A PILA DO CHINÊS |Tiago Franco

Views: 0

A PILA DO CHINÊS |
Aqui há uns tempos um amigo disse-me que tinha comprado uma bicicleta por 2000 euros. Eu respondi de imediato “2 bilhetes para ir com a minha mulher a Sydney”. Gosto sempre de meter tudo em perspectiva ou numa conversão que se entenda melhor.
Os velhos da minha geracão viraram-se, e bem, para as bicicletas. Todos mais saudáveis a inalar fumo nas estradas de Portugal, sonhando pelo dia em que as ciclovias, bem feitas e encaixadas com lógica nas cidades, vão de facto ser uma realidade.
Tenho uma serra mesmo à porta de casa e fui ver quanto custava um pedal eléctrico para correr a ilha, sem rebentar as pernas todas, e assustei-me. 4 bilhetes para Istambul. Dava para levar os miudos a ainda visitar o harém do sultão no palácio Topkapi. Era uma forma de saberem como se fazia “multi-tasking” antes do Tinder.
Ainda a sonhar com a bicicleta, esfrego o olho, preparo o café na chávena roubada à sogra e sou bombardeado com o novo drama nacional: batota num jogo de futebol.
É como o escândalo do deputado que vive em Lisboa mas declara residência em Matosinhos para papar subsídios. Ou a supresa dos fogos em Agosto. Ou a estupefacão pelo empresário que desviou dinheiro de apoios da UE ou o autarca que adjudicou a obra ao sobrinho. O escândalo de ser português, apenas isso.
E qual era a temática já descascada e pronta a servir? A pila de um chinês. 9 cm.
Sim, também pode ser de um transmontano que compra um ferrari ou de um algarvio que vai muito ao ginásio. Mas para efeitos de humor vamos fiar-nos nas estatísticas que todos vocês, em momentos de alguma inseguranca, já consultaram, e por lá se vê que um dígito é coisa de chinês. Ou filipino.
Eu acho uma idiotice anular golos por menos do que uma pila de jerico. Estar a discutir lances de 3, 5 ou 9 centímetros, com o jogo parado, parece-me uma daquelas aberracões típicas dos desportos americanos que se enchem de ecrãs, estatísticas e detalhes ao segundo. Não faz sentido. Não há vantagem de um avancado perante um defesa quando o tema são centímetros. A regra é estúpida, ponto final.
Se ainda por cima o avancado for o Paulinho, acho que a tolerância deve ser alargada para um metro. Mesmo assim a probabilidade de falhar ainda é grande.
O Sporting tem uma equipa absolutamente banal e terrivelmente llimitada. Tentar, à segunda jornada, fazer teorias da conspiracão para atribuicão de títulos faz de nós, simples adeptos, ainda mais doentes que os gajos que andam lá dentro a fazer batota.
Essa é a realidade da bola lusa, não vale a pena discutir muito o tema. Temos duas equipas recordistas de penalties nos últimos 5 anos. Temos batota assumida e não condenada. Temos lances risíveis todas as semanas. Temos critérios diferentes em jogos diferentes. Temos equipas fraquíssimas que são eliminadas na Europa por outras cujos nomes nem sabemos dizer. Temos árbitros fracos (ou vendidos, não sei) que ficam de fora dos mundiais. Temos uma cultura de jogar pouco, aldrabar o mais possível e ganhar a todo o custo. A nossa liga proporciona espectáclos terriveis e, não por acaso, ninguém a quer transmitir em lado algum. Vemos aquela merda, cada um de nós, por que gosta do seu clube mas raramente vemos outro jogo qualquer que não tenha as nossas cores.
Porto e Sporting têm equipas más. Manifestamente más. O Benfica tem de longe, novamente, o melhor e mais equilibrado plantel. Dentro de portas isso não quer dizer absolutamente nada e, como já todos sabemos, metade dos campeonatos preparam-se nos bastidores. Por outro lado para o ano teremos apenas uma vaga direta na Liga dos Campeões (à custa dos Aroucas, Guimarães, Gil Vicente e demais clubes que vão às competicões europeias fazer um jogo) e portanto, para os clubes de topo falidos, a luta vai ser feroz para garantir aquele balão de oxigénio.
Agora…facam-me o favor de tomar um chá de camomila. A batota não comecou nos 9 cm do Paulinho e também não acabará ali.
É ver a próxima pisadela que não dará expulsão, o próximo mergulho que dará penalti ou os próximos 10 minutos de desconto que se convertem em “até marcar”.
Para os da minha cor que se enchem de teorias, a realidade é e deve continuar a ser simples. Somos mais e melhores. Muito melhores. É só o Roger não inventar e meter os melhores 11 em campo, sem medo de ter Neres, Rafa e Di Maria ao mesmo tempo. Os outros que se encolham e facam contas à vida.
Deixem lá as discussões das pilas de chinês para quem ganha os jogos cá fora ou precisa de esquemas para tudo. Nós só temos que jogar melhor que a concorrência e ponto final. Temos condicões para o fazer e obrigacão de correr mais.
Em condicões normais, não há pila que os safe. É só isso que importa. Venha de lá esse Estrela.
Ps – sempre que vejo a serra lembro-me do avião que ali ficou. Isso é que é um tema preocupante.
May be an image of cloud, mountain and horizon
1 comment
1 share
Like

Comment
Share
Duarte MB Moreira

Tenho de concordar.
  • Like