JOSÉ SOARES Moratória à consciência política

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Peixe do meu quintal

Moratória à consciência política

 

São despejados no ambiente global oito milhões de toneladas de plástico por ano, ou seja, um camião carregado de plástico a cada minuto.

Em tempo natalício, a melhor oferenda que devo dar aos meus netos, será o alerta já retardado, de que devo fazer algo, para que o futuro deles não esteja antecipadamente hipotecado.

Comecemos pelo nosso Mar, a que eu chamo o nosso Hidrotório. Temos em redor do Arquipélago das nossas nove Ilhas, um milhão de quilómetros quadrados de Mar. Nele são despejados milhões de quilos de lixo de toda a espécie. Na 2.ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que teve lugar em Lisboa em julho de 2022, várias nações insulares do Pacífico anunciaram a criação de uma aliança para uma moratória à mineração no mar profundo em águas internacionais. Países insulares como Fiji, Palau e Samoa, que já haviam declarado moratórias a este tipo de mineração nas suas águas, anunciaram uma aliança de países que apela a uma moratória global. No seguimento, mais de 30 organizações portuguesas lançaram uma petição que apelava ao primeiro-ministro António Costa que decretasse uma moratória à mineração no mar profundo que rodeia o país e que defendesse o mesmo para as águas internacionais. Em abril deste ano, o Parlamento dos Açores aprovou por unanimidade uma resolução em que recomendava ao Governo regional a implementação de uma moratória à atividade até 2050 e pedia o mesmo ao Governo da República. Apesar da falta de posicionamento do Governo sobre o tema, a Assembleia da República ecoou a vontade expressa por milhares de pessoas e aprovou o Projeto de Lei.

Cabe a todos e cada um de nós estarmos alerta para a nossa própria sobrevivência – o nosso Planeta.

Passemos a exigir aos partidos políticos, primariamente, que dos seus programas eleitorais conste um conjunto de ações concretas no que concerne às políticas de salvaguarda do ambiente e clima.

Temos de lhes passar essa moratória IMEDIATAMENTE.

Vamos entrar em ‘modo eleições’ no próximo ano de 2024 e, como sempre, vão surgir promessas e juras de virgens enxovalhadas da parte de todos os partidos políticos. A retórica mais uma vez vai entrar ativamente pelas nossas casas e é fundamental que não nos deixemos levar pela canção do ceguinho.

No próximo 25 d’abril de 2024, comemoramos 50 anos de regime livre, mas ainda não almejamos a democracia parlamentar há muito desejada.

O sistema eleitoral vigente, ainda respinga resquícios salazaristas de centralismos impregnados de teias d’aranha colonial. As eleições por listas partidárias, controladas e preenchidas pelos partidos políticos, representam uma elite que urge desracializar, sob pena de aumentar consideravelmente uma abstenção que só diminui os valores da democracia. Nota-se que os partidos estão confortáveis com a atual situação, por conveniência de tacho. Há que aplicar maior participação cívica.

Além de comemorações importantes do Cinquentenário D’abril, teremos várias eleições; Nos Açores, em Portugal e para o Parlamento europeu. O tema ambientalista tem sido pouco desenvolvido pelos aspirantes a políticos de todos os quadrantes. Transição energética, economia circular, meio ambiente, gestão e sustentabilidade ambiental e tantos outros problemas cuja sensibilidade é cada vez mais mortal para o nosso Planeta.

O nosso Oceano Atlântico está em risco e o Pacífico está já ameaçado. A ilha de lixo que flutua no Pacífico tem três vezes o tamanho da França e é o maior depósito de lixo oceânico do mundo com 1,8 triliões de pedaços de plástico flutuantes que matam, anualmente, milhares de animais marinhos entre a Califórnia e o Havai. Tendo como apelido sétimo continente, já se diz tudo… e não é para menos. A nossa saúde também é prejudicada por esta acumulação de lixo oceânico. O plástico microscópico ingerido pelos peixes e por outras espécies que fazem parte da nossa dieta passa ao nosso organismo pela cadeia alimentar. Um estudo publicado em 2018 pela organização Greenpeace e pela Universidade Nacional de Incheon (Coreia do Sul) concluiu que 90% das marcas de sal das amostras no âmbito mundial continham microplásticos.

 

jose.soares@peixedomeuquintal.com