Views: 0
![Image may contain: Urbano Bettencourt, sitting](https://scontent.fpdl1-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/124475282_4157635697596421_3324462762041450463_n.jpg?_nc_cat=109&ccb=2&_nc_sid=730e14&_nc_eui2=AeFlylv08ChXRllAq61s7rNxq9Y6Tox4R5qr1jpOjHhHmqv2Xpk361ujNgivEr1HRrA&_nc_ohc=_RxWfHFzZsQAX-rInj0&_nc_ht=scontent.fpdl1-1.fna&oh=4472435ba9308dcc34b5012ab103cbe1&oe=5FD076E6)
Baía do Canto
Aqui se chega por entre as vinhas ou,
da Terra Alta vindo, através das faias
e das silvas.
As figueiras
despenham-se para a costa, o volume das rochas
adensando: pelas fendas brotam e mergulham
as raizes no incerto corpo da ilha,
à sua sombra os fetos definham
e os funchos, qualquer perdida amostra
de amaldiçoado inventário botânico – dizia
meu avô que das figueiras colhesse
o fruto, nunca a sombra. Morreu dependurado numa
por março dentro, quando as primeiras folhas
mal despontavam ainda.
As figueiras, pois. Assombradas
no longo rol dos enforcados seculares,
sob a rósea névoa roxa das pedras erguida
e nos poros se infiltrando até ao mais remoto
pulmão das casas.
Urbano Bettencourt
[Fotografia: Jornal Açores]
—
Gaëlle Istanbul
Ilha das Flores, Açores, 2020