a culpa é dos pobres

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A culpa é dos pobres.
Pelo menos, a direita precisa que pareça ser.
Não é apenas um desvio de atenção.
É uma forma de estar neste novo mundo.
Hierárquico. Desigual. Brutal. Covarde.
Perante um problema, a direita não pergunta quem lucra com o problema.
Pergunta onde está o fraco.
Olha em volta, identifica o agressor e a vítima — e depois faz a escolha mais confortável.
Junta-se ao agressor.
E, em coro, começa a pontapear quem já está no chão.
O SNS degrada-se???
Não é o subfinanciamento crónico.
Não é a privatização encapotada que rouba médicos ao sistema público e os entrega aos negócios das doenças.
É o “excesso de gente pobre sem seguro” a usar o SNS.
A escola pública está em colapso???
Não é a falta de investimento.
Não é o abandono deliberado do Estado para dar lucro ao privado.
São os alunos pobres que “estragam as coisas”.
As creches não chegam???
Não é ausência de política pública para poupar impostos aos bilionários.
São as famílias pobres que “passam à frente”.
O preço da habitação disparou???
Não é porque a construção se concentrou no luxo.
Não é porque a reabilitação saiu do arrendamento acessível para alimentar o turismo e a especulação.
Não é porque a mão-de-obra foi sugada para projetos de alto retorno, enquanto se repete, com hipocrisia, que “faltam trabalhadores para construir casas” e, ao mesmo tempo, “acabem com a imigração”.
Não é porque o estado abandonou a habitação pública.
A culpa é óbviamente do pobre imigrante.
É OBSCENO.
Os lucros dos fundos imobiliários disparam. As vendas de carros de luxo sobem 11% num só ano. As rendas batem recordes. O património concentra-se cada vez mais no topo. Somos a “melhor economia do mundo”.
Mas quando as pessoas se perguntam porque a riqueza não chega a elas…a narrativa repete-se, intacta:
“o problema é quem veio trabalhar”
“o problema é o trabalhador que não aceita ser mais precário”
“o problema é que ainda não tens medo suficiente”
“o problema é o dono do Lamborghini pagar muitos impostos”.
Esta lógica não é nova.
Proteger o forte.
Culpar o fraco.
Esmagar quem não se pode defender.
É a lógica do cobarde.
Nunca enfrenta o poder económico.
Nunca enfrenta o capital concentrado.
Mas encontra sempre coragem para pontapear quem está abaixo.
Cuidado.
Porque quando uma sociedade normaliza pisar os fracos, um dia acorda e descobre que já não há fracos suficientes. E percebe, tarde demais, que é a classe média que está agora no chão.
Pior do que piorar, é que isto vai passar a ser o novo normal.

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