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A história económica dos Açores é uma história de ciclos, de monoculturas e dos problemas inerentes a um sistema económico essencialmente dependente de uma produção ou setor produtivo.
Aconteceu com o fim do ciclo do pastel na segunda metade do século XVII, voltaria a suceder com o trigo e com a laranja, que não resistiram à concorrência dos mercados externos e, no caso da laranja, às pragas que afetaram os laranjais. A economia açoriana era ténue, monocíclica e alimentava apenas a fortuna de meia dúzia de açorianos enquanto a maioria da população vivia de forma pobre e por vezes miserável. No final do século XIX e início do século XX surgem as primeiras fábricas: tabaco, chá, açúcar, álcool, cerveja e laticínios, mas a fragilidade produtiva e pouca diversificação mantiveram-se. E chegamos ao ciclo da vaca, à chamada “monocultura da vaca” que cedo se constituiu como um dos pilares da economia regional. Um setor importante para a economia, gerador de ganhos transversais em diferentes subsetores, mas ainda assim, uma “monocultura”. Os tempos mais recentes mostraram que o ciclo da “vaca” está a mudar e não fossem os apoios externos o futuro seria ainda mais difícil.
Os Açores necessitam de alargar a sua base produtiva e não continuar a insistir no erro de dependerem de um ou dois setores apenas. A liberalização do espaço aéreo em 2015 veio abrir as portas do turismo que se tornou num novo pilar económico, embora volátil, como é o setor à escala global. Mas há mais por onde explorar e mais por onde alargar a base da economia açoriana. Desde logo o Mar, não tanto na vertente das pescas, mas na exploração do mar profundo e dos subsolos marinhos, para além de toda a investigação científica que daí advenha. Cria-se riqueza, criam-se postos de trabalho diferenciado, fortalece-se a economia açoriana. E há o Espaço, tão longe, mas cada vez mais perto. A conferência internacional que decorreu esta semana em São Miguel apontou claramente o caminho do futuro e esse passa pela economia do Espaço – cujas taxas de crescimento previstas para os próximos anos rondam os 7%. Uma região isolada como a nossa tem que se reinventar e modernizar. O futuro passa pela aposta na Educação e na Ciência. Insistir no mesmo de sempre é sinal de nunca se ter compreendido a história dos ciclos económicos nos Açores.
Os erros também nos ajudam a progredir.
(Paulo Simões – Açoriano Oriental de 14/11/2021)
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