História da Porca que furou o Pico. AÇORES

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HISTÓRIA DA PORCA QUE FUROU O PICO.

Há muitos anos, na freguesia de Água de Pau, vivia, na Rua da Boavista, um casal com uma filha única, já grandinha. O homem da casa era um honrado camponês de poucas posses. Para arranjo da vida costumava ter uma porca de criação, um regalo de animal, mansa e boa amamentadeira dos marrõezinhos, que paria duas vezes por ano. Era um animal muito estimado por ser muito pachorrenta e também porque, com a venda dos leitões, a família fazia dinheiro para pagar a dívida da mercearia e outras pequenas contas em atraso.

Logo de manhã, a primeira coisa que o dono fazia era ir ao pé do pátio da porca ver como estava, coçá-la, dar-lhe umas palmadas no lombo em sinal de carinho. Por vezes levava-lhe uma tigela de milho em grão.

Aconteceu, certo dia, que ao aproximar-se do curral, não viu a porca lá dentro. Correu a avisar a mulher e começaram a lamentar-se . O burburinho foi grande e logo apareceram alguns vizinhos, que se decidiram a ir procurar o animal desaparecido.Correram ruas e canadas dos arredores. Bateram palmo a palmo a freguesia, mas nada encontraram. Foram depois para mais longe e a filha da casa, vendo os pais aflitos, também se pôs a procurar. Tanto que ela gostava dos marrõezinhos que a porca levou consigo!

Lembrou-se de subir o Pico e qual não foi o seu espanto, quando ao olhar para o caldeirão que ficava na cratera, viu lá em baixo a porca deitada e rodeada pelos marrõezinhos. Radiante de felicidade e não sabendo como tinha a porca ído ali parar, a rapariguinha gritou:

– “A porca furou o Pico! A porca furou o Pico!”

Trouxeram o animal para o pátio e tudo voltou à normalidade. Mas a frase pronunciada ingenuamente pela menina nunca mais foi esquecida e, ainda hoje, as pessoas que ali passam de carro ou camioneta, principalmente excursionistas, perguntam ironicamente : “Foi aqui que a porca furou o Pico?”. Os habitantes da ex-vila, sentindo-se apelidados de ingénuos ou parvalhões, reagem , soltando pragas e fazendo gestos de revolta e fúria.
Fonte: Fernando A. Pimentel