Views: 4
477 DE DEZ ANOS ANTES DO SNS (1969) A 2022 (8.8.2022)
Em maio 1969 escrevi:
Quando se prepara um estudo a propor a adoção de medidas reguladoras da saúde, normalmente esse origina outro para uma comissão estudar o dito.
Depois, vem um especialista, sempre estrangeiro, de fora. Vem, vê e escreve o mesmo que estava escrito, por outras palavras.
Assim, temos o estudo estudado para a comissão estudar.
A comissão estuda o estudo do especialista que estudou o primeiro estudo.
Com um pouco de sorte propõe, sugere e até dispensa novos estudos.
O governo acha sempre que é caro, mas até é capaz de aprovar as propostas, que talvez até venham a ser publicadas.
Depois, como as pessoas sem saúde normalmente não protestam, depois de mortas e enterradas tudo se vai esquecendo.
A saúde está primeiro
Venha, pois, o dinheiro e sem saúde e sem trabalho
Sem leis ou normas
Vamos cantando e rindo
Com a saúde que temos
Morra agora e pague depois.
Quarenta e três anos depois neste verão calamitoso que os noticiários nos impingem, a lavagem ao cérebro contínua, fecham maternidades, enfermeiros pedem escusa, médicos demitem-se, o bastonário faz as chantagens do costume, o numerus clausus das universidades imutável para alunos com mais de 19 valores, novos cursos de medicina não se abrem nem se formam novos médicos, que o lóbi não deixa.
A privada clama por mais parcerias e mais apoios para fazer o que o SNS não faz, não tem meios, continua subdotado, ano após ano, para se entregar de bandeja, ou mão beijada, aos privados.
Os centros de saúde inoperantes acolhem pessoas pelas quatro da manhã para marcarem uma consulta para depois do natal e a gente vai morrendo sem protestar com a saúde que não há e os cuidados que o SNS dava mas já não dá. Neste neoliberalismo que governos do PSD e do PS nos impingem há anos, não interessa perpetuar a maravilhosa criação do Dr Arnaut, o SNS, um dos melhores do mundo, mesmo sem orçamentos capazes.
Afinal a minha crónica de 1969 continua atual…