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Saturação
Ao focar de forma intensa toda a atenção do mundo no grupo Hamas, radicalizando a mensagem com adjetivos como ‘terroristas’, Israel manobra a propaganda, desviando as atenções do verdadeiro problema que assalta a Terra Santa desde tempos imemoriais e trazendo até aos nossos dias – na história recente – uma ferida que reabriu em 1947/48.
Começa a ser politicamente incorreto (e até perigoso) dizer algumas verdades escondidas no armário da memória.
Foi (mais uma vez) reivindicada, de forma radical, mesmo bárbara, uma solução para a Palestina, Terra Santa para as três religiões do Livro, duas desejando espaço num pedaço de terra limitado.
Existe no entanto uma resolução das Nações Unidas de 1947, a Resolução 181, onde a ONU cria o Estado de Israel e o Estado da Palestina, dividindo as terras da região.
No entanto, o Ocidente adormeceu sobre as simpatias religiosas favorecendo o novo estado de Israel, assobiando para o lado todas as vezes que terras palestinas eram ocupadas por judeus, na sua constante necessidade de expansão, dado que a Diáspora judaica, após o final da 2ª guerra mundial, começou em massa a retornar à “sua nação bíblica”.
Ao longo de décadas vimos assistindo a vários confrontos entre árabes e judeus, pelas razões ocupacionais de ambos os lados.
Por seu lado, o grupo Hamas é um braço armado, ultrarradical, que opera isolado e sem o consenso dos seus pares palestinianos, sendo dos mais radicais nas suas ações militares.
Países como Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Austrália e as nações da União Europeia classificam o Hamas como uma organização terrorista. Mas outros, como o Brasil, China, Rússia, Turquia, Irão e Noruega não adotam essa classificação.
Estas nações só aceitam classificar uma organização como sendo terrorista se ela for considerada como tal pela Organização das Nações Unidas (ONU) e no caso do Hamas, a ONU nunca a considerou como grupo terrorista. Através de ações de coação e medo, o Hamas ganhou eleições em Gaza e obteve várias ajudas financeiras que se destinavam ao povo, mas que certamente assim não aconteceu.
Estes grupos são como os partidos políticos. Na Palestina há outros grupos como a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), a Jihad Islâmica Palestina, o Fatah, a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), a Frente Democrática para a Libertação da Palestina e a Organização Abu Nidal.
Em 2021, o Governo de Israel designou seis entidades da sociedade civil palestinas como “organizações terroristas”.
Para a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, esta falou sobre o caso em Genebra, afirmando que a decisão de Israel é um ataque aos “direitos humanos e às liberdades de associação, de opinião e de expressão. Segundo ela, as ONGs em questão têm uma das melhores reputações de direitos humanos nos territórios ocupados palestinos e trabalham em parceria com as Nações Unidas há décadas. Na avaliação da Alta Comissária, as decisões de Israel foram baseadas em “razões extremamente vagas, como alegações de que as ONGs fornecem assistência a palestinos que estão presos, organizam eventos para mulheres na Cisjordânia e promovem ações contra Israel na arena internacional”.
Bachelet explica que “defender direitos diante da ONU e de qualquer outra entidade internacional não é um ato de terrorismo, que defender os direitos das mulheres não é terrorismo e fornecer assistência jurídica a palestinos detidos também não é terrorismo”
A Alta Comissária reitera que “banir organizações não pode ser uma medida para reprimir ou negar o direito à liberdade de associação ou silenciar visões que não são populares”.
Bachelet destaca que essas ONGs, incluindo algumas que são parceiras do comissariado de Direitos Humanos da ONU, enfrentam consequências sérias devido à uma “decisão arbitrária, que impacta também fundadores e funcionários dessas entidades”.
A alta comissária lembra ainda que “o trabalho crucial prestado por essas organizações a milhares de palestinos corre o risco de ser interrompido ou de ser severamente restrito”.
Para um grupo de relatores independentes da ONU para os Direitos Humanos, a decisão de Israel é “um ataque frontal ao movimento palestino de direitos humanos” e “silenciar suas vozes não é o que uma nação democrática deveria fazer”.
A solução deste problema, já deveria ter sido produzida há muito. O desmazelo político e a hipocrisia diplomática durante décadas, terminam por atingir pontos de saturação dos reprimidos de ambas as partes. O atual primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, irá sair deste conflito com um fim político à vista, pois terá que esclarecer a falta de alerta atempado para a invasão do Hamas e pior ainda, se for provado que o Egito avisou Israel três dias antes de que algo estava a ser preparado pelo Hamas na faixa de Gaza.
Esperemos que tanto a União Europeia como a ONU e outros países no Ocidente sejam mais criteriosos no envio de milhões de euros de ajuda à Palestina. Sobretudo, a quem entregam tais quantias. A ajuda é necessária, mas não deve cair em mãos erradas.
jose.soares@peixedomeuquintal.com