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AÇORES E INDEPENDÊNCIA, CRÓNICA 186 – 22 OUT.º 2017
Imaginemos por um instante que os membros e simpatizantes da FLA – ACA eram um movimento generalizado, de largas camadas da sociedade, abarcando gente de todas as idades, em todas as ilhas, como em tempos idos da História recente já o foram.
Imaginemos que se fartaram da exploração colonial que os poderes de Lisboa e seus representantes na colónia há séculos exercem sobre os locais.
Imaginemos que o atual modelo de autonomia controlada, centralizada em Lisboa, constantemente torpedeada, ultrapassada e ignorada pelos “superiores interesses da Nação” estava – de facto – esgotado.
Imaginemos que tínhamos uma população culta e letrada, em vez da pequena elite dominante agarrada a pequenas mordomias como é o caso, com a vasta maioria mais interessada em manter privilégios de subsídios, em vez de trabalho, vítima da conspiração consumista que a manieta.
Imaginemos que a deriva europeia e a rápida islamização europeia estavam mais adiantadas e que a solidariedade para com o arquipélago se mantinha ao nível da esmola, enquanto o povo português (também ignorante e iletrado, mesmo com canudos e sendo doutores) continuava a pensar que devíamos largar os Açores e os açorianos, uns chulos que só sugam as riquezas de Portugal.
Imaginado este cenário se tivéssemos um líder – mais ou menos populista – capaz de catapultar a turbamulta (a malta como o outro lhe chamava) e fazia um referendo, vocês acreditam por um só instante que não éramos calados pela força bruta da repressão militar? Imaginado isto, voltemos à realidade.
Temos uma população apática e abúlica, uns tantos saudosistas e outros mais novos, sonhadores, mas a menos que haja uma revolução de mentes cataclísmica, seremos uma pequena elite libertária, sem representação nem força popular, uma franja da sociedade que nem chega a ser incómoda para o poder instituído. O povo açoriano não reúne as condições de se emancipar enquanto continuar pobre, iletrado, subsidiodependente, conformado, desapegado de uma consciência cívica (a consciência nacional açoriana), a quem o fogacho independentista de alguns intelectuais, escritores e outros, pouco e nada diz. Infelizmente é isto que temos e não mudará nos meus dias, embora se a Terra ainda existir, eu acredite piamente que, em futuro afastado e longínquo, nos sublevaremos e libertaremos do jugo colonial de Lisboa (quando o Belenenses tornar a ser campeão de futebol, por exemplo). Até lá continuemos a fazer o que não temos feito, educar as pessoas, alertá-las para esta escravatura silenciosa que as amolece e adormece, repetindo ciclos ancestrais de feudalismo encapotado, anestesiada pelas riquezas que o turismo vai trazendo sem se lembrar que basta a Ryanair ir à falência e o turismo morre….