Estamos cada vez mais pobres

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EDITORIAL

Estamos cada vez mais pobres

Fomos surpreendidos ontem – só conseguiremos abordar o assunto com alguma profundidade na próxima semana – com dados do INE (Instituto Nacional de Estatística) que são alarmantes no que diz respeito à pobreza e à desigualdade nos Açores (2021).
A nível nacional, o chamado risco de pobreza – um eufemismo para miséria – desceu dois pontos percentuais, fixando-se em 16,4%. Mas nos Açores trepou 3,8 pontos percentuais, sendo agora de 25,1%, só abaixo da Madeira (25,9%) que, no entanto, cresceu apenas 1,7 pontos percentuais.
Há depois a desigualdade, medida pelo chamado coeficiente de Gini. Os Açores estão no topo nacional, com 34,8%, contra 32,0% a nível nacional.
Temos vindo a chamar a atenção aqui no nosso jornal para o risco de pobreza associado à indústria do turismo. As três regiões onde o risco de pobreza é maior em Portugal são Madeira, Açores e Algarve. Deveremos ser capazes de parar para refletir, coisa a que, em boa verdade, somos pouco dados.
Por enquanto nem vamos olhar para a pobreza antes dos chamados apoios sociais. Se a nível nacional os dados apontam para perto de metade da população, nos Açores as contas serão certamente assustadoras.
Em boa verdade, não entramos em delírio quando estes indicadores descem uns pontos percentuais, como não aconselhamos o suicídio (enquanto sociedade, claro) quando os pontos sobem. Notamos algo constante, que é o nosso estado de pobreza, que se sabe estar ligado a maus salários e a péssima distribuição da riqueza, seja qual for a sua proveniência.
Estamos fartos de desculpas, que se repetem desde há séculos. E vamos vivendo por aqui numa apagada e vil tristeza, fazendo de contas que somos autónomos. Na realidade não somos, por muitas razões. Uma delas é porque não conseguimos gerar recursos. O que se liga diretamente com a pobreza. Na verdade geramos recursos para alguns (cf. coeficiente de Gini), mas o povo, esse vai-se arrastando na miséria. Pelos novos dados, mais de um em cada quatro está na pobreza. Não há comentários possíveis.
O estudo da nossa pobreza passou para a Universidade de Coimbra, procurando o Governo Regional virar assim uma página na abordagem do fenómeno. Esperamos com inquietação os primeiros trabalhos. É preciso compreender muito bem o fenómeno e traçar uma abordagem consequente. Porque há entre nós demasiada miséria.
  • in, Diário Insular, 21 de Janeiro / 2023
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