A angústia do soldado norte-americano no Iraque e no Afeganistão

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A angústia do soldado norte-americano no Iraque e no Afeganistão
Sadr City é um enorme bairro de Bagdade que começou a ser construído em 1959. Foi um projeto de investimento público que deu casa a um milhão de pessoas pobres, acabando assim com os terríveis bairros da lata que as enormes migrações das zonas rurais para a capital do Iraque fizeram pulular.
A primeira mulher que chegou a ministra do mundo árabe, Naziha al-Dulaimi, foi a grande impulsionadora desta construção que, inicialmente, ficou conhecida como Cidade da Revolução. (https://en.wikipedia.org/wiki/Sadr_City)
Foi sempre um local agitado onde as diversas evoluções políticas do Iraque mobilizaram ali milhares de pessoas em manifestações, protestos, combates. Chegou a ser um bastião do Partido Comunista do Iraque, que se opôs ao Partido Baathista que levaria Saddam Hussein ao poder.

Parte deste texto foi lido nesta emissão de Panfletos: https://www.rtp.pt/play/p8339/e564036/panfletos

Com a ditadura de Saddam Hussein, a Cidade da Revolução foi renomeada para Cidade de Saddam, mas quando Bagdad foi ocupada por tropas estrangeiras, em abril de 2003, o distrito mudou outra vez de nome, embora de forma não oficial, para Cidade de Sadr em homenagem ao falecido líder xiita Mohammad Mohammad Sadeq al-Sadr.
Na verdade a população da Cidade de Sadr nunca aceitou a ocupação estrangeira e isso criou condições para albergar resistentes aos invasores, sobretudo norte-americanos.
Nesse ano de 2003 o 2.º Esquadrão do Exercito dos Estados Unidos decidiu usar uma antiga fábrica de tabacos como posto de comando. Chamaram-lhe Camp Marlboro.
A partir daí os combates dentro da Cidade de Sadr nunca mais pararam, com o chamado Exército Mahdi, um grupo armado ligado à comunidade xiita iraquiana, a promover táticas de guerrilha e sucessivos atentados às tropas norte-americanas. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Ex%C3%A9rcito_Mahdi)
A brutalidade da resposta norte-americana só agravou a situação e em 2004 os confrontos dentro do bairro de Sadr custaram muitas vidas humanas, quer de soldados norte-americanos, quer de guerrilheiros do Exército Mahdi, quer de civis iraquianos.

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A canção Sadr City, a cidade de Sadr, que em 2015 Corb Lund gravou baseia-se numa conversa que o comediante, letrista e músico (nascido em Alberta, no Canadá) teve com um militar norte-americano que passou pelo inferno da cidade de Sadr no ano de 2004, logo a seguir à declaração de vitória que um ano antes George W. Bush foi fazer a Bagdad, num discurso que ficou conhecido como “Missão Cumprida” (na foto, em baixo, o presidente norte-americano posa com marinheiros do USS Abraham Lincoln, momentos antes de fazer esse discurso). (https://en.wikipedia.org/wiki/Mission_Accomplished_speech)
Numa entrevista à NPR, a rádio pública dos Estados Unidos, sobre o álbum Things That Can’t Be Undone, Corb Lund afirma o seguinte: “Sadr City é uma história verdadeira que um capitão do Exército dos EUA me contou. Também conversei com outros que estiveram envolvidos na mesma batalha. (…) A música não tem realmente uma mensagem política óbvia ou qualquer coisa do género; é apenas a história realmente angustiante de um tipo”. (https://www.npr.org/…/songs-we-love-corb-lund-sadr-city)
A história que a canção conta é esta: um capitão, em casa de licença, conta à família as atrocidades que viu na cidade de Sadr, as atrocidades cometidas sobre os seus companheiros de armas, as atrocidades que ele e os seus camaradas cometeram sobre o inimigo.
No refrão ele repete várias vezes: “Nunca deixes que eles me mandem de volta para Sadr / Nunca deixes que eles me mandem de volta para Sadr”. Mas na última estrofe da letra, este capitão diz à sua mulher que recebeu uma convocatória: “As minhas ordens chegaram, meu amor, e não é bonito / É o Afeganistão em vez do Iraque / Eles estão a mandar-me de volta”.
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