ANTÓNIO BUKCÃO, O CONGRESSO

O congro esso
O PS-Açores realizou o seu congresso. Dessa reunião magna não nasceu nada. Carlos César continua a ser figura dominante e central. Vasco Cordeiro, escolhido por César, mantém-se. Não aparece uma única voz dissonante no interior do partido. Não há uma clara assunção dos erros do passado, que lhes retiraram o poder regional e fizeram perder câmaras municipais importantes em algumas ilhas. E, mais grave que tudo, não se constitui o PS como uma verdadeira alternativa, com ideias inovadoras e cativantes para o eleitorado.
Em suma, sempre os mesmos protagonistas, com o mesmo discurso. Coitados de nós, que até ganhámos e tínhamos legitimidade para governar, não fora um bando de meliantes a assaltar o poder. Tolo povo, que não conseguiu ver que tudo o que fazíamos era óptimo e entregou o mando a quem não percebe nada disto…
A democracia, enquanto regime, tem variantes consoante as circunstâncias. Por exemplo, o regime democrático é um num Estado com muitos milhões de cidadãos, é outro numa nação com menor dimensão e revela-se ainda diferente numa região onde vivem duzentas e tal mil almas, dispersas por nove pedaços, uns bem maiores que outros.
Se, no caso de Portugal continental, ainda é possível ver as eleições e seus resultados como a consequência de ideologias, obras realizadas e projectos de mudança, nos Açores é mais possível a compra de consciências, através de empregos na coisa pública e favores feitos a destinatários concretos. Ao longo de 24 anos, 20 deles com poder absoluto, o PS montou uma teia de interesses e de dependências e acreditou que seria eterna. Fossem quais fossem os candidatos, que até podiam ser sempre os mesmos. Fossem quais fossem as promessas, vertidas em programas que ninguém lia. Fossem quais fossem os macro erros, desculpáveis face aos micro favores. Chegando ao ponto de nem festejarem as vitórias eleitorais, tão naturais as mesmas se revelavam.
A criação de empresas públicas regionais, que acumularam milhões de dívida à custa de avales. A mania das grandezas na SATA, que arruinou aquela companhia fundamental nesta região. Os erros graves na governação, em áreas fulcrais para a nossa vida, como a Educação. Nada disto importava, desde que assegurado estivesse o poder. E muitos governantes socialistas tomavam os departamentos governamentais como coisa sua. Ao ponto de desesperarem, quando tiveram de abandonar os seus gabinetes. Como se tivessem sido roubados…
Este último congresso era a oportunidade para a mudança de rumo. Novas ideias, novos protagonistas, e talvez o povo neles acreditasse nas próximas eleições. Nada disto aconteceu. Os mesmos que tomaram a Região como sua, tomam o partido como seu.
Mas será apenas isto? Uma falta de inteligência política quase indesculpável? Um primado de interesses pessoais em relação ao interesse do próprio partido e dos Açores? Ou será mais grave? Será que esta gente não tem mesmo ideias?
Creio cada vez mais que o PS não tem mesmo ideias. Se as tivesse, tinha-as aplicado na governação, enquanto a deteve. Se não sabiam ser governo, como saberiam ser oposição? Tendo como certo este vazio de soluções, é mais fácil entender a fraca oposição que desenvolvem e vão continuar a desenvolver. O voto contra medidas boas, só porque não foram capazes de sequer as imaginar. O bota-abaixo nos jornais e na Assembleia. A tentativa de boicote através dos seus fiéis infiltrados na máquina. E a crença de que, mais cedo ou mais tarde, os cidadãos que votaram noutras soluções de governo criarão juízo e devolver-lhes-ão o que era deles por direito natural.
Triste forma de amar esta Região, que conseguiram transformar, ao longo de duas décadas, na mais pobre do País…
António Bulcão
(publicada hoje no Diário Insular)
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