Arquivo mensal: Fevereiro 2020

O AEROPORTO DO ABSURDO

O AEROPORTO DO ABSURDO
Pedro Adão e Silva
Expresso, 29.02.2020
Há muitos motivos que explicam os atrasos do país. A inexistência de um novo aeroporto não é certamente um deles, mas o processo que tem envolvido a escolha da sua localização talvez dê contributos para compreender os nossos males endémicos.
Sou um de muitos portugueses que nada sabem sobre opções para a construção de um novo aeroporto, mas que está ciente de dois factos: a Portela está estrangulada (o ano passado serviu 30 milhões de passageiros, quando a sua capacidade é de 22 milhões) e a escolha de uma localização raia o absurdo. Trata-se em qualquer país de um processo complexo. Só que dificilmente se encontrará outro caso em que longos períodos de estabilidade nas opções dão lugar a alterações repentinas.
A Portela está estrangulada (o ano passado serviu 30 milhões de passageiros, quando a sua capacidade é de 22 milhões) e a escolha de uma localização raia o absurdo
A Portela foi inaugurada em 1942. Desde 1958, já lá vão seis décadas, que se pondera a sua relocalização. Logo em 1971, consideradas quatro opções na margem sul do Tejo (Fonte da Telha; Montijo; Porto Alto e Rio Frio), foi escolhida a de Rio Frio como complemento. Depois, com o choque petrolífero e a democracia, o projeto do novo aeroporto ficou suspenso. Quando regressou em 1982, numa prospeção não condicionada, foram consideradas 12 alternativas, e a solução apontada foi a Ota, agora a norte de Lisboa. Já em 1990, voltaram os estudos, desta feita, comparando Ota com Rio Frio.
Em 2005, com dezenas de estudos feitos, avança-se para a construção da Ota, a CIP insurge-se com a escolha e patrocina uma avaliação para encontrar soluções alternativas. Emergem, então, o Poceirão, Faias e Alcochete. Pelo caminho, cai a Ota e, em 2007, testa-se Alcochete como alternativa. O LNEC defende a opção e o Presidente da República empurra o Governo para abandonar a sua decisão. Chega a troika e a PàF troca Alcochete pelo Montijo, ou seja, a solução Portela +1, proposta em 2007 pela Associação Comercial do Porto. Passa-se do “novo aeroporto” para “aeroporto complementar”. Privatiza-se a ANA, que não pára de obter dividendos, e avança-se para o Montijo financiado pela Vinci — porque é um erro desmantelar a Portela e fundamental ter uma solução em tempo útil. Agora são duas autarquias e a Ordem dos Engenheiros que se opõem a uma escolha que já atravessou dois governos, de cores diferentes.
Confuso, não é? Mas resulta claro que a incapacidade de decidir é endémica e que temos um Estado fraco e que alimenta ilusões de autoridade, procedimentos pouco transparentes que todos podem influenciar e bloquear (autarquias, privados, sociedade civil e corporações profissionais), sem que daí resultem ganhos de racionalidade nas soluções. Não temos aeroporto, mas em alternativa, em cinco décadas, herdámos uma manta intrincada de tensões sociais e políticas que nos paralisam. Alguma coisa não correu bem em todo este processo. Temo que não seja específico da construção de um novo aeroporto.

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  • Joaquim Nogueira de Almeida Quando planeamento estratégico de infraestruturas tem como os principais decisores, políticos que nunca foram gestores, engenheiros que nunca dirigiram ou projectaram uma obra, advogados que defendem Deus é o diabo, será sempre uma má decisão do ponto de vista objectiva.
  • José Alexandre Andrade Alcochete substitui a Portela. Montijo, não. Quem insiste em manter a Portela… e porquê? Depois destas questõe, vamos à questão ambiental: Alverca e Montijo… desastrosas opções. Alcochete e Ota, menos mal. Alcochete, com estudos feitos é a opção menos má, em termos ambientais. Que um novo aeroporto é preciso, parece ninguém ter dúvidas.
  • Andre Quental Não seria melhor ampliar o Sá Carneiro e passar o Porto a ter o principal aeroporto do País? O dinheirão que já se esbanjou em estudos para nada. Seria um bom exemplo para descentralizar o país. O maior aeroporto da Alemanha é em Frankfurt, não em Berlim.
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  • Rui Serra E Moura Resta dizer que no Montijo funciona há mais de 60 anos um aeroporto para aviões do tamanho dos C-130, e que muitos dias não tem assim tão pouco tráfego quanto isso.
  • Maria Brito O aeroporto de Beja está construido e às moscas! É só melhorar o acesso a Lisboa e ao Algarve…
  • Graça Peres Como a maioria já percebeu a opção atual é, com toda a certeza, a mais idiota de todas.
    – sobrevoa zonas de grande densidade populacional;
    – uma pista demasiado curta;See more
    1 reply
  • Joao Quartin Costa A opção Montijo foi cozinhada pelo PSD-cds. Então muitos que hoje falam abertamente contra a opção Montijo diziam que a opção Montijo era a melhor. Agora não querem. E o que acontece? Os cães ladram e a caravana passa. A caravana do progresso. Irremediavelmente para trás na questão da alta-velocidade, agora na questão do aeroporto continuamos na cepa torta. Sou funcionário do aeroporto e vejo com os meus olhos como a deterioração do espaço impede a realização de um bom serviço. è como morar uma família de 7 pessoas num T! .A solução mais acertada seria um aeroporto construído de raiz. Claro que Beja pode ser bem mais aproveitado para tirar algum tráfego extra á Portela, nomeadamente com as low-cost, e com ligações ferroviárias directas entre Beja e Lisboa e entre Beja e o Algarve. Precisamos de uma solução como do pão para a boca. E depois a culpa ´s dos governos e da sua incapacidade? Ou das agências que antes viabilizaram Montijo e agora dizem que estão contra? A direita tem que mostrar a sua responsabilidade participando activamente numa solução, já que provocaram esta crise, e não aproveitarem o que fizeram para atacar o governo, que apenas seguiu o que já tinha sido definido anteriormente.
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China deixa sair milhares de infetados recuperaods

Chinese hospitals discharge 36,117 recovered patients of coronavirus infection.

A total of 36,117 patients infected with the novel coronavirus had been discharged from hospital after recovery by the end of Thursday, Chinese health authority said Friday.

Thursday saw 3,622 people walk out of hospital after recovery, the National Health Commission said in its daily report.

By the end of Thursday, a total of 78,824 confirmed cases of novel coronavirus infection had been reported in 31 provincial-level regions on Chinese mainland, and 2,788 people had died of the disease.

http://www.xinhuanet.com/english/2020-02/28/c_138826320.htm

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Isto é mesmo água sra. Diretora Geral da Saúde????

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homenagem contra as vítimas do fascismo em ponta delgada

Um grupo de cidadãos, liderado por José Francisco Ventura, homenageou as vítimas do fascismo com uma placa memorial no Largo Vasco Bensaude, esta sexta-feira em Ponta Delgada.

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Comments
  • José Francisco Nunes Ventura Caro Amigo, agradeço a sua referência ao evento de ontem e, à sua presença no mesmo em representação do Presidente da Câmara de Ponta Delgada.
  • Eleonora Marino Duarte Parabéns pela comovente iniciativa! Num mundo a beira da ameaça fascista, haver quem preste homenagem aos que foram vítimas de tal absurdo é de louvar e aplaudir!
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