ERA UMA VEZ A HISTÓRIA DUM ARQUIPÉLAGO

todas as crónicas anteriores em https://www.lusofonias.net/mais/as-ana-chronicas-acorianas.html

Crónica 421 ERA UMA VEZ A HISTÓRIA DUM ARQUIPÉLAGO 13

Crónica 421 ERA UMA VEZ A HISTÓRIA DUM ARQUIPÉLAGO 13-10-2021

 

Surgiram nos últimos dias artigos científicos que provam, de acordo com novo estudo internacional, que contou com a participação de investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos – Açores (CIBIO), de forma elucidativa a presença nos Açores doutros povos 700 anos do povoamento português.

A partir do estudo do pólen, fragmentos fósseis de plantas e resíduos de carvão presentes nos sedimentos, concluiu-se que as primeiras ocupações humanas nos ecossistemas das ilhas levaram a profundas alterações ecológicas e ambientais. Os modelos climáticos utilizados sugerem que a colonização inicial no final do início da Idade Média (500 a 900 d.C.) ocorreu em conjunto com ventos do nordeste anómalos e com temperaturas mais quentes no hemisfério norte.

Estas condições climáticas provavelmente inibiram a exploração a partir do sul da Europa e facilitaram a colonização humana a partir do nordeste do Atlântico. Estes resultados são consistentes com dados arqueológicos e genéticos recentes, sugerindo que os nórdicos foram muito provavelmente os primeiros colonos das ilhas, contrariando assim, o consenso de que o arquipélago nunca tinha sido habitado até à chegada dos portugueses.

O que se sabia ate agora era que em 1270 Lanzarote Malucelli chegou às Canárias e Madeira. Há mapas de expedições às Canárias por genoveses ao serviço de Portugal (D. Afonso IV, 1291-1367). O mais antigo é de Angelino Dulcert (1338) e dele constam as ilhas dos Açores, depois há o planisfério Mediceo, o portulano Laurentino de 1351, o Atlas catalão de 1375, a carta de Pinelli-Walckenaer (1384) e a De Viladestes de 1413, e no Atlas de Cristofalo Soligo em 1470 surgem todas as ilhas dos Açores.

Mapa De Angelino Dulcert 1338

As teses do Descobrimento por Frei Gonçalo Velho (Cabral), baseiam-se na tradição oral recolhida por Gaspar Frutuoso, na segunda metade do séc. XVI.

Azurara, Duarte Pacheco Pereira e outros, nunca citam Gonçalo Velho e opinam que data de 1431. As teses ecléticas apontam para o Descobrimento no tempo de D. Afonso IV sendo as viagens do Infante D. Henrique de reconhecimento. O mapa de Beccario, de 1435, assinala a maioria das ilhas como “insule de nuovo reperte“. Damião Peres defende que “foram achadas por Diogo de Sunis (ou Silves), piloto de el-rei no ano de 1427“. É atribuído a Gonçalo Velho Cabral, primeiro capitão donatário (S. Miguel e Sta Maria), o papel de lançador de gados e colonizador. A referência vem em Azurara (Crónica do Descobrimento da Guiné, 1453):

E na era de mil… (?) mandou o Infante D. Henrique a um cavaleiro que se chamava Gonçalo Velho, Comendador que era da Ordem de Xpõ (Cristo) que fosse povoar, outras duas ilhas que estão afastadas daquelas (Madeira e Porto Santo) a cento e setenta léguas a noroeste”.

Outro coevo do Infante, o almoxarife do Paço de Sintra, Diogo Gomes, conta:

O Infante desejando descobrir lugares no Oceano Ocidental, e se existiam para além das descritas por Ptolomeu, mandou caravelas a procurar e viram a ocidente trezentas léguas além do Cabo Finisterra e vendo que eram ilhas, entraram na primeira. Voltaram a comunicar ao referido Infante as descobertas, com o que ele folgou muitíssimo e mandou o cavaleiro Gonçalo Velho, nas caravelas que conduziam animais domésticos que se distribuíram por cada uma das ilhas…”

Não diz quem capitaneou as caravelas da descoberta, só fala do povoamento. Nunca se saberão ao certo os nomes. As teorias da revelação do arquipélago dividem-se em três:

  • no segundo quartel do séc. XIV, no reinado de D. Afonso IV (H. Major, Ferreira de Serpa);

. na primeira metade do séc. XV por Gonçalo Velho (cardeal Saraiva, Aires de Sá);

  • as que conciliam as duas correntes de opinião (Jordão de Freitas, Velho Arruda).

As primeiras fundamentam-se em mapas genoveses após 1351. O arquipélago, conhecido por Cartagineses e Árabes, surge perfeitamente localizado nos mapas genoveses que atribuem o achamento a marinheiros portugueses e a genoveses (ao serviço de Portugal), entre 1317 e 1339. A historiografia (sécs XVIII e XIX) afirmava perentoriamente a veracidade desta informação e defendia que os fenícios projetaram o empório comercial na costa ocidental africana. Apenas os Velhos do Restelo, mantiveram a tese de que a região estava por revelar no início das navegações henriquinas.

A era dos Descobrimentos foi iniciada em 1317 por D. Dinis que contratou o genovês Manuel Pezagno (Pessanha) para o comando da frota real. Em 1335, D. Afonso IV enviou uma armada às Canárias cujos privilégios seriam concedidos em 1338 a mercadores estrangeiros. Segue-se, em 1415, a conquista de Ceuta numa expedição organizada por D. João I.

Gaspar Frutuoso escrevia:

“Em 1428 foi D. Pedro à Inglaterra, França, Alemanha, tornou pela Itália, Roma e Veneza e trouxe um mapa-múndi que tinha a Terra e o estreito de Magalhães a que chamavam de Cola do Dragão e o Cabo da Boa Esperança; e conjeturou que se ajudaria o Infante em seu descobrimento…”

Data de 1345 o “Libro del Conoscimiento de todos los rregnos et tierras e señoríos que son por el mundo et de las señales et armas que han“, de Jerónimo Zurita, frade mendicante de Sevilha, que teria acompanhado as expedições portuguesas, onde estão descritas diversas ilhas.

“Sobí en un leño con unos moros e llegamos a la primera isla, que dizen Gresa, e aprés d’ella es la isla de Lançarote, e dizen le así porque las gentes d’esta isla mataron a un ginovés que dezían Lançarote. E dende fui a otra isla que dizen Vezimarín e a otra que dizen Rachan, e dende a otra que dizen Alegrança, e otra que dizen Vegimar, e otra que dizen Forte Ventura, e otra que dizen Canaria. E fui a otra que dizen Tenerefiz, e a otra que dizen la isla del Infierno, e fui a otra que dizen Gomera, e a otra que dizen la isla de lo Fero, e a otra que dizen Aragavia, e a otra que dizen Salvaje, [Selvagens, Madeira] e a otra que dizen Desierta [Desertas], e a otra que dizen Lecmane [Madeira], e a otra el Puerto Santo [Porto Santo], e a otra la isla del Lobo, e a otra la isla de las Cabras [S. Miguel], e a otra la isla del Brasil [Terceira], a otra la Columbaria [Pico], a otra la isla de la Ventura [Faial], a otra la isla de San Jorge, e a otra de los Conejos, e a otra de los Cuervos Marines [Flores e Corvo], e en tal manera que son veinte e cinco islas.

Curioso o frade descrever 25 ilhas, cujos nomes se manterão nas cartas náuticas, por um século:

1351 – O Portulano Mediceo Laurenziano (Atlas Laurentino), na Biblioteca Nacional de Florença, Itália, assinala as ilhas “Cabrera” (Santa Maria e S. Miguel), Brasil (Terceira), Ventura (Faial), Columbis (Pico), Corvis Marinis (Flores e Corvo) e a de S. Jorge, sem no entanto a nomear.

1375 – O Atlas Catalão, de Jehuda Cresques, na Bibliothèque Nationale de France, Paris, nomeia a ilha de S. Jorge.

1384 – O Atlas Walckenaer-Pinelli assinala a ilha de Santa Maria

1385 – A Carta de Soleri assinala as ilhas anteriormente apontadas e mantém a “Capraria” (Sta Maria e S. Miguel).

1413 – O mapa de Maciá de Viladestes, na Bibliothèque Nationale de France, assinala Santa Maria.

1426 – A carta de Giacomo Giraldi assinala a ilha de Santa Maria

A História vai sendo reescrita com novos estudos e descobertas, e temos de corrigir o que nos ensinaram.

Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

[Australian Journalists’ Association MEEA]

Diário dos Açores (desde 2018)

Diário de Trás-os-Montes (desde 2005)

Tribuna das Ilhas (desde 2019)

Jornal LusoPress Québec, Canadá (desde 2020)