vamos achatar a curva?

COMO SOMOS OS MELHORES NA VACINACÃO, VAMOS FECHAR UM BOCADINHO PARA ACHATAR A CURVA
Não sei se tiveram hipótese de ver/ouvir a apresentacão pública que se seguiu ao último conselho de ministros. Eu não vi mas a minha irmã, atenta, fez o favor de me enviar o documento.
É um belíssimo documento, devo dizer. Especialmente as 10 primeiras páginas com o título “Gracas ao sucesso da vacinacão…”, seguido de algumas variantes que explicam, graficamente, como passámos a ser os maiores da Europa em praticamente tudo no combate ao Covid.
O diabo está na página 11 e nas que se seguem. É que apesar de todo o sucesso na vacinacão, do camuflado do vice-almirante e de menos de 5% das mortes diárias em Portugal serem atribuidas ao Covid, mesmo assim, vamos voltar a complicar a coisa até Marco. Pelo menos.
E mantemos a receita porque, lá está, em equipa que ganha não se mexe. Tudo tranquilo com o sector produtivo, transportes públicos e por aí fora. Aí não se mexe porque, como o nome do sector indica, há que produzir e gerar capital para quem já o tem.
Com as escolas nem tanto. Toca a atrasar o regresso e não tarda estão os putos em casa novamente. Restaurantes só com certificado ou pcr, espectáculos culturais também, entrada no país com teste, certificado, cruz de cristo e tatuagem de Angola 74.
Permitam-me algum egoísmo na análise e deixem-me ver a coisa na perspectiva do emigrante. Aliás, é dificil ter qualquer outra neste momento.
Por mais variantes que aparecam, reforcos ou novas vacinas, o covid continua apenas a bater forte nas tascas, no teatro e nos hotéis. É isso, não é?
Numa vertente um pouco mais prática, questiono-me, um casal pode ir trabalhar a semana toda sem apresentar certificado ou teste mas, se for ver um concerto ao sábado com os filhos menores sem certificado, tem que pagar um teste que custa mais do que o bilhete para o espectáculo.
Qual é a ideia? Arrasar o que falta da cultura e deixá-los só com os 0,2% do orcamento? Garantir que passamos o inverno todo em casa e esperar pela libertacão que virá finalmente com a vacina de 2022? A tal que nos torna imunes? Rebentar com os restaurantes que ainda não faliram?
E já agora, quando o período de validade do certificado terminar e a pessoa ainda não tiver a terceira dose, o que acontece? Dá-se um voucher de acesso condicionado aos restaurantes? Pode comer mas só de escafandro? Vai-se manter este regime de descriminacão até a vacina (a tal da imunidade) passar a obrigatória?
Continua-se a navegar na caravela do Antunes a cada gráfico avermelhado do Rt. E faz-se EXACTAMENTE o mesmo desde Abril de 2020. Encerrar o lazer, dificultar o regresso dos emigrantes, tirar os miudos da escola e manter o grosso da populacão activa no quotidiano productivo. E de variante em variante, vacina em vacina, os tempos mudam, o conhecimento também e a estratégia segue. Estavelmente errada.
Pessoalmente é a segunda vez, em dois anos, que fico entalado com as restricões impostas. Não só a entrada é mais difícil como a estadia, para quem tem uma crianca de 12 anos sem certificado, se torna de uma logística, custo e incómodo insuportáveis.
Tenho ainda uma preocupacão adicional que ultrapassa a fronteira portuguesa. Se a Europa seguir o exemplo português e se preparar para encerrar, o consumo baixará e, com ele, postos de trabalho desaparecerão novamente. Será uma visão particular, assumo, mas para quem “sobreviveu” a um despedimento colectivo de 1300 pessoas há pouco mais de um ano, não sonho com nova aventura. É que para quem não tem o emprego dependente do endividamento das contas públicas, não há mesmo outra hipótese senão continuar.
E no fim de tudo isto estão os números. Há alguém no infarmed a olhar para os números que interessam ou ficam todos ali a espumar no Rt? Morrem em média 300 pessoas por dia em Portugal, 10 ou 15 por Covid. Sim, também fiquei espantado fui consultar o site do mnistério da saúde. Pensei que tirando o pessoal que patina com covid, todos os outros tivessem atingido a imortalidade.
O país (ainda tenho esperanca que a Europa não entre nisto) pára por causa de um virus endémico (não há “libertacão”, já todos ouvimos isto dos especialistas) que é responsável por 3 ou 4% das mortes diárias. E pelo meio repete-se a receita de atirar mais uns milhares para a pobreza e de rebentar a sanidade mental de outros tantos.
Juro que não consigo perceber como é que pode ser tão difícil ir a casa. E pior, nem percebo porque razão tem que ser tão complicado. Para quem espera meses a fio para poder ver familiares e amigos, a conversa de “são só mais 15 dias” atingiu o ponto de não retorno.
Mantenham o distanciamento e evitem molhadas mas, pela vossa saúde, deixem-nos ir a casa. Foda-se.
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  • Luisa Capela

    Ocorreu-me agora que lhes falta implementar o “teledesemprego”…!