100 anos de eugénio de andrade

100 Anos de Eugénio de Andrade: lembras-te, Portugal?
Percebo que não seja futebol, mas que raio…
As Palavras Interditas
Os Navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
Partem no vento, regressam nos rios.
Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.
Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram-se nas esquinas.
Amo-te… E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos noturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
Eugénio de Andrade in As Palavras Interditas
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  • Fabíola Jael Cardoso

    Adoro. No segundo semestre, vou dá-lo a conhecer aos meus alunos.
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    • 3 h
  • Joao Silva

    Foi lateral-direito do Santa Clara?
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    • 3 h
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    Vera Santos

    Como eu admiro esse génio, meu conterrâneo! Fico feliz que a poesia de Andrade continue viva! Bjs