Diário do Bernardo na Jornada Mundial da Juventude

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Diário do Bernardo na Jornada Mundial da Juventude
08h00 – Acordei cedo para preparar a mochila. Levei uma muda de crucifixos e duas bíblias, não vá o Diabo tecê-las. Esqueci-me do protector solar em casa, mas Deus é Pai e protege-me do melanoma.
Os meus pais arrendaram uma casa no centro de Lisboa para eu ficar esta semana para não estar a vir e ir do Estoril todos os dias até porque seria difícil encontrar lugar para estacionar o Porsche. Podia ter vindo a pé como os peregrinos, mas acabei de comprar umas novas Birkenstock e não queria gastar já a sola antes de ir para Formentera.
Sempre ouvi queixas sobre as rendas estarem muito altas, mas eles encontraram uma pechincha e só pagaram 2500€ para os cinco dias! Um T1. Sempre ouvi dizer que um T0 em Lisboa estava a 800€ e eles só pagaram 500€ por dia! Afinal as pessoas queixam-se, mas ainda se encontram bons negócios.
09h00 – A caminho do recinto reparei que já não se vêem sem-abrigos por Lisboa. Fiquei com pena, já que era uma excelente oportunidade para dar esmola e me sentir bem, mas acho óptimo que já não existam sem-abrigos e termos resolvido esse problema de vez. Mérito do Papa.
09h10 – Fui dos primeiros a chegar e vim a correr para ficar na frente e ver de perto o cabeça de cartaz. O palco é incrível! Não sei como é que as pessoas se podem queixar de ter custado apenas cinco milhões de euros. Foi dinheiro bem gasto dos contribuintes juntamente com os outros milhões. É que hospitais já temos muitos e ninguém usa porque toda a gente vai ao privado, agora palcos e festas destas só temos uma vez na vida. Voto Iniciativa Liberal, claro, mas neste caso o Estado esteve muito bem em assumir as despesas todas porque é importante para o país.
09h30- Sem qualquer razão, lembrei-me daquela bonita passagem da Bíblia (Filipenses 2:4) que diz: “Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros.”. A fé é linda e invade-nos quando menos esperamos!
10h00 – Vi algumas pessoas de cor no recinto. Fiquei emocionado por perceber que até vieram peregrinos de África. A fé é mesmo incrível, mesmo sem comida nem sapatos conseguiram chegar cá. Também era o mínimo que podiam fazer para agradecer os Descobrimentos em que fomos lá espalhar a palavra do Senhor e fazer-lhes chegar o progresso.
10h30 – Como não tomei o pequeno-almoço porque não tive tempo de passar na Padaria Portuguesa, fui à hostearia e comi duas hóstias sem glúten.
10h45 – Pausa para uma oração.
11h30 – Fomos confessar-nos. Confessei que fiquei triste por o meu pai não me ter oferecido um Ferrari quando fiz 18 anos e que fiz uma birra enorme e ele para me castigar ofereceu-me apenas um Porsche no ano seguinte. O padre compreendeu e disse que como eu já tinha sido castigado o suficiente apenas teria de rezar dois Avé Marias. Sabe bem tirar estas coisas de cima dos ombros.
12h30 – Pausa para almoçar. Comi um hambúrguer em hóstia do caco e uma água benta de côco. Foi apenas 50€. A única coisa má é que pedi fatura para meter na empresa do meu pai e eles ficaram confusos e perguntaram o que era isso de fatura.
13h30 – Falta uma passadeira para as pessoas andarem de joelhos. Como é que nos vamos sacrificar para Deus nos amar como Pai? Todos os eventos têm as suas falhas, mas a organização está de parabéns. Por falar em sacrificar, vou ali àquelas casas de banho como as que usavam os senhores que fizeram as obras na moradia dos meus pais.
14h00 – As filas para o WC não estavam muito grandes, excepto a das mulheres. Os homens têm algumas vantagens, mas fomos os primeiros a ser criados, por isso é normal que tenhamos prioridades. Felizmente aqui não há aqueles WCs de género neutro, caso contrário, além de irmos para o Inferno, tínhamos de esperar muito mais tempo por causa delas. Fez-me alguma confusão estas casas de banho sem grandes condições, mas é bom para darmos valor ao que temos e nos sentirmos mais próximos dos que menos têm.
Fiz apenas xixi, cocó faço em casa.
15h00 – Fui fazer uma prova de Sangues de Cristo. Muita qualidade e muitas castas boas, gostei especialmente do Quinta do Crucifixo de 2010. Encorpado e com umas boas notas de carvalho.
16h00 – Estive a cantar músicas com um grupo que tinha gente de todos os cantos do mundo. De Espanha, França, Brasil e até Abrantes. Estivemos a cantar clássicos da Igreja como aquela do “Guiado pela mão de Jesus eu vou” e “No rabo é pecado” e ainda aquela do “A culpa é das crianças que provocam os padres”.
17h00 – Uma boa tarde de convívio! Fiz amigos novos. O Martim e o António Maria são muito porreiros e amanhã combinámos jogar ao jogo da hóstia. Eles dizem que é como o jogo da bolacha só que com uma hóstia. Não conheço esse jogo, mas estou entusiasmado. É tão bom fazer novas amizades com os meus valores e princípios que nós!
18h00 – Eles foram fazer a pausa para a oração, mas eu optei por não ir porque ainda estou a fazer a digestão. Acendi uma vela da Natura para compensar.
19h00 – Chegou o Papa! Incrível a atmosfera. Adorei o outfit, de fazer inveja ao Harry Styles.
19h10 – O Papa Francisco fez um discurso lindíssimo sobre sermos todos iguais e que devemos amar e respeitar o próximo, desde que o próximo não seja homossexual ou uma mulher que abortou ou que esse próximo não queira eutanasiar-se para acabar com o seu sofrimento. Foi comovente.
19h20 – O Papa Francisco continuou o seu discurso falando de como devemos ser humildes e partilhar com os outros aquilo que temos. É incrível a empatia desta Papa para com os mais desfavorecidos. É comovente ver alguém que mesmo tendo roupas de alta costura e cadeiras de ouro consegue ainda manter os pés tão assentes na terra. Fiquei com pena de não ter trazido o Porsche para depois poder dar boleia a alguém e assim partilhar um pouco do que é meu com os outros. Ainda por cima o Papa perdoou as multas todas e já podia ter estacionado em qualquer lado! Que coração enorme tem ele de pagar do seu próprio ordenado todas as coimas dos jovens.
19h30 – Apesar de serem casos muito residuais e sem importância, o Papa Francisco teve a bondade de fazer três minutos de silêncio pelas (alegadas) vítimas de pedofilia dentro da Igreja. É mesmo um ser humano incrível. Três minutos inteiros!? Acho que estamos quites e não se fala mais no assunto. Aliás, se há coisa que a Igreja tem feito é silêncio em relação a estes (alegados) casos, por isso nem via necessidade de mais três minutos, mas vou sempre apoiar o Papa Francisco. São acusações sem fundamento, alguma vez a Igreja, se tivesse casos desses, iria promover um evento desta magnitude com tantos jovens? Seria o mesmo que o Carlos Cruz agora montar uma Kidzania. Era dar muito nas vistas.
20h00 – Estava a ir para casa e vi um cego a pedir esmola. Infelizmente só tinha notas e acabei por não dar nada, mas vou rezar por ele o que ainda será melhor. Lembrei-me daquela passagem em Lucas 20:1-8 “O pior cego é aquele que não quer ver”. Amém.
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