do 25 de Abril ou Duarte Cordeiro, na entrevista ao PÚBLICO, nomeando Marcelo.

Exemplos como esta situação absurda que envolve João Galamba mostram que um destes dias os portugueses podem vir mesmo a apoiar a dissolução de que tanto fala Marcelo.

Talvez António Costa ainda vá a tempo de ir reparar o carro desgovernado, se puser o conta-quilómetros a zeros e começar de novo. Remodele o Governo, aposte em pessoas em quem os portugueses confiem. A curva descendente já está em marcha e o carro desgovernado pode cair na ribanceira.»

[Ana Sá Lopes, “Público”, 28/04/2023]